Há três semanas, quando morreu o cineasta David Lynch, muito foi escrito sobre o legado da esquisitice da sua obra, fruto de uma eterna batalha contra o esquema de Hollywood. Quem embarcava no universo de suas criações se sentia presenteado cada vez que uma novidade surgia no horizonte.

Pois tudo isso se aplica ao filme do francês Jacques Audiard, “Emilia Pérez”, um musical dramático sobre uma chefe de cartel trans que abandona sua antiga vida para recomeçar do zero.

Mas será essa uma história de redenção ou uma fábula sobre uma tragédia inevitável? O suspense está em cada segundo do longa. É evidente que todos os personagens desta história estão envolvidos em um mundo de grandes riscos e recompensas.

O estilo idealizado por Audiard para conduzir a trama é completamente extravagante. Não há o mínimo interesse em ser realista, apesar de tudo ser tratado de maneira sincera e desarmada. Há momentos engraçados, mas nenhuma parte da jornada é jamais tratada como piada, e isso torna tudo muito mais profundo e interessante.

E é um musical. E musical é que nem coentro —tem quem não suporte nem jamais suportará. Mas, para quem o estilo não é uma ofensa pessoal, mais uma boa notícia —as canções compostas pela cantora pop francesa Camille, com trilha sonora de Clément Ducol, são lindas, cheias de energia e acompanhadas de coreografias bem realizadas e filmadas.

A grande revelação de “Emilia Perez” é o trabalho da atriz Zoe Saldaña, tão marcada por fazer parte do elenco de blockbusters que só escondem seu enorme talento por trás de tantos efeitos especiais. Vê-la defendendo uma personagem tão bem construída como a advogada Rita, cheia de nuances, e que, além de tudo, canta e dança lindamente, é uma das adoráveis surpresas deste filme.

Selena Gomez, a estrela pop com mais seguidores nas redes sociais e uma das protagonistas da adorável série “Only Murders in the Building”, tem aqui um papel pequeno, mas fundamental, e com pelo menos uma cena de música e dança inesquecível. Ela interpreta Jessi, a mulher e mãe dos filhos de Manitas, o chefe de um cartel mexicano que decide viver o resto de sua vida como uma mulher, Emilia Pérez.

Interpretada com maestria pela atriz espanhola Karla Sofía Gascón, fria, implacável e ameaçadora nas cenas pré-transição, renasce como uma mulher sofisticada e gentil depois dos vários procedimentos de confirmação de gênero. Mas Emilia foi uma pessoa extremamente perigosa e poderosa em sua vida anterior e viveu cercada por gente igualmente perigosa.

O risco de que tudo possa dar muito errado está sempre presente, principalmente nas cenas em que parece que tudo deu certo. Emilia é o retrato —até exagerado— do bem que pode fazer uma transição de gênero.

O simples ato dela se tornar quem sempre foi é uma vitória a ser celebrada, mas isso também a faz enxergar de maneira impiedosa os erros do passado e as injustiças do mundo ao seu redor. Viver uma vida de tanta violência não é algo de que se possa simplesmente se afastar sem consequências.

Mas o que importa aqui é dizer que este é um filme que prende completamente a atenção do espectador desde os momentos iniciais, antes mesmo da grande revelação dessa história louca. Desde a primeira canção, “Emilia Pérez” se mostra como uma obra de arte capaz de encantar e surpreender, que caminha com convicção na tênue linha entre o audacioso e o absurdo. E quantas vezes na história cinematográfica de cada um de nós se vive uma experiência assim?

Não se trata aqui de buscar verossimilhança, muito menos entrar na torcida por um ou outro prêmio. Embarcar na viagem de “Emilia Pérez” não quer dizer nada a respeito desse clima de Fla-Flu que se estabeleceu na corrida do Oscar.

Esqueça tudo isso por duas horas, que seja, e mergulhe neste filme, porque, até onde a vista alcança, não há nada nem parecido com ele. E tudo o que está acontecendo ao redor desta história, todas as polêmicas, todas as confusões, é só uma capa de gordura que esconde o verdadeiro tesouro que é esta obra-prima.

Aga Khan, imã do Nizrite Ismaelis, um ramo do Islã xiita e filantrópico com fortuna colossal, morreu na terça -feira, 4 de fevereiro, em Lisboa, anunciou sua fundação. O homem tinha 88 anos.

“Sua Alteza Prince Karim Al-Hussaini, Aga Khan IV, Quarenta e décimo nono imã hereditário de muçulmanos xiitas ismaelianos e descendente direto do Profeta Muhammad (…) morreu pacificamente (…)cercado por sua família ”escreveu a Rede de Desenvolvimento Aga Khan (AKDN) na rede social X.

O nome de seu sucessor será anunciado em Lisboa, uma vez que a família, os líderes da comunidade ismaeliana e os executores dos últimos desejos do falecido se reuniram lá, explicaram o Nizârite Ismaelis em um site especialmente dedicado à transição.

Ele sucede ao seu avô com menos de 21 anos

Nascido em 13 de dezembro de 1936 em Genebra, Karim al-Hussaini havia sido introduzido, em 1957, 49^e Imam do Nizrite Ismaelis, o segundo grupo muçulmano xiita mais importante digitalmente com entreze e quinze milhões de membros se espalharam pelo mundo, em mais de vinte e cinco países, especialmente no centro e no sul da Ásia, na África e no Médio.

Menores de 21 anos, ele sucedeu seu avô Mahomed Shah. Seu pai, Ali, foi demitido da sucessão após seu tumultuado casamento com a atriz americana Rita Hayworth. O príncipe Karim foi responsável por desenvolver o já considerável trabalho de seu avô que criou hospitais, moradias ou cooperativas bancárias nos países em desenvolvimento.

O herdeiro investiu grande parte da imensa fortuna familiar, cuja quantidade não é conhecida, nos países mais pobres, combinando filantropia e senso de negócios. Para isso, fundou a AKDN, uma fundação gigantesca que reivindica 96.000 funcionários em todo o mundo e finanças de programas de desenvolvimento, particularmente na Ásia e na África.

Desde 1984, essa rede inclui uma filial dedicada ao desenvolvimento econômico, o Aga Khan Fund for Economic Development (AKFED), que possui 36.000 funcionários, 90 empresas e gera receitas anuais de US $ 4,5 bilhões (4,3 bilhões sobre euros).

Um bilionário com iates e jatos, Aga Khan também criou em 1977 o prêmio Aga Khan, da Arquitetura, recompensando os inovadores projetos arquitetônicos das empresas muçulmanas.

Familiarizada com os campos de corrida, ele perpetuou a tradição familiar de criação de puro -sangue em suas oito fazendas de Stud na França e na Irlanda e contribuiu para a vasta reforma da propriedade Chantilly, ao norte de Paris.

“Símbolo de paz, tolerância e compaixão”

O secretário -geral da ONU, Antonio Guterres, disse que estava “Profundamente triste” pelas notícias da morte. “Era um símbolo de paz, tolerância e compaixão em nosso mundo problemático”ele escreveu no X.

“Aga Khan dedicou sua vida a promover a paz e a prosperidade para todos. Em todos os continentes e com todas as culturas, ele trabalhou para enfrentar os maiores desafios humanitários do mundo: pobreza, educação, desigualdades de gênero ”também reagiu a X, o primeiro -ministro canadense, Justin Trudeau. Aga Khan tinha nacionalidades britânicas e portuguesas, bem como a cidadania honorária canadense, uma distinção raramente concedida.

A paz paquistanesa Nobel Malala Yousafzai expressa em x “Condolências mais sinceras à família e a parentes de sua Alteza Prince Karim Aga Khan”. “Sua herança será perpetuada através do incrível trabalho que ele levou a favor da educação, saúde e desenvolvimento no mundo”ela cumprimentou.

Aga Khan teve quatro filhos: Zahra, Rahim e Hussain, nascidos de seu primeiro casamento com a modelo britânica Sally Crocker-Poole, depois Aly, nascida em 2000 de uma segunda união com o advogado alemão Gabriele Zu Leingingn, cujo se divorciou em 2004.

Antes de sua morte, Aga Khan havia nomeado seu sucessor em seus últimos desejos, de acordo com a prática xiita de “Nass” (transferência de imamã de um imã para outro através de uma designação explícita, da mesma maneira que o profeta Muhammad foi designado por Deus, de acordo com a tradição). O anúncio do nome deste sucessor, os 50^e Imã, ocorrerá antes do funeral de Aga Khan, que acontecerá “O mais breve possível” Em Lisboa, de acordo com Nizârites Ismaelis.