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Neto de comandante de Auschwitz não sabia quem era seu avô – 10/11/2024 – Mundo

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Neto de comandante de Auschwitz não sabia quem era seu avô - 10/11/2024 - Mundo

Kai estava na sexta série quando um professor mencionou um nome que chamou sua atenção na aula de história: Rudolf Höss, o homem responsável por supervisionar o maior campo de concentração e extermínio da Segunda Guerra Mundial, tinha o mesmo sobrenome dele.

“Obviamente, comecei a prestar atenção, porque me soava familiar”, conta Kai Höss ao programa de rádio Outlook, da BBC. “Percebi que era o nosso sobrenome, com a mesma grafia da minha certidão de nascimento.”

Mas o que o jovem não imaginava era que sua perspicácia o levaria a descobrir um segredo de família obscuro:

“‘Sim’, minha mãe me disse, ‘ele é seu avô’.”

De acordo com o depoimento do próprio Rudolf Höss durante os históricos julgamentos de Nuremberg —que pôs grande parte do comando nazista no banco dos réus por suas ações durante o Holocausto—, mais de 1,13 milhão de pessoas, a maioria delas judeus europeus, foram assassinadas no campo de Auschwitz.

E Kai acabara de descobrir que era descendente direto do principal arquiteto do massacre.

“Foi chocante, inacreditável. Quem quer ter uma pessoa assim como avô?”

Hoje, Kai Höss —um ambicioso gerente de hotéis que viajou pelo mundo e acabou virando pastor evangélico na Alemanha, sua terra natal— relembra como esta revelação na adolescência mudou sua vida, e fala sobre o momento em que finalmente conseguiu confrontar o passado junto ao pai.

Uma infância normal

Kai conta que teve uma infância tranquila, brincando no enorme quintal da casa de seus pais, e que nunca houve qualquer menção ao fascismo ou à ideologia nazista na sua casa.

“Na verdade, meu pai sempre foi muito gentil, uma pessoa muito calada. Você tinha que se esforçar muito para arrancar um sorriso ou um ‘sim’ ou ‘não’ dele.”

Ele fazia uma boa dupla com a mãe dele, que ele descreveu como “bastante empreendedora, sempre mantendo boas impressões no vilarejo, um lugar pequeno onde todo mundo te conhece”.

Kai diz que foi justamente por causa da natureza calada do pai, Hans Jürgen Höss, que ele nunca soube sobre seu passado, nem sobre sua infância vivendo perto de um campo de extermínio.

“Acho que só uma vez ouvi ele dizer que se lembrava de algo sobre quando o tio Heiney, ou seja, Heinrich Himmler —o comandante das forças nazistas— tinha chegado de Berlim com brinquedos para ele no Natal.”

“Não sei o quanto ele se lembrava, quer dizer, [meu pai] tinha seis ou sete anos quando tudo isso aconteceu.”

As poucas menções que Hans havia feito a Kai sobre seu avô remetiam a um pai presente e amoroso: “Meu pai teve boas experiências com o pai dele; por exemplo, eles andavam de barco no rio, e era isso que ele compartilhava com a gente.”

Foi por isso que Kai nunca imaginou o que iria encontrar quando começou a ler o exemplar do livro de memórias do avô que sua mãe guardava em casa.

Memórias de Auschwitz

Enquanto aguardava a execução —ele seria enforcado próximo ao crematório do campo de Auschwitz 1 em abril de 1947—, Rudolf Höss escreveu sua autobiografia.

Nas suas memórias, Höss descreveu com um estilo quase metódico os horrores pelos quais foi responsável durante os quatro anos em que esteve em Auschwitz: “Discutimos as formas e métodos de extermínio. Isso só poderia ser feito por meio de gás, já que teria sido absolutamente impossível se livrar do grande número esperado de pessoas atirando nelas, e teria sido um fardo pesado para os homens da SS (forças de segurança nazistas) encarregados de fazer isso, especialmente devido à presença de mulheres e crianças entre as vítimas.”

Depois que Kai Höss soube que era neto do comandante de Auschwitz, ele encontrou a cópia das memórias do avô que sua mãe havia guardado durante anos.

“Acho que ela queria saber. O fato é que nem mesmo ela sabia. Eles se conheceram, me tiveram, e meu pai nunca disse a ela quem ele era, até que uma tia leu um artigo sobre ele em uma revista e perguntou à minha mãe: ‘Este não é o seu marido?'”

Kai diz que, embora seu pai tenha contado a verdade à sua mãe, ele nunca discutiu abertamente o que considerava ser algo vergonhoso. Assim, quando Kai encontrou o livro, sua mãe o incentivou a lê-lo.

“Fiquei com o coração partido ao ler suas declarações e as coisas que ele diz de forma tão fria e clínica”, recorda.

“Quando as pessoas fazem coisas, elas tendem a justificá-las. Você pode justificar praticamente qualquer coisa, certo? E ele justificou.”

Um turbilhão de emoções tomou conta de Kai. “Vergonha, culpa, incredulidade. Foi difícil para mim processar que sou parente de alguém que fez algo assim, e em uma época que já é difícil por si só, na adolescência.”

O neto do comandante

Como se não bastasse esta turbulência na vida do jovem Kai, logo após saber a verdade sobre sua família, seus pais decidiram se divorciar.

“Foi um divórcio muito complicado”, lembra Kai.

“Houve ordens de restrição e tudo o mais. E nós, como crianças, estávamos no meio dessa situação. Se não fosse isso, talvez tivéssemos conversado sobre o assunto, mas a tensão constante entre meus pais ofuscava tudo.”

Esse passado obscuro, somado a uma carreira promissora no setor hoteleiro, manteve Kai longe da Alemanha por mais de 30 anos.

Ele se casou, viajou pelo mundo e morou alguns anos nos Estados Unidos, evitando sempre voltar para o lar que não existia mais.

“Isso teve a ver com o divórcio dos meus pais, e com a falta de um lar. Muitas pontes foram queimadas, e meu relacionamento com a minha mãe era muito difícil. Não queria levar minha família para essa dinâmica familiar desestruturada.”

Durante esses 30 anos, Kai nunca falou com o pai.

“Depois do divórcio, meu pai simplesmente desapareceu. O motivo é que ele traiu minha mãe, ele tinha outra pessoa. Ele mudou de nome, e só quase 30 anos depois, quando voltamos para a Alemanha, que o telefone tocou.”

“Não reconheci o número. Perguntei quem era, e ele disse: ‘Seu pai’.”

Kai afirma que, por mais difícil que tenha sido saber o que havia acontecido durante todo esse tempo, ouvir a voz do pai novamente era uma oportunidade que ele queria aproveitar.

“Quando ele me ligou, eu queria ter ficado irritado com esse homem. Queria dizer a ele: ‘Como você pode nos amar se passou 30 anos sem se comunicar? Mas ele havia encontrado uma nova esposa, e eles tinham filhos e uma nova família.”

“Me senti mal, mas pensei: Quer saber, ele é meu pai, e eu o amo. É um homem idoso agora, está na faixa dos 80 anos, vamos construir um relacionamento.”

Regresso a Auschwitz

Na tentativa de confrontar seu passado, Kai e o pai de 87 anos, Hans Jürgen Höss, decidiram fazer parte do documentário “A Sombra do Comandante” e contar sua história.

No filme, que estreou no Festival de Cinema de Sedona, nos EUA, os dois lidam com o trauma intergeracional causado pelas ações de Rudolf Höss ao conhecerem uma das vítimas de Auschwitz.

“O mais poderoso para mim, o que tocou meu coração, foi conhecer essa mulher de 90 anos, que sofreu no campo de concentração, e ela estar em nossa casa, tomar um café conosco, e vê-la sorrir.”

“Perceber que existe reconciliação, compreensão, perdão, amor. Sim, isso pode ser alcançado.”

Além disso, Kai e Hans visitaram Auschwitz.

“Naquela semana, fiquei com o coração partido. Chorei todos os dias em momentos diferentes. Ao ver aquela fábrica, aquela coisa que meu avô criou para exterminar pessoas.”

“Gravamos nas plataformas onde chegavam os trens com judeus de toda a Europa. Eles eram transportados como gado para Auschwitz, alguns morreram devido às condições da viagem.”

“É uma das marcas mais profundas que ficaram no meu coração.”

Ainda mais dolorosa foi a experiência de Hans, que pela primeira vez trechos do livro do pai e visitou o local onde ele foi levado à forca, condenado por seus crimes contra a humanidade.

“Você podia vê-lo chorando”, lembra Kai sobre a visita do pai a Auschwitz.

“Ele estava parado ali em silêncio com seu andador, e disse algo como: ‘Meu pai recebeu a punição justa por seus crimes’.”

Kai diz que já conversou sobre os crimes cometidos pelo avô com seus dois filhos, de 12 e 7 anos, e espera manter o diálogo aberto com eles no futuro, porque acredita que é importante manter viva a experiência do Holocausto para evitar que algo parecido aconteça novamente.

“Temos que fazer com que as crianças fiquem tão comovidas que saiam da sala dizendo: ‘Isso é a coisa mais triste, mais terrível, temos que fazer o que for preciso para garantir que isso nunca mais aconteça’.”

Esta reportagem foi adaptada a partir de uma entrevista concedida à apresentadora Jo Fidgen do programa de rádio Outlook, da BBC, com produção de Julian Siddle. Ouça neste link a íntegra do programa, em inglês.



Leia Mais: Folha

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‘Canal é panamenho’: presidente do Panamá rejeita ameaças de Trump | Notícias de Donald Trump

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'Canal é panamenho': presidente do Panamá rejeita ameaças de Trump | Notícias de Donald Trump

José Raul Mulino rejeita a perspectiva de negociações com Donald Trump, que ameaçou que os EUA poderiam retomar o controle do Canal do Panamá.

O presidente panamenho rejeitou ameaças de Presidente eleito dos EUA, Donald Trump que os Estados Unidos poderiam reafirmar o controle sobre o Canal do Panamá, dizendo “não há nada sobre o que falar”.

O presidente José Raul Mulino também rejeitou na quinta-feira a possibilidade de reduzir as portagens nos canais para os navios dos EUA e negou que a China tivesse qualquer influência sobre a hidrovia vital que liga os oceanos Atlântico e Pacífico.

“Se há intenção de conversar, então não há nada sobre o que conversar”, disse Mulino durante entrevista coletiva semanal.

“O canal é panamenho e pertence aos panamenhos. Não há possibilidade de iniciar qualquer tipo de conversa em torno desta realidade, que custou ao país sangue, suor e lágrimas.”

Os comentários do presidente vêm dias depois de Trump, que toma posse no próximo mês, ameaçou retomar o controle do Canal do Panamá sobre o que ele disse serem taxas “ridículas” cobradas pelas autoridades panamenhas.

Os EUA exerceram o controle administrativo do canal durante décadas antes de entregá-lo ao Panamá em 1999.

Numa série de publicações nas redes sociais na semana passada, Trump acusou o país centro-americano, com quem Washington mantém relações diplomáticas desde 1903, de “roubar” os EUA no Canal do Panamá.

“Nossa Marinha e Comércio foram tratados de forma muito injusta e imprudente”, escreveu Trump em sua plataforma Truth Social no sábado.

“As taxas cobradas pelo Panamá são ridículas, especialmente tendo em conta a extraordinária generosidade que foi concedida ao Panamá pelos EUA. Esta completa ‘roubada’ do nosso país irá parar imediatamente.”

Trump também afirmou que os soldados chineses estavam “operando amorosamente, mas ilegalmente, o Canal do Panamá”.

Esta afirmação foi rejeitada na quinta-feira pelo presidente panamenho, que afirmou que a China não tem qualquer papel na administração do canal.

“Não há soldados chineses no canal, pelo amor de Deus, o mundo é livre para visitar o canal”, disse Mulino aos repórteres.

A China não controla nem administra o canal, mas uma subsidiária da CK Hutchison Holdings, com sede em Hong Kong, administra há muito tempo dois portos localizados nas entradas do canal no Caribe e no Pacífico.

Enquanto isso, Trump nomeou na quarta-feira o comissário do condado de Miami-Dade, Kevin Marino Cabrera, como seu enviado ao Panamá.

Descrevendo Cabrera como “um lutador feroz pelos princípios da América Primeiros”, Trump disse numa publicação nas redes sociais que “fará um trabalho FANTÁSTICO representando os interesses da nossa nação no Panamá!”

No início desta semana, dezenas de manifestantes reuniram-se em frente à embaixada dos EUA na Cidade do Panamá, furiosos com os comentários de Trump sobre o Canal do Panamá.

Os manifestantes gritavam “Trump, animal, deixe o canal em paz!” e queimou uma foto do novo presidente dos EUA.



Leia Mais: Aljazeera

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Acidente de ônibus em área turística da Noruega mata três

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Acidente de ônibus em área turística da Noruega mata três

Equipes de resgate no local onde um ônibus saiu da estrada no condado de Nordland, Noruega, quinta-feira, 26 de dezembro de 2024.

Três pessoas morreram na quinta-feira, 26 de dezembro, e outras quatro ficaram feridas no acidente de um autocarro que acabou num lago na costa norte da Noruega, anunciou a polícia do condado de Nordland num comunicado de imprensa. “muitos passageiros do autocarro são estrangeiros”. Um total de 58 pessoas sofreram este acidente.

O autocarro, meio submerso, transportava passageiros de pelo menos oito países diferentes: China, Singapura, Índia, Malásia, Holanda, Sudão do Sul, França e Noruega. É difícil contactar familiares, devido à falta de uma lista exaustiva de passageiros e às muitas nacionalidades presentes, disse Bent Are Eilertsen, policial do condado de Nordland, citado pela agência NTB.

“O centro operacional da polícia foi alertado pouco depois das 13h30.” hora local, a respeito de um ônibus que saiu da estrada em Hadsel, detalha a polícia em seu comunicado à imprensa. Os serviços de resgate e a polícia foram enviados para o local, perto do estreito de Raftsundet, que separa os arquipélagos de Lofoten e Vesteralen, e todos os passageiros do autocarro foram evacuados, alguns para uma escola próxima.

Condições climáticas adversas

“As condições climáticas na região são ruins, complicando as operações de resgate”disse a polícia. Fortes rajadas estão em andamento na região. O Instituto Meteorológico Norueguês também alertou sobre tempestades, avalanches e deslizamentos de terra na área.

Um barco humanitário voluntário de Redningsselskapet, transportando cuidadores, anunciou no X que estava a caminho da ilha de Hanoya, sem conseguir chegar ao local do acidente por este motivo. Três pessoas foram levadas de helicóptero para o hospital Stokmarknes, segundo Bent Are Eilertsen. “A prioridade agora é tratar os feridos e também será instaurada uma investigação para esclarecer o curso dos acontecimentos”disse ele à agência NTB.

O primeiro-ministro Jonas Gahr Store, citado pela mídia norueguesa, manifestou apoio aos envolvidos no acidente. “Acho que todos na Noruega estão afetados pelas notícias vindas de Hadsel. Este é um acidente muito grave e muitas pessoas estão envolvidas. Há mortes e feridos graves. A primeira coisa a fazer é apoiá-los” nesta tragédia, disse ele.

Todos os anos, a Noruega recebe muitos turistas que vêm observar os seus fiordes, o sol da meia-noite e a aurora boreal. Em 2023, o número de dormidas de estrangeiros aumentou 22% na Noruega – com recorde em agosto – segundo estatísticas oficiais, aumento também impulsionado pelo fim das restrições sanitárias em 2022 e pela afrouxamento das moedas escandinavas.

Leia também | Artigo reservado para nossos assinantes Perante o excesso de turismo, Noruega quer implementar uma taxa turística

O mundo com AFP

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Tarifa de trens e metrô em SP irá custar R$ 5,20 – 26/12/2024 – Cotidiano

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Tarifa de trens e metrô em SP irá custar R$ 5,20 - 26/12/2024 - Cotidiano

Mariana Zylberkan

A tarifa da CPTM e do metrô em São Paulo vai subir para R$ 5,20 a partir do próximo dia 6. É a segunda alta no transporte público durante a gestão do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que já havia subido a passagem de R$ 4,40 para R$ 5 em dezembro do ano passado.

Com o novo reajuste de 4%, o transporte público estadual teve alta acumulada de 18% desde o fim de 2023.

Em nota, a administração estadual informou que o novo valor ficou abaixo da inflação de 5,09% acumulada desde a última atualização. “O objetivo é garantir a eficiência e a segurança do sistema de transporte público, e o reajuste da tarifa é uma medida necessária para assegurar a continuidade desses padrões”, informou a secretaria de Transportes Metropolitanos nesta quinta-feira (26).

Na capital, a gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) também anunciou o reajuste da passagem do ônibus, que irá ficar R$ 0,60 mais cara em 6 de janeiro – de R$ 4,40 para R$ 5.

Há um ano, quando Tarcísio anunciou o aumento da tarifa do sistema de transporte ferroviário, Nunes disse que congelaria o valor dos ônibus para manter “o empenho em incentivar o transporte coletivo”.

Os usuários do sistema de transporte têm até o dia 5 de janeiro para recargar o Bilhete Único com o valor ainda não reajustado.

O novo valor da tarifa só será debitado do cartão de transporte a partir de recargas feitas na categoria Comum após a data do reajuste. Até acabar o saldo pago em 2024, será debitado R$ 5 ao passar pelas catracas. O saldo com a tarifa antiga expira em até 180 dias.

ONDE RECARREGAR O CARTÃO DE TRANSPORTE

As recargas poderão ser feitas em totens nas estações de metrô e da CPTM. As máquinas aceitam pagamento em dinheiro e cartão de débito.

Outra opção é utilizar a internet. A página da SPTrans disponibiliza aplicativos para esta finalidade.





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