Marianna Holanda
O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) disse que vê o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), como o nome mais forte da direita para a eleição presidencial de 2026 num cenário em que Jair Bolsonaro (PL) continue inelegível.
O parlamentar concedeu entrevista à Folha na tarde de terça-feira (18), horas antes de a PGR (Procuradoria-Geral da República) apresentar uma denúncia contra o ex-presidente sob acusação de liderar uma trama golpista.
Nikolas afirmou que não descartaria a possibilidade de uma decisão judicial que permita a Bolsonaro disputar a próxima eleição. No entanto, ele apontou que, no cenário atual, Tarcísio poderia ter o aval do ex-presidente para concorrer.
O deputado mineiro classificou as investigações contra Bolsonaro como uma perseguição, criticou a classificação dos atos de 8 de janeiro como uma tentativa de golpe e afirmou que a direita bolsonarista tem a expectativa de votar um projeto de anistia até a metade deste ano.
O sr. acredita que, uma vez denunciado, seja possível uma prisão de Bolsonaro?
Quanto mais honesto você for nesse país, mais chance você tem de se ferrar. A Dilma [Rousseff] cometeu, de fato, um crime de responsabilidade fiscal e agora é presidente de um banco, ganhando milhares de dólares e com seus direitos políticos [preservados]. O Lula, condenado em três instâncias, é presidente. As coisas estão invertidas neste país. É possível? Claro. Da mesma forma como é possível o Bolsonaro ir para a cadeia e um traficante ser solto, como o STF está soltando.
O que representa para a direita essa denúncia?
Uma perseguição, claro. Para mim, de fato, não tem nenhum tipo de substância de golpe. É algo completamente fictício. Como é que não há uma arma no evento que é um golpe? Não há uma hierarquia? Não foi apreendido nenhum tipo de arma de fogo. Não teve uma morte, não teve absolutamente nada nesse sentido. Existiu um crime de depredação de patrimônio público, como a esquerda cansou de fazer ao longo da história dela. Então, ou todo mundo tem que ir para cadeia com 17 anos [de pena], ou ninguém tem que ir.
A polícia encontrou um planejamento de golpe e um plano de assassinato. Isso não seria o suficiente?
São quase mil palavras de “suposto”, indícios, e isso enfraquece o indiciamento. Porque para você colocar na cadeia uma pessoa que vai fazer 70 anos de idade, que é um ex-presidente da República, tem que ser algo no mínimo [no nível do] mensalão, né? Ou talvez porque a pessoa estava envolvida em corrupção e um amigo da pessoa foi condenado a 400 anos, como foi o caso do Sérgio Cabral. Isso, para mim, é uma certeza de que houve um crime e um indício muito forte. Então, sério mesmo, tentou dar um golpe? Não faz sentido.
Como está a negociação com Hugo Motta [presidente da Câmara] para pautar o projeto da anistia? Tem algum prazo?
Nós temos expectativa de prazo até a metade desse ano. Acredito que nós temos votos para poder aprovar a anistia. As pessoas estão sensibilizadas.
O que o sr. acha da proposta para reduzir a pena de inelegibilidade da Lei Ficha Limpa?
Discordo. A Ficha Limpa, da maneira como está agora, é utilizada para perseguir um lado somente. O crime do Bolsonaro não é comparável ao crime de corrupção, crime de propina, enfim. [Mas] Para mim, você não pode querer mudar uma lei toda simplesmente para poder beneficiar uma pessoa. Precisa olhar o todo e ver as consequências. Porque, se você é contra a Ficha Limpa, é a favor do sujo? Para as pessoas, isso pega muito mal. Acho que a melhor maneira é resgatar os direitos políticos dele [Bolsonaro].
Como?
Não posso duvidar da capacidade de o Brasil fazer coisas que parecem absurdas se tornarem reais. Ou seja, é possível o Bolsonaro se candidatar. Até mesmo porque, no TSE, quem mandava não era a lei, era o Moraes.
Com a presidência do Kassio Nunes Marques no TSE, em 2026, isso poderia mudar?
Ué, pelo visto a lei é o juiz, né? Então por que só o Moraes pode?
Kassio poderia, por exemplo, conceder uma liminar?
Sim. O STF não decidiu, sem passar pelo Congresso, que transfobia é crime? Teve alguma mudança no Código Penal? Simplesmente equiparou com racismo e voilà. Então, se o ministro do TSE decidir, falar acho que ele tem que estar [na eleição].
Diante do cenário que está posto, com Bolsonaro inelegível, quem é o nome mais forte?
Acredito que seja o Tarcísio, pela proximidade com o Bolsonaro, pela atuação no governo de São Paulo e pela sua capacidade. Óbvio, ele vai enfrentar algumas questões com a direita, como sua relação com [Gilberto] Kassab. A direita tem, no mínimo, uma resistência com essas figuras históricas que não nos trazem boas recordações. Mas acho ele [Tarcísio] uma pessoa extremamente capacitada e com a possibilidade do aval do Bolsonaro de concorrer à Presidência da República.
Bolsonaro poderia dar aval para alguém que não é filho dele?
Ele deu algumas entrevistas falando do Eduardo [Bolsonaro], do Flávio [Bolsonaro] e da Michelle [Bolsonaro]. De fato não sei se é a preferência dele escolher as pessoas da família ou se pretende escolher alguém de fora.
O sr. acha que tinha que ser um nome mais moderado para a Presidência?
O conceito de moderado é muito volátil hoje em dia. Acho que ele [Tarcísio] tem, talvez, um trânsito maior no âmbito do centro. Mas a escolha desse nome, com certeza, vai passar pelo Jair Bolsonaro. Não tem como.
No mês passado, o ex-presidente fez uma fala que muitos viram como uma indireta para o sr., em que disse que há candidatos se lançando “na base da lacração”. O que o sr. acha?
Tem muita gente em volta que vai se sentir ameaçada, vai ter ciúmes. Pouco me importo. Nunca pedi para ter a quantidade de seguidores que eu tive. Nunca imaginei que um vídeo meu seria o vídeo mais visto em 24 horas no mundo. E eu nunca persegui isso, nunca foi uma meta. Toda pessoa que tiver resultado aqui nesse país vai tomar pancada, mesmo que seja dos seus. Não acho que essa fala foi direcionada a mim, mas sei que tem pessoas que tentam me jogar contra o Bolsonaro. Tenho uma relação extremamente aberta com ele. Agora, discordância sempre vai haver, poxa. É dessa maneira que eu trato o nosso relacionamento, de ser sincero, aberto. E cada um tem a sua liberdade de discordar.
Quem são essas pessoas que tentam jogar o sr. contra Bolsonaro?
Basta ter dois olhos, abrir o Twitter que você vai ver.
Há uma PEC (proposta de emenda à Constituição) para a redução de idade mínima para o Senado. O sr. quer ser candidato?
Seria um privilégio poder ser o senador mais jovem da história do país. Acho que o Senado se encaixaria como uma luva para mim. É uma PEC que foi o Eros Biondini (PL-MG) que fez e tem coletado assinaturas.
Já falou com Bolsonaro sobre esse projeto?
Já conversei. Ele falou que é excelente, até mesmo porque precisamos eleger senadores e eu sou uma pessoa que tem uma condição de somar lá no Senado e conseguir essa vaga. Eu não estou falando que a minha vitória é certa, sempre corri muito atrás e acredito que eu também faria o máximo para poder conseguir alcançar essa candidatura.
Raio-X | Nikolas Ferreira de Oliveira, 28
Formado em direito pela PUC em Minas Gerais, Ferreira foi eleito vereador em 2022 pelo PRTB. Dois anos depois, foi eleito deputado federal pelo PL, com a maior votação do Brasil, com 1.492.047 votos. Na Câmara dos Deputados, foi presidente da Comissão de Educação