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Novo herói da pátria, André Rebouças deixou legado antirracista

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Novo herói da pátria, André Rebouças deixou legado antirracista

Rafael Cardoso – Repórter da Agência Brasil

Quando se pensa em engenharia, uma obra de qualidade é aquela estruturalmente forte e estável, capaz de resistir aos efeitos do tempo. Esse critério bastaria para qualificar o engenheiro negro André Rebouças (1838-1898) como um dos nomes mais importantes do país.


Rio de Janeiro (RJ) 17/10/2024 – Engenheiro André Rebouças é inscrito no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. Busto dos irmãos André e Antônio Rebouças, na Praça José Mariano Filho, na Lagoa, esculpido por Edgar Duvivier. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Rio de Janeiro (RJ) 17/10/2024 – Engenheiro André Rebouças é inscrito no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. Busto dos irmãos André e Antônio Rebouças, na Praça José Mariano Filho, na Lagoa, esculpido por Edgar Duvivier. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Busto dos irmãos André e Antônio Rebouças, na Praça José Mariano Filho, na Lagoa, esculpido por Edgar Duvivier. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Mas a obra dele vai além de pontes, docas, estradas de ferro e sistemas hídricos. Ele se destacou como um intelectual crítico, abolicionista, que viajou pelo mundo colhendo experiências em sociedades segregadas e projetou um Brasil onde todos pudessem ser iguais, sem distinções raciais.

O currículo credenciou André Rebouças a ser reconhecido oficialmente nesta semana como um “herói da pátria”, o que lhe garantirá um espaço no livro que reúne as principais personalidades do país.

Historiadores ouvidos pela reportagem da Agência Brasil celebraram a inclusão de Rebouças no documento. Em primeiro lugar, por entenderem que o engenheiro precisa ser mais conhecido no Brasil. Em segundo, por um resgate e revisão de sua memória, alvo de críticas por ter apoiado Dom Pedro II.

“Embora seja um reconhecimento tardio, essa inclusão no livro de heróis vem corrigir a imagem de André Rebouças como um monarquista que desistiu do país e fez um autoexílio, ao sair junto com a família imperial no fim do Segundo Reinado. Ele sai por entender que a República nasce de um movimento revanchista, de uma elite escravocrata, que não aceitou o fim da escravidão sem indenização no Brasil. E a gente teve desdobramentos muito ruins para a projeção dessa figura histórica. Tenho certeza que ajuda, em parte a corrigir isso. Existe ainda todo um trabalho a ser feito de recuperação dessa memória”, avalia Antonio Carlos Higino da Silva, historiador e autor dos livros André Rebouças no Divã de Frantz Fanon.


Rio de Janeiro (RJ), 17/10/2024 - Fachada do prédio do Armazém Docas Dom Pedro II, obra do  engenheiro André Rebouças, na região portuária do Rio. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Rio de Janeiro (RJ), 17/10/2024 - Fachada do prédio do Armazém Docas Dom Pedro II, obra do  engenheiro André Rebouças, na região portuária do Rio. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Fachada do prédio do Armazém Docas Dom Pedro II, obra do engenheiro André Rebouças, na região portuária do Rio. Foto – Tânia Rêgo/Agência Brasil

“A inclusão dele no livro é um fato muito importante, porque durante muito tempo o documento só tinha a presença de heróis brancos e excluía outros grupos sociais, como negros, indígenas e mulheres. E é um passo importante nesse processo de revisão histórica, em que aqueles antes excluídos ou apresentados como passivos ou coadjuvantes da história do Brasil, agora são vistos como protagonistas e agentes históricos potentes de transformação dos 500 anos de história do nosso país”, diz o historiador Jorge Santana, professor do Instituto Federal do Paraná.

Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria

O primeiro passo é entender do que se trata o Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. Ele foi criado em 1992 e reúne personalidades do tidas como “protagonistas da liberdade e da democracia”, por terem dedicado parte da vida ao país. A obra também é conhecida com Livro de Aço, por ser feita com páginas desse material, e fica no Panteão da Pátria, na Praça dos Três Poderes, em Brasília.

A inscrição de um novo personagem depende de lei aprovada no Congresso. Entre os heróis e heroínas brasileiros, estão Tiradentes, Anita Garibaldi, Chico Mendes, Zumbi dos Palmares, Machado de Assis, Santos Dumont, Luís Gama e Joaquim Nabuco.

A Lei nº 15.003 , que oficializa a homenagem a André Rebouças, foi sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e publicada nesta quinta-feira, 17 de outubro, no Diário Oficial da União. As ministras Macaé Evaristo (Direitos Humanos) e Anielle Franco (Igualdade Racial), além do ministro Ricardo Lewandowski (Justiça e Segurança Pública) também assinam a medida.

Biografia de Rebouças

André Pinto Rebouças nasceu no município de Cachoeira, na Bahia, em 3 de janeiro de 1838. Era filho de Antônio Pereira Rebouças e Carolina Pinto Rebouças. O pai, filho de ex-escravizada e de um homem branco, foi um advogado autodidata, deputado pela província da Bahia e conselheiro do imperador Dom Pedro I.


Rio de Janeiro (RJ) 17/10/2024 – Engenheiro André Rebouças é inscrito no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. Trecho do Túnel Rebouças, que homenageia os irmãos André e Antônio Rebouças. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Rio de Janeiro (RJ) 17/10/2024 – Engenheiro André Rebouças é inscrito no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. Trecho do Túnel Rebouças, que homenageia os irmãos André e Antônio Rebouças. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Trecho do Túnel Rebouças, que homenageia os irmãos André e Antônio Rebouças. Foto – Fernando Frazão/Agência Brasil

A família Rebouças veio para o Rio de Janeiro em 1846. André e o irmão Antônio, aos 15 e 16 anos, ingressaram na Escola Militar (precursora da Escola Politécnica) e formaram-se engenheiros militares em 1860. Depois de uma viagem pela Europa, (1861-1862) voltaram ao Brasil em 1863 e ficaram responsáveis por reformas nas fortalezas de Santos até Santa Catarina. Em 1864, André projetou o novo porto do Maranhão.

André participou da Guerra do Paraguai, entre 1865 e 1866, no batalhão dos engenheiros e retornou ao Rio de Janeiro por motivo de saúde. Participou das obras do porto da cidade, foi diretor das obras das novas Docas da Alfândega (na atual praça XV) e responsável pela construção das Docas de Pedro II (ao lado do Cais do Valongo).

“Esse armazém é uma grande fonte de inspiração e deve ser pensado como referência de resistência negra. O projeto é todo pensado pelo André Rebouças, em que ele se esforçou em não ter mão de obra escravizada, em constituir proteção social para os seus trabalhadores. Rebouças foi ao encontro de um projeto moderno, de um porto industrial, trazendo referências de um engajamento político e social importante”, diz o historiador Antonio Carlos Higino.

Rebouças nunca foi escravizado, pertencia a uma classe média negra e era protegido por uma rede de amigos poderosos, como a própria família imperial. Talvez isso explique um pouco o porquê de ter demorado a se colocar publicamente como um homem negro e abolicionista. Isso começou a mudar a partir da década de 1870. As viagens para a Europa e para os Estados Unidos, onde presenciou exemplos mais visíveis de discriminação e apartheid racial, foram fundamentais para impactar os projetos políticos e a subjetividade de Rebouças.

Na década de 1880, passa a atuar ativamente no Brasil em projetos contra a escravidão. Foi um dos criadores da Sociedade Brasileira contra a Escravidão, junto com Joaquim Nabuco e José do Patrocínio, em 1880. E participou da Confederação Abolicionista (1883) e da Sociedade Central de Imigração (1883).

“Os mais sanhudos escravocratas confessam hoje publicamente: — a escravidão é um cancro. Já não há mais quem ouse negar que a escravidão é a gangrena nacional; que é a causa primária de todas as misérias e vergonhas que afligem este império; que é o obstáculo máximo à imigração, ao progresso da agricultora, da indústria e do comércio no Brasil”, escreveu Rebouças no texto de abertura do folheto “Abolição immediata e sem indemnisação”, publicado em 1883.

Monarquista, por considerar que o republicanismo brasileiro era liderado por antigos senhores de escravizados, Rebouças partiu para o exílio em 1889 junto com a família imperial. Depois da morte de Dom Pedro II em 1891, partiu para a África, para trabalhar e ajudar no desenvolvimento do continente. Foi nesse período que Rebouças passou a ver a África como “terra de origem” e a se declarar como homem negro, meio brasileiro e meio africano. Mas decepcionou-se com as dificuldades encontradas, como a pobreza decorrente da exploração de nações europeias. Morreu em Funchal, Portugal, em 9 de maio de 1898, em circunstâncias incertas, tendo sido encontrado no pé de um precipício, aos 60 anos.

Como legado para a realidade social dos negros pelo mundo, deixou textos e análises críticas, focados na construção de um país mais igualitário.

“O André Rebouças apontava como principal preocupação o 14 de Maio, ou seja, o dia seguinte à abolição. O que teria de ser feito, como a distribuição de terras, uma reforma agrária, para que os ex-escravizados pudessem ter um meio de sustento, de sobrevivência, e pudessem ser integrados à vida econômica do país”, diz o historiador Jorge Santana.

“Ao fim movimento abolicionista e a libertação dos escravizados, André Rebouças propôs para o orçamento do ano de 1890 um aporte, parte dos recursos de orçamento, para investimento nas pessoas libertas. Ele pensou o Brasil do futuro, da proteção social, escolarização, estradas, portos, tudo que poderia esse país um lugar moderno e melhor. Ele é uma grande referência para os que querem um Brasil melhor e mais unido”, diz o historiador Antonio Carlos Higino.



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Tão importante quanto investir bem é investir sempre – 19/10/2024 – De Grão em Grão

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Tão importante quanto investir bem é investir sempre - 19/10/2024 - De Grão em Grão

Michael Viriato

Imagine que você tem um terreno e quer reflorestar. Você pode plantar uma única semente e esperar que ela cresça, dê frutos e, quem sabe, essas sementes resultem em novas árvores. Ou, pode plantar sementes regularmente, sem parar. O que parece mais eficiente? No fim, a segunda abordagem cria uma floresta mais rica e resiliente. Investir funciona da mesma forma: o segredo está na constância, não em esperar a semente perfeita.

Muitos investidores acreditam que precisam de um cenário ideal ou do ativo perfeito antes de fazer novos aportes, ou seja, novas aplicações. Isso é como deixar o terreno vazio, à espera de condições meteorológicas perfeitas para plantar uma única árvore. A busca pela “oportunidade perfeita” pode fazer com que a pessoa perca meses, até anos, sem investir. E esse tempo perdido custa caro, especialmente para quem está em fase de acumulação de patrimônio.

Vamos pegar como exemplo dois jovens Carlos e Marcelo que, aos 25 anos, ganharam de seus pais uma poupança inicial de R$ 100 mil. Vamos supor que a taxa de juros durante os próximos 30 anos seja de 10% ao ano. Carlos decide que quer aproveitar a vida e gasta tudo o que ganha, sem fazer mais aportes. Aos 55 anos, ele terá um montante de R$ 1,74 milhão, graças aos juros compostos sobre os R$ 100 mil iniciais. Já Marcelo, além de manter o valor inicial, decide poupar R$ 2 mil por mês. Ao fim do mesmo período, ele acumula impressionantes R$ 5,87 milhões. Ou seja, Marcelo alcançou um patrimônio mais de 3,37 vezes o valor do de Carlos.

Para se ter uma ideia, mesmo que Marcelo tivesse investido mal e tivesse obtido ao longo dos anos uma taxa de retorno 50% inferior a de Carlos, ele ainda alcançaria um patrimônio 18% superior.

Como explico abaixo, provavelmente ocorrerá o contrário, ou seja, Marcelo deve ter uma taxa de juros maior que a de Carlos. Usualmente, quem realiza poupança com frequência, obtém maiores retornos. Portanto, se a taxa de retorno de Marcelo for 20% superior a de Carlos, ele terá um portfólio mais de 4,21 vezes superior.

Esse exemplo mostra como a consistência em investir é mais poderosa do que apenas fazer um grande investimento inicial e esperar o tempo passar. Estudos acadêmicos apontam que aqueles que investem com frequência obtém melhores oportunidades. E não é à toa, quando você investe sempre, está aproveitando o melhor que o mercado oferece no momento.

Por exemplo, atualmente as taxas de juros estão subindo, o que significa que quem continua investindo agora captura esses rendimentos maiores. Se você parar de investir à espera de condições melhores, corre o risco de perder essas oportunidades. O “momento perfeito” raramente chega, e o tempo perdido não volta.

Além disso, ao manter aportes regulares, você dilui os riscos de maus momentos. Nem todo investimento será um sucesso imediato, mas investir constantemente garante que, ao longo do tempo, os acertos se sobreponham aos erros. É como plantar várias sementes: se uma não crescer, as outras compensarão, e seu terreno se tornará uma floresta robusta. Você não precisa acertar sempre, mas precisa continuar plantando.

Outro aspecto que muitos esquecem é o impacto dos aportes regulares no crescimento do portfólio, especialmente na fase de acumulação, dos 25 aos 55 anos. Durante esse período, o crescimento não depende apenas dos rendimentos dos ativos, mas dos aportes que você faz regularmente. Quanto mais você investe, mais rápido seu patrimônio cresce. O portfólio, nesse estágio, muitas vezes cresce mais pelos novos aportes do que pelos retornos dos investimentos.

Por outro lado, quem para de investir perde o poder de alavancar o crescimento do portfólio. O tempo, um dos maiores aliados do investidor, vai embora. E, junto com ele, vão-se as oportunidades de capturar boas taxas de juros, corrigir más escolhas e, claro, aumentar o patrimônio com consistência.

É essencial entender que o sucesso financeiro não se resume em escolher o ativo ideal, mas sim em manter a disciplina de investir sempre. Você não pode esperar que o “momento perfeito” apareça, porque o tempo que passa é um inimigo que trabalha contra seus objetivos. Se você não está plantando agora, está deixando de colher lá na frente.

Então, em vez de ficar à espera da árvore perfeita, comece hoje a plantar suas sementes. E plante sempre. Porque o importante não é apenas investir bem, mas investir constantemente. Pegue esse compromisso consigo mesmo: faça o próximo aporte, agora, sem esperar as condições perfeitas. Seu portfólio futuro será o reflexo direto da sua consistência hoje.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.

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Entenda o impasse na gestão do Hospital Federal de Bonsucesso

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Entenda o impasse na gestão do Hospital Federal de Bonsucesso

Cristina Indio do Brasil – Repórter da Agência Brasil

Diante do quadro de sucateamento ao longo dos anos do Hospital Federal de Bonsucesso (HFB), o Ministério da Saúde escolheu o Grupo Hospitalar Conceição (GHC), empresa estatal pública do Rio Grande do Sul, para fazer a gestão da unidade da zona norte do Rio de Janeiro. 

Além da ampliação do quadro funcional, o complexo do HFB precisa de obras de infraestrutura; retomada do serviço de emergência; reabertura de 210 leitos que estão fechados por falta de equipamentos e pessoal, bem como as UTIs e Centro cirúrgico; e obras nos sistemas elétrico e hidráulico.

A solução destes problemas cabe ao GHC desde a terça-feira (15), quando o Ministério da Saúde iniciou a transferência da gestão. A previsão da pasta e do novo gestor é de completar esse processo de transição em 90 dias, período em que se espera a reabertura do serviço de emergência e a entrega progressiva de leitos comuns e de UTI e a volta do funcionamento do Centro Cirúrgico.

De acordo com o Ministério da Saúde, um dos fatores para a escolha do novo gestor é o fato de o GHC ser “uma empresa pública vinculada ao governo federal, de atuação nacional e que atende integralmente ao Sistema Único de Saúde (SUS)”.

Para a ministra Nísia Trindade, o GHC já mostrou referência no atendimento à população, inclusive quando ajudou o ministério em missões no Haiti, no território Yanomami e no enfrentamento à grave crise climática do Rio Grande do Sul.

“Por ser vinculado ao Ministério da Saúde, o GHC é um ponto central para o nosso trabalho de qualidade. Essa é a razão do GHC: um hospital de excelência e que vai contribuir de forma fundamental no Rio de Janeiro. Estamos trazendo o que temos de melhor na gestão hospitalar do Brasil”, garantiu Nísia em texto divulgado pelo MS.

O diretor-presidente do GHC, Gilberto Barichello, contou que para retomar o atendimento nesses serviços interrompidos, são necessárias medidas emergenciais:

“Nós precisamos substituir todo o cabeamento da subestação de energia elétrica, porque hoje não tem capacidade suficiente para incorporar novas tecnologias ou para reabrir o hospital. A gente já tomou essas medidas e o cabeamento já começou a ser substituído e tem o prazo até 16 de novembro para a empresa entregar toda a substituição do cabeamento da subestação que conduz a energia para os diversos prédios” revelou em entrevista à Agência Brasil.

Outra obra necessária é a troca do telhado de parte do hospital que está avariado e impede o funcionamento, por exemplo, de 24 leitos de curta permanência que estão fechados por causa de goteiras:

“O telhado todo furado, são telhas de cerâmica antigas sustentadas por madeira danificada por cupim. As telhas estão quebradas e o telhado fica furado e os leitos estão interditados. Vamos licitar de forma urgente por dispensa para que a gente troque o telhado e devolve em até 90 dias, também esses leitos de curta permanência. A partir de agora é tudo com o Grupo Conceição”, disse Barichello.

GHC

O grupo é uma organização com mais de 64 anos aplicados em atenção à saúde. É formado por quatro hospitais, um centro de oncologia. Além de uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), tem mais 12 postos de saúde do Serviço de Saúde Comunitária, três Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e uma Escola de Formação em Saúde Pública.

Vinculado ao Ministério da Saúde, o GHC é reconhecido como a maior rede pública de hospitais da região Sul, com atendimento 100% SUS. A estrutura inclui 1.391 leitos, com internações de 46,1 mil usuários por ano.

Por ano são realizados cerca de 4 milhões de exames, 1,1 milhão de consultas, 27 mil cirurgias e 6,6 mil partos. Ao todo o quadro de pessoal tem 10.852 profissionais que ingressaram por concurso público.

Processo seletivo

Para a nova gestão, o Grupo Hospitalar Conceição pode contratar 2.252 profissionais de saúde em vagas temporárias de médicos, enfermeiros, técnicos e funcionários administrativos. O processo seletivo vai priorizar profissionais do Rio de Janeiro, com o objetivo de dar capacidade plena ao Hospital Federal de Bonsucesso.

O edital que permitiu a contratação foi publicado nesta sexta-feira (18) no Diário Oficial da União (DOU). O processo seletivo simplificado está incluído nas ações para o fortalecimento da administração definida pelo Ministério da Saúde.

O Ministério da Saúde indicou que nesta transição, os servidores federais poderão optar por continuar trabalhando no hospital ou pedir transferência para outras unidades da rede.

“Os direitos dos servidores, conforme os termos do concurso público ou contrato, serão preservados, não haverá mudança de regime. Os funcionários terão direito de escolha garantido e acertado”, apontou o ministério em texto publicado no seu site.

Segundo o secretário adjunto de Atenção Especializada à Saúde, Nilton Pereira Júnior, os profissionais temporários que já trabalham no HFB poderão participar do processo seletivo e os prazos dos contratos atuais até novembro e dezembro de 2024 serão mantidos.

De acordo com Barichello, a contratação temporária é pelo período de 60 dias, que podem ser prorrogados pelo mesmo período. Durante esse tempo, o GHC vai fazer uma avaliação completa sobre o dimensionamento da unidade hospitalar para saber qual é a real necessidade de vagas que precisam para que o hospital volte ao pleno funcionamento.

Depois da análise que deve estar concluída em 180 dias, será aberto um concurso público para a contratação definitiva de profissionais. “Além de substituir o cabeamento, trocar o telhado, contratação de mais de 2,2 mil profissionais, nós queremos que, em 45 dias, todos já estejam lá trabalhando lá em dezembro”, completou.

O presidente do GHC informou que os atuais trabalhadores do HFB são do regime estatutário e seus direitos conquistados serão garantidos. Já os do GHC também passaram por concurso público mas são do regime CLT e não é possível fazer a transposição de regime. No entanto, os empregados temporários que já trabalham na unidade hospitalar poderão mudar por meio do processo de seleção que foi aberto agora.

Recadastramento

No período de dez dias será feito um recadastramento dos atuais servidores estatutários do HFB. “Nós precisamos conhecer os trabalhadores que estão lá, que turno de trabalho eles têm, que escala, carga horária, qual é o perfil e especialidade, para que a gente reorganize o hospital para reabrir com toda a capacidade instalada”, disse Barichello.

Outra medida necessária é a aquisição de equipamentos. “Para abrir todos os 210 leitos fechados, mais a emergência e salas cirúrgicas, nós precisamos adquirir equipamentos, entre eles, cama, monitores multi paramédicos, carro de anestesia… Enfim, para abrir em 90 dias precisamos concluir a aquisição de equipamentos”, observou. Essa análise deverá ser feita em dois ou três dias.

Críticas

Mesmo anunciada pelo Ministério da Saúde na terça-feira (15), a entrada das equipes do GHC no Hospital de Bonsucesso só ocorreu neste sábado (19) depois da ação de policiais federais e militares autorizados pela justiça.

Nesse período, um grupo de servidores organizados pelo Sindicato dos Trabalhadores em Saúde, Trabalho, Previdência e Assistência Social no Estado do Rio de Janeiro (Sindsprev-/RJ) fez um bloqueio na porta da unidade e impediu que a nova gestão entrasse no HFB.

Mesmo com multas diárias de R$ 50 mil determinadas pela justiça do Rio junto com a ordem de desbloqueio, os manifestantes permaneceram no local e prometiam ficar lá até a audiência de conciliação marcada para a próxima segunda-feira (21).

A dirigente sindical do Sindsprev-/RJ, Christiane Gerardo, disse que os manifestantes não aceitam negociar com o Ministério da Saúde e nem com o GHC, porque não concordam com a transferência de gestão do Hospital de Bonsucesso.

“A saída é manter a gestão pública ligada diretamente ao Ministério da Saúde com respeito às decisões dos órgãos deliberativos colegiados e eles fazerem concurso público para cargo efetivo. Fora isso, não existe nenhuma possibilidade de negociação com essa gente, porque nós somos água e eles são vinho. Não nos misturamos”, apontou em entrevista à Agência Brasil.

Apesar de não conseguirem entrar no HFB por causa do bloqueio, equipes do GHC/Bonsucesso começaram a preparação para assumir o trabalho na unidade com a realização de oficinas na sede do MS no centro do Rio. A intenção era preparar os primeiros 15 dias no processo de integração entre os trabalhadores do Bonsucesso e do GHC.

Transferências de gestão

Os manifestaram eram contra também ao que chamam de fatiamento dos hospitais federais que funcionam no Rio de Janeiro, após a decisão do Ministério da Saúde de fazer a transição para novas administrações escolhidas pela pasta.

O próximo a ter a transferência de gestão prevista é a do Hospital Federal do Andaraí, na zona norte da capital, que passará a ser gerido pela Prefeitura do Rio. Por causa do período eleitoral o processo não pôde avançar e agora será retomado.

Já o Hospital Federal dos Servidores, na região portuária, terá a gestão da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), vinculada ao MEC. A mudança de gestão do Hospital da Lagoa ainda não tem prazo definido.

De acordo com o Ministério da Saúde, o HFB é um complexo hospitalar com mais de 42.242m² de área construída. A localização na Avenida Brasil, principal via do Estado do Rio de Janeiro, ligando a cidade às outras, principalmente da Baixada Fluminense, permite que a unidade seja uma referência em serviços de média e alta complexidade a toda a população fluminense.

Em 2020, um incêndio atingiu o HFB, e desde lá a precariedade aumentou com o fechamento da emergência, de leitos comuns e de UTI, além do Centro Cirúrgico.

 



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Harris enfatiza direito ao aborto e votação antecipada em comício lotado em Atlanta | Eleições dos EUA 2024

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Harris enfatiza direito ao aborto e votação antecipada em comício lotado em Atlanta | Eleições dos EUA 2024

George Chidi in Atlanta, Georgia

Kamala Harris destacou a ameaça aos direitos reprodutivos das mulheres e a aparente exaustão de Donald Trump em um comício no sábado no sul de Atlanta, continuando uma pressão em tribunal por votos na Geórgia, enquanto a votação antecipada bate recordes aqui.

A corrida continua a parecer acirrada na Geórgia, com as pesquisas sugerindo que o candidato republicano detém uma vantagem de um ponto no estado. Trump fez várias aparições na Geórgia e tem um comício com a Turning Point Action planejado no condado de Gwinnett, fora Atlantana próxima semana.

No entanto, a National Rifle Association cancelou um comício planejado para sábado com Trump em Savannah, citando um “conflito de agenda”. Trump também cancelou várias entrevistas à imprensa na semana passada.

A campanha de Trump tem empurrado com raiva para trás contra uma sugestão levantada por um funcionário de que Trump estava exausto com as aparências. Mas Harris aproveitou a ideia como um grito de guerra.

“E agora ele está evitando debates e cancelando entrevistas por causa da exaustão”, disse Harris. “E quando ele responde a uma pergunta ou fala em um comício, você notou que ele tende a sair do roteiro e divagar, e geralmente não consegue terminar um pensamento? … As pessoas estão exaustas com alguém tentando fazer com que os americanos apontem o dedo uns para os outros. Estamos exaustos. É por isso que digo que é hora de virar a página.”

Harris interage com um jovem torcedor no comício de Atlanta. Fotografia: Dustin Chambers/Reuters

Harris voltou a temas familiares em um dia de clima perfeito em Atlanta, descrevendo a “economia de oportunidades” como aquela que reduz o custo de vida para medicamentos prescritos, mantimentos e moradia por meio de iniciativas anti-apuramento de preços, ao mesmo tempo em que fornece apoio financeiro para novos pais e empreendedores.

Alargar a cobertura do Medicare para serviços de cuidados de saúde ao domicílio evitaria que os adultos trabalhadores tivessem de abandonar um emprego produtivo ou de gastar poupanças para cuidar de pais idosos. “É uma questão de dignidade”, disse ela no Anfiteatro Lakewood da cidade.

Harris participará dos cultos de domingo na Igreja Batista Missionária do Novo Nascimento, uma megaigreja de maioria negra no coração dos subúrbios negros de Atlanta, no sul do condado de DeKalb. Novo Nascimento e outras grandes igrejas negras em Geórgia tradicionalmente organizam uma campanha de “almas às urnas” nos primeiros dias de votação nos domingos.

Às 17h de sábado, cerca de 1,3 milhão de georgianos votaram pessoalmente, mais que o dobro do ritmo de 2020, no quinto dia de votação antecipada na Geórgia. Em 2020, cerca de 2,7 milhões dos 5 milhões de eleitores votaram pessoalmente mais cedo, com mais de dois terços dos votos expressos antes do dia das eleições. No entanto, os votos por correspondência caíram drasticamente, um reflexo do fim da pandemia e das mudanças nas regras de votação por correspondência.

A votação antecipada fornece feedback em tempo real para estrategistas de campanha que desejam atingir os eleitores que ainda não votaram. Os democratas pressionaram os seus apoiantes na Geórgia para que votassem no início de 2020 e 2022, uma estratégia que ajudou a levar o partido à vitória na corrida presidencial de 2020 e às duas vitórias vitais da Geórgia no Senado dos EUA.

“Geórgia, do nada, abrimos um caminho”, disse o senador norte-americano Jon Ossoff. “Esta é uma eleição que determinará o caráter da nossa república. Isto é muito mais profundo do que Democratas versus Republicanos. O ex-presidente Trump não está apto para a presidência.”

Mas até agora, neste ano, a votação antecipada nas zonas rurais e ex-urbanas da Geórgia, ricas em votos republicanos, ultrapassou as principais taxas de participação em Atlanta. Donald Trump encorajou claramente os seus apoiantes a votarem no início deste ano, um reconhecimento tácito do erro estratégico de 2020.

Os primeiros eleitores entre os democratas têm falado abertamente sobre a política de aborto que impulsiona os seus votos. As mortes de Amber Thurman e Candi Miller, duas mulheres da Geórgia que não tiveram acesso a serviços de saúde materna atempados ou a abortos legais, repercutiram na retórica eleitoral.

Usher em Atlanta hoje. Fotografia: Jacquelyn Martin/AP

“Vamos concordar, não é preciso abandonar a fé ou crenças profundamente arraigadas para concordar: o governo não deveria dizer-lhe o que fazer”, disse Harris. A manifestação exibiu clipes da família de Thurman descrevendo sua dor e, em seguida, de Trump zombando de sua perda em uma entrevista na prefeitura organizada pela Fox News.

“Ele menospreza a tristeza deles, falando sobre si mesmo e sobre sua audiência na televisão”, disse Harris. “É cruel.”

Mas o comício de Lakewood teve claramente como objetivo aumentar a participação e o entusiasmo entre os eleitores negros. Usher, um icônico músico e dançarino de R&B de Atlanta, falou cedo para a multidão, pedindo às pessoas que votassem antecipadamente em Harris e que entrassem em contato com amigos e familiares.

“A forma como votamos – quero dizer, tudo o que fizermos nos próximos 17 dias – afetará nossos filhos, nossos netos e as pessoas que mais amamos”, disse Usher.

Ryan Wilson, cofundador do centro de redes privadas Gathering Spot e notável empresário de Atlanta, discutiu a proposta de Harris de oferecer até US$ 50.000 em subsídios a empreendedores negros. “Isso teria sido uma virada de jogo para mim”, disse ele. “A agenda de oportunidades do vice-presidente Harris para homens negros que fornecem a pessoas como eu as ferramentas para alcançar riqueza geracional, reduzir custos e proteger os seus direitos. E o que Donald Trump faria? Acho que é justo dizer: nada.”



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