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O Acordo de Belém – 19/10/2024 – Candido Bracher

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O Acordo de Belém - 19/10/2024 - Candido Bracher

O ano de 2024 ficará conhecido entre nós como aquele em que se deu a aceleração dos efeitos do aquecimento global em nosso território; o momento em que as advertências se tornaram realidade. Ou, parafraseando o personagem falido de Hemingway, o ano em que deixamos o território do “gradualmente” para adentrar a esfera do “subitamente”.

Que outro entendimento seria possível diante das evidências das enchentes no Sul, dos incêndios que quase dobraram em relação ao ano anterior e da maior seca dos últimos 70 anos? Ainda que 2024 venha a se mostrar um ponto fora da curva, o quadro vivido evidencia que estamos entre os países mais vulneráveis aos efeitos do aquecimento. Estudo recente da Cepal (comissão econômica para a América Latina) estima que a região possa perder mais de 12% do seu PIB anual até 2050 em razão dos eventos climáticos.

Antes que as primeiras chuvas lavem a memória do fogo, precisamos fortalecer nossa determinação de enfrentar o problema. Para tanto, serão necessários o desenho de estratégias claras e a alocação de recursos, tanto para a adaptação ao novo cenário quanto para a mitigação do aquecimento global através da redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE).

A adaptação visa a reduzir a vulnerabilidade de pessoas, ecossistemas e infraestruturas aos eventos climáticos extremos. Consiste, por exemplo, na relocalização de populações em áreas vulneráveis e investimentos para detecção e combate ao fogo. É indispensável e enfrenta menor resistência dos políticos por gerar resultados imediatos e visíveis, mas não ataca as causas do aquecimento; apenas suas consequências. Apresenta, porém, a vantagem de poder ser executada autonomamente pelo país, sendo necessário, quando muito, alinhar-se com países vizinhos em casos pontuais.

Já a mitigação pressupõe um entendimento global, uma vez que não há fronteiras na atmosfera e os GEE emitidos por qualquer país geram efeitos para toda a Terra. É dessa questão que tratarei.

O desafio da mitigação apresenta-se nos seguintes termos gerais:

1) as emissões de GEE do mundo crescem desde a Revolução Industrial, com aceleração notável após a Segunda Guerra e novamente após o ano 2000. Hoje encontram-se em nível recorde em torno de 55 bilhões de toneladas-ano;

2) a ciência indica que, para limitar o aquecimento global a 1,5ºC ou 2ºC, será necessário reduzir a zero as emissões até 2050;

3) na conferência do clima (COP) de 2015 foi firmado o Acordo de Paris, no qual nações representando 98% das emissões globais comprometem-se a zerar suas emissões, com poucos países estendendo o compromisso além de 2050;

4) as evidências indicam que a implementação do acordo não vai bem. Os planos apresentados pelos países até agora apontam para uma elevação de 2,7ºC, muito superior ao tolerável e aproximadamente o dobro de elevação já incorrida. Mais grave ainda, o crescimento contínuo das emissões indica que nem mesmo esses planos estão sendo cumpridos.

Nesse cenário, acredito caber ao Brasil um papel relevante na superação do desafio. Podemos sonhar grande e buscar construir na COP30 o “Acordo de Belém”, um ponto de inflexão no caminho ao “net zero”.

O acordo consistiria basicamente no estabelecimento das precondições para a adoção de um preço global para o carbono.

Por que isso é importante?

O aquecimento global decorre de uma grande falha da economia de mercado. A não existência de um preço para as emissões de GEE levou a um uso abusivo desse recurso, culminando na situação em que qualquer emissão adicional provoca aquecimento. Já há pelo menos 30 anos sabe-se disso, e os economistas são unânimes em apontar a necessidade de um preço global para o carbono, como forma de desestimular as emissões e tornar competitivas mais rapidamente as “tecnologias verdes”, acelerando sua adoção.

Tudo parece muito lógico e razoável, a não ser pelo fato de que os maiores emissores atuais —China, EUA e Rússia— recusam-se a analisar seriamente a proposta. Essa situação me leva a pensar no aquecimento global como resultado de um “furto continuado”; nações mais ricas se apropriam de um recurso que pertence a todos (a capacidade da atmosfera de comportar GEE) e acham natural não pagar nada por isso. O mesmo raciocínio aplica-se se substituirmos “nações mais ricas” por “pessoas mais ricas”; todos os que estamos entre os 50% mais ricos do globo nos beneficiamos também desse “furto”, na medida em que nosso consumo implica emissões acima da média mundial.

Como funcionaria?

Diante da impossibilidade da implantação imediata de um preço global, o “Acordo de Belém” partiria do arcabouço do mercado regional de carbono mais desenvolvido atualmente, que é o da UE (União Europeia). A ideia é negociar a criação de um “Mercado Comum de Carbono” (MCC) mediante a adesão progressiva de diversas nações aos preceitos e parâmetros do mercado europeu. Países com mercados desenvolvidos, como Japão, Coreia do Sul e Austrália, poderiam ser os primeiros a aderir.

No caso do Brasil, por exemplo, a contrapartida para a adesão ao sistema de “cap and trade” europeu poderia ser a medição correta das emissões da agropecuária tropical, muito inferiores às das regiões temperadas, cujos parâmetros hoje são aplicados globalmente. A perspectiva de adiamento da lei antidesmatamento da UE, em que pese a justa frustração de muitos ambientalistas, augura positivamente quanto às possibilidades de negociação.

O mecanismo de imposto de carbono na fronteira (Cbam), aplicado pela UE para evitar a competição desleal por parte de países que não taxam o carbono, seria estendido para as fronteiras dos países-membros do MCC, que passariam a gozar de isenção, constituindo um poderoso mecanismo de atração para novos países.

À medida que as adesões evoluíssem e o mercado crescesse, cresceria também o ônus —moral e econômico— da não participação. Estariam assim lançados os princípios que poderão levar progressivamente a um preço global para o carbono, catalisando a adoção de novas tecnologias e aumentando as chances de estancar o processo de aquecimento da Terra.

A COP30, em Belém, apresenta o cenário ideal para que o Brasil assuma um papel de destaque no ciclo econômico de baixo carbono. Se não o fizer agora, quando o fará?


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Leia Mais: Folha

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Câncer de mama, cinco anos após o fim do tratamento: “Meu plano era sobreviver”

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Câncer de mama, cinco anos após o fim do tratamento: “Meu plano era sobreviver”

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Leia Mais: Le Monde

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Stranger Things 5: Duffers “Land The Plane” with Finale: David Harbour

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Stranger Things 5: Duffers "Land The Plane" with Finale: David Harbour

Posted in: Conventions, Events, Netflix, NYCC, Pop Culture, TV | Tagged: NYCC, stranger things


During a taping of Happy Sad Confused, David Harbour offered some insights into the final episode of Matt Duffer and Ross Duffer’s Stranger Things 5.


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With production on the final season rolling on, series star David Harbour is sharing some behind-the-scenes insights on the table read for the final chapter of Matt Duffer and Ross Duffer‘s Stranger Things 5. Joining Josh Horowitz for a special live recording of Horowitz’s Happy Sad Confused podcast during New York Comic Con 2024 (NYCC 2024) on Thursday night, Harbour reassured any fans’ concerns out there about how the Duffers will wrap the global phenomenon after five seasons, sharing that “they land the plane” with a finale that’s “the best episode they’ve ever done.”

When it came to the table read for that final episode, Harbour revealed that it was a serious kick to the “feels” for most of the cast. “The end of this [series finale] episode when we were reading it – just us reading it – about halfway through, people started crying. Then about the last 20 minutes, it was just uncontrollably crying, waves of different people. Noah Schnapp being my favorite,” Harbour added. “I think part of that also is the fact that these kids, it was their childhood. It’s 10 years later, and we examine that idea, and it’s so well done and so beautiful… It’s such a great episode, and it’s such a great season. You guys will love it.”

stranger things
STRANGER THINGS. (L to R) Noah Schnapp, Millie Bobby Brown, David Harbour, Winona Ryder, Cara Buono, Joe Keery, Amybeth McNulty, Charlie Heaton, Brett Gelman, Maya Hawke, Natalia Dyer, Jamie Campbell Bower, Priah Ferguson, Linda Hamilton, Gaten Matarazzo, Caleb McLaughlin, Ross Duffer, Matt Duffer, Finn Wolfhard, and Sadie Sink of STRANGER THINGS. Cr. Atsushi Nishijima/Netflix © 2024

Stranger Things 5 “Like Season One on Steroids”

During an interview with The Guardian, Ross & Matt discuss the pressures of ending the series in a way that works creatively and satisfies the audience’s expectations and how this final run with these characters will feel “like season one on steroids.”

“The nine hours that precede the ending can be amazing. But if you stumble at that one-yard line, people will never forgive you for that. And they’ll forget the previous nine hours of awesomeness! So it’s amazing what they will forgive if you score a touchdown at the end,” Matt Duffer explained when discussing their feelings on how series finales are viewed. “Endings of shows are like opening a restaurant in terms of the success-failure rate – there’s an 80% failure rate, I’d say. But I think one very particular way to fail is to attempt to appease everybody.”

Matt continued, “We have a huge variety of fans that span a huge age range, and I’m sure they have all their own ideas of how they want the show to end. But we’re not consulting social media on this. Then you just hope and pray that it resonates. But it was funny: once we got there, it just felt right, and we’re going to go for it!”

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As the duo had stated previously, the universe will live on after Stranger Things 5 – but the characters that viewers have grown to love & connect with will see their stories end with the fifth season. With that much on the line, the Duffer Brothers aren’t going out quietly. “This season – it’s like season one on steroids. It’s the biggest it’s ever been in terms of scale, but it has been really fun, because everyone’s back together in Hawkins: the boys and Eleven interacting more in line with how it was in season one. And, yes, there may be spin-offs, but the story of Eleven and Dustin and Lucas and Hopper, their stories are done here. That’s it,” Matt shared – before adding, “Outside of the play. So if you want to see more of some of them, go see the play.”

And don’t forget that Nell Fisher, Jake Connelly, Alex Breaux, and the amazing Linda Hamilton have joined the cast for the fifth and final season – here’s a look back at the video announcing Hamilton’s casting:

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Angelina Jolie e rapper Akala são vistos juntos – 19/10/2024 – Celebridades

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Angelina Jolie e rapper Akala são vistos juntos - 19/10/2024 - Celebridades

São Paulo

Angelina Jolie, 49, foi vista junto ao rapper Akala, 40, na estreia do filme “Maria” no 68º Festival de Cinema de Londres nesta sexta-feira (18)

De acordo com o jornal Daily Mail, os rumores de um romance da atriz com o músico britânico surgiram quando os dois foram vistos saindo de seu hotel durante o Festival Internacional de Cinema de Veneza em agosto.

Angelina foi vista em público várias vezes com Akala em meio à sua separação de Brad Pitt, embora fontes tenham dito à revista People que os dois são apenas amigos.

Na época do Festival de Cinema de Veneza, surgiram boatos de que Angelina estava vendo Akala há “mais de um ano”. Isso porque ele teria se juntado a Jolie e suas filhas Zahara, 19, e Shiloh, 18, no festival literário Calabash na Jamaica em maio de 2023.

Além de Zahara e Shiloh, Jolie e seu ex-marido Pitt compartilham os filhos Maddox, 22, Pax, 20, e os gêmeos de 15 anos Vivienne e Knox.

No entanto, uma fonte disse à People que Jolie “é amiga dele [Akala] e de sua parceira, Chanelle [Newman], que também estava lá”. Newman é sua parceira de negócios e gerente.

Ainda assim, Angelina e Akala compartilham um forte vínculo. Segundo disse uma fonte à People, eles compartilham uma paixão por causas sociais e humanitárias.

Akala, nascido Kingslee James McLean Daley, começou como rapper antes de migrar para o ativismo político. Sua irmã mais velha é a famosa cantora e rapper Ms. Dynamite.

Akala está supostamente em um relacionamento com Chanelle Newman, que é cofundadora e produtora executiva da música dele e da Hip-hop Shakespeare Company.

Mas esse não é o único rumor de romance envolvendo Jolie. A revista In Touch afirmou que a atriz tem visto outro homem também, o compositor da Broadway Justin Levine.

Angelina e Levine foram vistos juntos na última segunda-feira (14) em Nova York. Ele fez parte da produção da Broadway de “The Outsiders”, o musical que Angelina produziu.

Uma fonte também disse à revista que os homens são “totalmente diferentes”, mas Jolie está “se apaixonando por ambos”.



Leia Mais: Folha

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