Neste ano, tive a oportunidade de ir à Suíça, juntamente com uma delegação brasileira, para conhecer o sistema educacional do país. Fiquei impressionado com o que vi. O evento, organizado pela Fundação Lemann, promoveu uma frutífera troca de conhecimentos entre acadêmicos, empresários, professores e estudantes. Embora a realidade socioeconômica suíça seja diferente da brasileira, há algumas coisas que podemos, eventualmente, testar e adaptar por aqui.
A Suíça é conhecida pelo sistema de educação dual. O país faz uma forte integração entre formação acadêmica e prática. Isso permite que, enquanto ainda estão na escola, os alunos adquiram experiências reais no ambiente profissional. O sistema oferece diversas trajetórias para a formação, valorizando tanto as carreiras técnicas quanto as acadêmicas, permitindo assim que os estudantes alinhem suas formações de acordo com suas aspirações.
No modelo dual, o currículo é atualizado frequentemente para refletir as demandas atuais do mercado. Isso faz com que os estudantes desenvolvam habilidades relevantes e atualizadas para o mundo do trabalho. Além disso, a combinação do aprendizado teórico e prático ajuda a manter os alunos engajados, o que repercute em uma baixa evasão escolar.
A exposição a um ambiente de trabalho real também contribui para que os alunos desenvolvam habilidades interpessoais como trabalho em equipe, comunicação e resolução de problemas. Tal integração entre as instituições de ensino e o setor econômico do país resulta em uma força de trabalho mais produtiva que reverbera não somente em ganhos individuais mas também coletivos.
Contudo, o sistema também enfrenta críticas. As crianças são separadas em diferentes trajetórias acadêmicas com apenas 12 anos de idade. Isso tende a dificultar as potenciais mudanças de caminho posteriormente. O modelo suíço é fortemente direcionado para carreiras técnicas e vocacionais. Desse modo, há um menor incentivo para disciplinas de artes e humanidades, e tal fato pode limitar o pensamento crítico e a criatividade, especialmente em áreas que têm menor enfoque na produtividade.
Entretanto, talvez a grande lição que o sistema suíço ofereça ao Brasil esteja na valorização de todas as profissões. Na Suíça, não é apenas o título acadêmico que carrega prestígio, mas também as ocupações técnicas e manuais. No encontro, tive a oportunidade de conhecer um jovem de família abastada que, embora tivesse boas notas e pudesse ir para a faculdade, preferia trabalhar como jardineiro por gostar de atividades ao ar livre. Outro jovem, que trabalhava em uma fábrica, comentou que preferia trabalhos manuais aos intelectuais.
Essa liberdade de escolha, ancorada em uma ética de trabalho que respeita todas as vocações, é um passo que precisamos dar no Brasil. Nem todos precisam seguir o caminho universitário para encontrar dignidade e realização. Valorizar todas as formas de trabalho é relevante para criar uma sociedade em que cada indivíduo possa prosperar de acordo com suas próprias aspirações.
O texto é uma homenagem à música “Hemmige”, composta e interpretada por Mani Matter.
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