POLÍTICA
O inimigo interno
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Thomas Traumann
Resultado de dez anos de investigação, Cachorros – A história do maior espião dos serviços secretos militares e a repressão aos comunistas até a Nova República (Alameda Editorial, R$112) do jornalista Marcelo Godoy, é uma grande reportagem sobre o anticomunismo no Brasil. O título do livro remete ao nome dado pelos militares aos seus infiltrados – e nenhum “cachorro” foi tão importante nos anos 1970 quanto o dirigente do Partido Comunista Brasileiro Severino Theodoro de Mello, o Pacato. Cooptado ao ser preso, em 1975, Mello ajudou no desbaratamento do PCB, dando informações que levaram à prisão, tortura e morte de vários dos seus colegas. Foi um dos principais agentes duplos do Regime Militar e morreu em 2017, aos 100 anos, sem ser incomodado.
A história da dupla militância de Mello é reveladora de um fio condutor do livro de Godoy sobre a marca da história do PCB, os seus erros de avaliação de conjuntura, desleixo com informações sigilosas e crenças irrealistas numa revolução proletária. A péssima avaliação de correlação de forças levou ao fracasso da Intentona de 1935, que deixou quase 100 mortos e sedimentou até hoje o anticomunismo nos quartéis, e também ao despreparo para o golpe militar de 1964. Ter por mais de uma década entre seus dirigentes um agente duplo apenas coroa uma história de erros.
Em três ocasiões – 1936, 1964 e 1975 – o Exército obteve fichas detalhadas do Partidão produzidas internamente, com detalhes que ajudaram em muito a ação de repressão. Confiante que Jango venceria em 1964, Prestes fugiu abandonando 20 cadernetas, com 3.426 páginas com nomes de dirigentes, o que haviam dito e planos do partido ao longo de anos.
Em maio de 1947, quando o Tribunal Superior Eleitoral julgava se mantinha a legalidade do Partidão, os dirigentes estavam tão certos da vitória que não se prepararam. Confiavam nas promessas do presidente Eurico Dutra e do governador Adhemar de Barros e terminaram com o partido na ilegalidade, parlamentares cassados e sob intensa perseguição a todos os filiados. Proscrito, o Partidão se radicalizou. Recuou das políticas de alianças com a “burguesia progressista” como uma forma de “contenção das massas proletárias”. “Era a época em que um comunista não poderia ter um amigo que fosse da ‘canalha trotskista’; se o trotskista fosse um parente, os comunistas tinham de sair de casa. Casar-se só depois de o partido abençoar a união”, escreve Godoy. Em Minas Gerais, inspirados pela revolução chinesa, militantes tentaram criar uma área livre no Triângulo Mineiro. Terminaram quase todos presos.
No governo Goulart, o PCB incentivou a sindicalização dos praças para se infiltrar nas casernas. A quebra da hierarquia interna foi um dos vetores da radicalização dos oficiais para o golpe. “O partido não compreendeu que fora em defesa da ordem e da disciplina nos quartéis que o marechal Teixeira Lott depusera dois presidentes em 1955, passando por cima da Constituição. Insistiram na imagem de um general democrata que resistiria, enquanto estavam diante de um líder conservador”, escreve Godoy. Duas semanas antes do golpe, o líder comunista Luís Carlos Prestes defendia uma reeleição ilegal do presidente Jango Goulart. “O povo veio à rua para perguntar ao presidente da República se está disposto a colocar-se à frete do processo democrático e revolucionário que avança”, disse Prestes, referindo-se ao comício de Jango na Central do Brasil, que selou o golpe.
A ação de infiltrados como Mello acabou com o Partidão nos anos 1970. Quando chegou a anistia, em 1980, os anos de exílio e clandestinidade haviam resumido o partido a um grupo de velhos militantes amargurados. Rapidamente o PT assumiu a hegemonia na esquerda e o fantasma comunista passou a existir apenas na paranoia e nos discursos da direita radical.
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POLÍTICA
Efeito Trump: Aumenta pressão para Lula taxar prod…
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22 de janeiro de 2025José Casado
Reflexos das mudanças econômicas promovidas por Donald Trump já são percebidos em Brasília. Empresários brasileiros passaram a cobrar do governo Lula iniciativas de defesa no comércio com China. Querem aumento na taxação das importações de alguns produtos industriais chineses — entre eles, químicos e sideríurgicos.
É resultado preliminar e colateral da nova política comercial dos Estados Unidos. Depois da posse, na segunda-feira (20/1), Trump assinou decreto para revisão de todas as exportações para o mercado americano da China, classificada como “rival geopolítico”, e, também, de países considerados como competidores comerciais estratégicos em segmentos econômicos específicos, caso do Brasil em algumas matérias-primas e produtos industriais.
Ele autorizou a criação de um Serviço de Impostos Externos (ERS, na sigla em inglês) para centralizar a arrecadação todo tipo de taxas vinculadas ao comércio que julga “injusto e desequilibrado” com os Estados Unidos.
O objetivo, na prática, é restringir o acesso da China ao mercado e à tecnologia desenvolvida nos EUA, e, ao mesmo tempo, empurrar outros países à execução de políticas setoriais que provoquem aumento de custo dos produtos chineses em relação ao padrão americano.
O “efeito Trump” no Brasil foi automático em alguns setores industriais. Empresas de química e de siderurgia intensificaram a pressão sobre o Ministério da Indústria e do Comércio para liquidar o regime de cotas de importação, adotados recentemente. Querem substituí-los por aumentos lineares (acima de 25%) da taxação sobre todas as importações chinesas, inclusive na Zona Franca de Manaus. Temem eventuais prejuízos no acesso ao mercado americano.
No conjunto, as vendas do setor industrial brasileiro aos EUA somaram 32 bilhões de dólares no ano passado — equivalentes a 78% do valor total das exportações para o mercado americano.
As reações na indústria local à nova política comercial dos Estados Unidos sugerem uma equação política complexa para o governo Lula. Entre outras razões, porque na última década o país duplicou a sua dependência comercial da China, destino de um terço do valor total das exportações brasileiras no ano passado.
As vendas do Brasil ao mercado chinês somaram 104,3 bilhões de dólares em 2024. Foram 62% maiores que as realizadas para os para os EUA.
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POLÍTICA
O conselho de Ciro Nogueira a Bolsonaro sobre “a t…
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21 de janeiro de 2025Gustavo Maia
Ex-ministro da Casa Civil no governo de Jair Bolsonaro, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) divulgou um conselho ao ex-presidente em meio a troca de farpas dele com o senador Marcos Pontes (PL-SP) por conta da decisão do ex-astronauta de se lançar candidato à presidência do Senado contra Davi Alcolumbre (União Brasil-AP).
“Presidente Bolsonaro, pare de se preocupar com coisa inútil. Esse astronauta só é o que é graças ao senhor”, escreveu Nogueira no X (antigo Twitter), em referência ao fato de que Pontes foi ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações entre 2019 e março de 2022, quando deixou o cargo se candidatar a senador — com o apoio do então presidente.
“E está só mostrando o tamanho da ingratidão e da traição. Se for candidato, vai ter o mesmo número de votos que teria se fosse de foguete sozinho para a lua: só o dele!”, complementou o senador, que foi colega de ministério do ex-astronauta durante quase oito meses.
O PL, com o aval de Bolsonaro, apoia Alcolumbre, que conta com os votos declarados da maioria dos senadores. A candidatura de Pontes é independente e vai na contramão desse movimento — e da orientação do ex-presidente.
“Eu lamento você estar nessa situação, porque sabe que não tem como ganhar. Se formos embarcar na sua candidatura, que eu acho melhor que muitas outras aí, vamos ficar sem comissão. Você está pensando em você. É lamentável isso aí. Eu elegi você em São Paulo. Esse é o meu pagamento?”, declarou Bolsonaro nesta segunda-feira.
“Se não conseguimos ganhar nada com Rogério Marinho (senador do PL-RN, que foi candidato na eleição passada contra Rodrigo Pacheco), imagine com você”, complementou o ex-presidente. Ele argumentou ainda que o PL deve apoiar a candidatura de Alcolumbre para ter mais espaço no Senado e não deixar cargos da mesa diretora ou comissões importantes nas mãos da oposição.
Nesta terça, sem citar diretamente Bolsonaro, Pontes publicou nas redes sociais que “a arrogância pode fechar portas, mas a humildade sempre abrirá as janelas da sabedoria para novos horizontes”, reafirmando a sua candidatura.
PENSAMENTO DO DIA!
“A arrogância pode fechar portas, mas a humildade sempre abrirá as janelas da sabedoria para novos horizontes.
Pense, viva e aprenda!”Grande abraço espacial
Sim! Eu sou candidato à Presidência do Senado. Eleição dia 01 de Fevereiro 2025
CONTO COM SEU APOIO!… pic.twitter.com/2aCe0QfLU5— Astronauta Marcos Pontes (@astropontes) January 21, 2025
Em vídeo também publicado em suas redes sociais, Pontes disse que estava mantendo a sua candidatura por discordar do tratamento que Alcolumbre poderia dar a pautas caras à direita, como o impeachment de Lula e a anistia aos radicais do 8 de Janeiro. “Não estou aqui por ambição pessoal, mas porque eu acredito que o Senado deve responder a essas demandas com independência. Não tenho problema nenhum com a decisão do partido”, afirmou o senador.
As eleições para a presidência do Senado e da Câmara acontecem no próximo dia 1º, quando as atividades das Casas retornam. Entre os deputados, o nome que tem mais apoio é o do deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), que deve suceder Arthur Lira (PP-AL).
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POLÍTICA
Surpreso com repercussão, Lula diz que Haddad não…
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21 de janeiro de 2025 Daniel Pereira
O presidente Lula disse a auxiliares nesta terça-feira, 21, que a reclamação sobre a divulgação de portaria que “depois arrebenta e cai na Presidência da República” não era uma bronca endereçada ao ministro da Fazenda, Fernanda Haddad, ao contrário do que entendeu a maioria dos participantes da reunião ministerial realizada na segunda-feira, 20.
Em conversas reservadas, o presidente alegou que a declaração foi um alerta a todos os ministérios para que tomem cuidado com a repercussão política de suas iniciativas, mesmo aquelas que têm um viés eminentemente técnico, como foi o caso da portaria da Receita Federal sobre monitoramento de transações financeiras feitas por meio do Pix.
Lula foi obrigado a revogar a norma depois de a oposição usá-la para difundir a tese de que, a partir de sua implantação, haveria taxação do Pix e uma ofensiva do Leão sobre empreendedores e pequenos empresários. A Receita até tentou negar essa versão, tachando-a de mentirosa, mas não conseguiu equilibrar o jogo nas redes sociais. Diante do estrago de imagem, o governo recuou.
“Daqui para frente, nenhum ministro vai poder fazer uma portaria que depois crie confusão para nós sem que passe pela presidência através da Casa Civil. Muitas vezes a gente pensa que não é nada, faz uma portaria qualquer e depois arrebenta e cai na Presidência da República”, afirmou o presidente.
Falha na comunicação
Publicamente, prevaleceu a impressão de que houve uma reprimenda a Haddad. O momento não poderia ser pior para ele. Desde o fim do ano passado, quando o governo deixou de lado propostas do ministro e anunciou um pacote de corte de gastos considerado tímido por agentes econômicos, Haddad e a política econômica enfrentam uma crise de credibilidade.
Há dúvida se o governo conseguirá cortar despesas e deter o crescimento da dívida. Há dúvida também se Haddad terá força para impedir soluções populistas, como a tentação de baixar na marra a taxa de juros e o preço dos alimentos, duas obsessões de Lula, que deixou claro na reunião ministerial que a eleição presidencial de 2026 já começou.
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