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O poder moderador da democracia – 09/10/2024 – Maria Hermínia Tavares

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O poder moderador da democracia - 09/10/2024 - Maria Hermínia Tavares

“Votos tornaram-se pedras de papel” com as quais a classe operária derrubará o edifício do capitalismo. A frase, citada aqui de memória, é de um otimista Friederich Engels (1820-1895), quando, nos anos 1880, os socialistas decidiram participar a sério das eleições parlamentares na recém-criada Alemanha. Com a conquista do sufrágio universal —masculino que fosse—, o parceiro de Karl Marx (1818-1883) imaginou que seria possível aos trabalhadores abolir a propriedade privada pela via eleitoral, dispensando barricadas e insurreições.

A decisão de participar de eleições —além de ensejar o grande cisma socialista entre reformistas e revolucionários— teve resultados bem diferentes dos esperados. Os partidos social-democratas, ao enveredar pela via parlamentar, abandonaram o fim último de liquidar o capitalismo, transformando-se na grande força propulsora de sua reforma progressista, que mais de meio século depois desaguaria nos Estados de Bem-Estar.

De fato, os partidários do socialismo parlamentar adaptaram-se ao jogo democrático, no qual o êxito político depende da capacidade de ganhar votos suficientes para formar maiorias. A meta os levou a moderar programa e objetivos, para ir mais além de seu eleitorado-raiz.

Esse mecanismo próprio da disputa democrática autêntica é detalhado no livro de Adam Przeworski e John Sprague, “Paper Stones – a History of Electoral Socialism” (1986), um clássico à espera de tradução para o português. Longe de ser apenas uma análise da trajetória da social-democracia europeia, o estudo revela uma espécie de lei da política competitiva que se aplica a partidos e lideranças progressistas contemporâneos.

Não foi outro o caminho percorrido pelo PT —o que de mais próximo o Brasil teve de um partido social-democrata temporão—, que, de resto, já nasceu ancorado na arena eleitoral. Não parece ser diferente a trilha seguida por Guilherme Boulos (PSOL), que disputa a Prefeitura de São Paulo.

Dele vêm sendo cobradas pelos adversários a sua origem no MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), movimento social de luta pela moradia por meio da ocupação de imóveis vazios; a sua atitude ambígua com relação ao Hamas; e outras manifestações passadas de radicalismo político de esquerda. Elas são contrastadas com o discurso moderado que deu a tônica da campanha atual, apresentado ora como traição a suas origens, ora como disfarce de ocasião para enganar o eleitor incauto.

Nem uma coisa nem outra. A moderação presente no discurso do candidato da centro-esquerda parece antes reiterada comprovação do efeito virtuoso das regras da corrida eleitoral em regimes democráticos. Tão mais presente quando a vitória necessita que se conquiste a maioria do eleitorado, como ocorre no segundo turno da disputa.

De resto, a moderação exigida para vencer nas urnas continuará imperativa quando se trata de governar uma cidade como São Paulo, na qual os problemas são tão grandes quanto numerosos os interesses a compatibilizar e fragmentada a representação partidária na Câmara Municipal, onde a esquerda é minoritária.


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Netanyahu ‘rejeita com desgosto’ mandado de prisão do TPI – DW – 21/11/2024

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Netanyahu ‘rejeita com desgosto’ mandado de prisão do TPI – DW – 21/11/2024

Os países ocidentais reagiram à notícia do mandado de detenção do TPI para o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, com respostas que vão desde a rejeição total até à aceitação, na sua maioria, cautelosa.

Alguns dos que se enquadram nesta última categoria disseram que prenderiam Netanyahu se ele chegasse ao seu território, e alguns apenas sugeriram que o fariam.

O União EuropeiaO principal diplomata do país, Josep Borrell, disse que os mandados não eram políticos e que a decisão do tribunal deveria ser respeitada e implementada.

A França disse que agiria de acordo com a noção de “combate à impunidade”.

“A nossa resposta irá alinhar-se com estes princípios”, disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Christophe Lemoine, embora admitindo que se trata de uma “questão jurídica complexa”.

Holanda foi mais direto, com o Ministro dos Negócios Estrangeiros holandês, Caspar Veldkamp, ​​a dizer ao Parlamento: “Não nos envolveremos em contactos não essenciais e agiremos de acordo com os mandados de detenção. Cumprimos integralmente o Estatuto de Roma do TPI”.

NoruegaO ministro dos Negócios Estrangeiros, Espen Barth Eide, disse apenas: “É importante que o TPI cumpra o seu mandato de forma criteriosa. Tenho confiança de que o tribunal prosseguirá com o caso com base nos mais elevados padrões de julgamento justo”.

IrlandaO primeiro-ministro do Iraque, Simon Harris, disse que a emissão dos mandados foi “um passo extremamente significativo”, acrescentando que qualquer pessoa em posição de ajudar o TPI na realização do seu trabalho vital deve fazê-lo “com urgência”.

Nos EUA, que, tal como Israel, não é membro do tribunal, a tendência parecia ser para a rejeição total, pelo menos no Acampamento republicano.

O senador republicano dos EUA Lindsey Graham, um aliado próximo do presidente eleito Donald Trumpdisse no X, antigo Twitter, que “qualquer nação que se junte ao TPI após este ultraje é parceira de um ato imprudente que atropela o Estado de Direito”.



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29% dos brasileiros têm algum medo com relação às vacinas – 21/11/2024 – Equilíbrio e Saúde

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29% dos brasileiros têm algum medo com relação às vacinas - 21/11/2024 - Equilíbrio e Saúde

Laiz Menezes

Uma pesquisa de opinião pública divulgada nesta quinta-feira (21) mostrou que 29% dos brasileiros têm algum medo com relação às vacinas. Os possíveis efeitos adversos são o principal motivo para o receio da população na hora de se imunizar, segundo o estudo conduzido pelo instituto Ipsos, uma das líderes globais no fornecimento de pesquisas no Brasil.

Das 2.000 pessoas entrevistadas online entre os dias 30 de outubro e 6 de novembro, 74% afirmaram já terem recebido alguma informação falsa sobre a vacinação. Dessas, 41% disseram ter encontrado fake news nas redes sociais.

Quase 30% dos entrevistados, todos acima de 18 anos, já deixaram de se vacinar ou recomendaram que outros não se vacinassem devido a dúvidas sobre segurança e eficácia das vacinas. Outros 10% decidiram não se vacinar por causa de informações recebidas virtualmente ou de amigos e parentes.

Cerca de 10% dos participantes são descrentes em relação às vacinas, sendo mais propensos a acreditar em fake news. Mais da metade desse grupo é composto por pessoas acima de 55 anos, com leve predominância masculina e maior presença nas classes C, D e E.

A pesquisa, encomendada pela biofarmacêutica Takeda e feita com a colaboração da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), buscou entender as percepções sobre dengue e vacinação em geral. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais, com intervalo de confiança de 95%.

Para o médico infectologista Renato Kfouri, presidente do departamento de imunizações da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) e vice-presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), o Brasil passa pelo enfrentamento a hesitação vacinal como um novo fenômeno social.

“Esses hesitantes ou céticos, apesar de serem uma parcela menor da população, fazem muito barulho e ocupam muito espaço nas redes sociais”, diz.

Com relação à vacina contra a dengue, disponibilizada pelo Ministério da Saúde às crianças e aos adolescentes de 10 a 14 anos, os resultados da pesquisa da Ipsos mostram que 88% das pessoas veem o imunizante como uma medida eficaz de prevenção à doença.

Outros 35% dos participantes, no entanto, revelaram já ter escutado informações que desencorajam o uso do imunizante com as justificativas de que a vacina teria sido desenvolvida muito rapidamente, que não seria eficaz e que teria efeitos colaterais graves.

Renato Kfouri afirma que os profissionais da saúde ainda não estão preparados para conversar com pessoas que não querem se vacinar, porque não foram preparados para isso. “Temos uma formação para vender a ciência, mas ainda não temos essa escuta empática, tem que ser uma construção para todos nós.”

“Qualquer vacina e intervenção têm seus efeitos colaterais, custos e estratégias a serem implantadas, mas estamos sempre buscando um benefício para população quando pensamos em saúde pública, nunca terá mais riscos que benefícios”, acrescenta.

De acordo com a Ipsos, a garantia de proteção, segurança e disponibilidade da vacina contra a dengue na rede pública são os principais motivadores para a vacinação. Mídias sociais e influência de amigos e familiares têm menor impacto, mas são relevantes entre parcela dos mais jovens.

O Brasil foi o primeiro país do mundo a disponibilizar vacinas contra a dengue no sistema público de saúde. Produzida pelo laboratório japonês Takeda, o imunizante Qdenga tem as mesmas contraindicações que outras vacinas feitas a partir de vírus vivo, ou seja, não deve ser tomada por gestantes e lactantes e pessoas com imunodeficiência.

Pais com filhos entre 4 e 17 anos foram 43% dos participantes da pesquisa. Embora cautelosos, eles são o público com atitudes mais positivas em relação à vacinação em geral, com o hábito de buscar informações seguras e prestar atenção às campanhas de imunização.

No entanto, esse grupo está mais exposto a fake news, principalmente em redes sociais e canais pessoais como WhatsApp. Por isso, apesar de o conhecimento sobre a gravidade da dengue ser reconhecido pela população, ainda há desafios.

Presidente da SBI, Alberto Chebabo diz que a população opta por não se vacinar porque podem não sentir tanto o efeito positivo da vacinação nos dias atuais, já que os imunizantes foram responsáveis por eliminar os maiores riscos, como no caso da Covid.

“A vacinação acabou com várias doenças aqui no Brasil. Não temos mais varíola, sarampo, poliomielite, rubéola. As pessoas não veem mais ninguém doente com essas doenças que matavam tanto anteriormente e isso faz com que se perca o medo”, diz.

O infectologista ressalta que as vacinas passam por um protocolo rígido de segurança antes de serem disponibilizadas para uso. Para ele, as pessoas se preocupam com os efeitos adversos porque não veem mais os efeitos que as doenças tinham antes dos imunizantes, mas que nenhum efeito colateral se compara aos sintomas e gravidades de uma doença.

O projeto Saúde Pública tem apoio da Umane, associação civil que tem como objetivo auxiliar iniciativas voltadas à promoção da saúde





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Cesta básica fica 1,15% mais cara em outubro na capital paulista

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Cesta básica fica 1,15% mais cara em outubro na capital paulista

Camila Boehm – Repórter da Agência Brasil

A cesta básica na capital paulista teve um aumento de 1,15% em outubro na comparação com o mês anterior, segundo levantamento do Procon-SP feito em parceria com o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

O valor em 30 de setembro era de R$ 1.268,03, passando para R$ 1.282,60 em 31 de outubro. Os grupos higiene pessoal e limpeza tiveram queda de 2,04% e 0,63%, respectivamente, enquanto o grupo alimentação registrou alta de 1,60%.

Na alimentação, os maiores aumentos foram em carne de segunda sem osso (8,71%), carne de primeira (7,44%), café em pó (6,49%), óleo de soja (5,5%) e farinha de trigo (5,49%).

Considerando os últimos 12 meses, a pesquisa revelou que o aumento da cesta foi de 8,52%, tendo como base outubro de 2023. No período, o grupo alimentação teve alta de 9,89% e higiene pessoal, de 3,69%, enquanto limpeza teve queda de 3,2%.

Os produtos do grupo de alimentação com maior variação positiva, nos últimos 12 meses, foram batata (48,35%), café em pó (33,05%), arroz (28,97%), alho (24,46%) e leite (24,15%).

Os motivos que justificam as oscilações nos preços dos produtos da cesta básica são vários, explica o Procon-SP, dependendo do item analisado. As causas incluem problemas climáticos, questões sazonais, excesso ou escassez de oferta ou demanda pelos produtos, preços das commodities, variações cambiais, formação de estoques e desonerações de tributos.

Em relação às carnes de primeira e segunda, o Procon-SP apontou que as condições climáticas – estiagem e queimadas – e o aquecimento das exportações brasileiras contribuíram para o encarecimento da carne bovina no mercado interno.

Com a reduzida oferta global de café, em especial no Vietnã, as demandas foram direcionadas ao Brasil, e as exportações também cresceram, e o longo período sem chuvas já prejudica o desenvolvimento da próxima safra no país.

Em relação ao óleo de soja, o órgão indica que sua valorização no mercado externo, a maior demanda interna pelas indústrias de biodiesel e de alimentos e a alta nos prêmios de exportação resultaram no encarecimento do óleo no varejo. A alta do trigo e derivados, incluindo a farinha, ocorreu devido à baixa produtividade no estado, analisou o Procon-SP.



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