POLÍTICA
O PT aceitará os planos de Haddad e Galípolo?
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Matheus Leitão
O anúncio do pacote contendo os cortes de gastos deixou em polvorosa atores políticos e econômicos. O mercado não viu com bons olhos o tão esperado plano vir acompanhado da correção da tabela do Imposto de Renda e da consequente isenção para quem ganha até cinco mil reais. Não poderia ser diferente, dada a surpresa com que se soube do assunto. A atitude da equipe econômica, contudo, se justifica em vários aspectos. O plano de Haddad parece ir na direção certa do jogo. A pergunta é se o partido do ministro vai entender o outro lado da disputa e encarar os custos das medidas da Fazenda.
Do ponto de vista político, a medida é mais do que acertada. Os números comprovam isso muito bem. Do total de eleitores, 44% ganha entre dois e cinco salários e menos da metade avalia como ótimo ou bom quando o assunto é aprovação do governo Lula. Nesse sentido, e para honrar o compromisso de campanha, era mais do que necessário seguir em frente com a proposta de isentar essa faixa da população. Haverá, evidentemente, um preço.
O primeiro recado de que será cobrado um custo para a tramitação da isenção foi dado pelos presidentes das casas legislativas, Lira e Pacheco, que já disseram que o assunto fica para o ano que vem. Por meio do “X” e nota oficial, ambos acalmaram os mercados dizendo que o corte de gastos será votado ainda esse ano e o restante das medidas ficará para o próximo ano e que tudo dependerá do equilíbrio fiscal para aprovação. Há um não dito aí, mas que é óbvio ao governo: toda e qualquer medida só será possível mediante o ânimo e a barganha dos novos presidentes de Câmara e Senado junto à articulação do governo Lula.
No que diz respeito ao Congresso e aos futuros custos de uma tramitação favorável ao governo, há um ator importante a ser considerado, que é Flávio Dino. Lembremos que o ministro do Supremo Tribunal Federal tem travado o repasse de emendas. Fato que desagrada parlamentares que fazem romaria principalmente a Lira em busca de uma solução.
A outra conta a ser paga – essa bem mais difícil – serão as decisões do novo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo. Se as medidas de Haddad ajeitam de um lado, as do Banco Central terão de arrumar de outro e dessa dupla dependerá o sucesso econômico para que Lula ou quem vier representando a chapa petista seja competitivo daqui a dois anos.
O cálculo não é tão difícil: se as contas se ajeitam mediante cortes e outras tantas decisões da Fazenda; de outro, terá de haver um ajuste ao controle da inflação, ao que tudo indica mediante a subida dos juros, o que trará alguma retração na economia. O tema, sabemos, é ponto inflexível para o PT, que entende que é preciso crédito na praça.
O que não poderá se perder de vista é a impossibilidade de chegar a 2026 com inflação em alta e o poder de compra corroído. E se é preciso agradar os 44% já citados que estão na faixa dos dois a cinco salários mínimos, não dá para perder de vista os 30% que compõem os que ganham até dois salários e são maioria absoluta ao aprovarem o governo do PT (70%). Um olho ficará na classe média e o outro, portanto, no poder de compra do mínimo, porque os cortes atingirão essa faixa da população.
Se o cálculo não é difícil, a equação política será tensa porque agora não haverá mais presidente do Banco Central “morando fora do Brasil” – em alusão a uma das muitas críticas de Lula e do PT a Campos Neto, nem uma diretoria com maioria indicada por Bolsonaro. Sobrará Haddad, Galípolo e todos os indicados de Lula com a difícil missão de agradar parte do governo, o mercado e o PT. Tudo para não chegar nas eleições de 2026 com o quase pleno emprego de agora e com o poder de compra no chão, criando uma sensação de desalento das faixas médias e baixas do eleitorado o que, a se ver com a eleição americana, não reelege ninguém.
* Rodrigo Vicente Silva é mestre e doutorando em Ciência Política (UFPR-PR). Cursou História(PUC-PR) e Jornalismo (Cásper Líbero). É editor-adjunto da Revista de Sociologia e Política. Está vinculado ao grupo de pesquisa Representação e Legitimidade Democrática (INCT-ReDem). Contribui semanalmente com esta colun
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A real intenção de Bolsonaro na ação para tirar Mo…
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37 minutos atrásem
2 de dezembro de 2024 Marcela Rahal
Está marcado para o próximo dia 6 o julgamento do recurso apresentado pelo ex-presidente Bolsonaro para tirar o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes do julgamento da trama golpista. A defesa alega que, por ser vítima no processo, o magistrado não poderia relatar, participar e julgar o caso. Mas, nos bastidores, aliados reconhecem que a chance do STF afastar Moraes é muito pequena ou quase nula.
Ministros do Supremo ouvidos pela coluna também dizem que a decisão deve ser unânime para manter o relator no processo. O recurso já havia sido recusado pelo presidente da Corte, Luis Roberto Barroso, em decisão monocrática, em fevereiro. À época, a Procuradoria Geral da República entendeu que a ação não tem um alvo específico, e sim, um ataque às instituições.
O que está por trás dessa ação, então, é usar o julgamento para tentar convencer a população de que o ministro está perseguindo o ex-presidente, tese amplamente defendida pelo bolsonarismo.
Inelegível, Bolsonaro quer, além de ganhar capital e apoio político, tentar se defender das investigações contra ele. Cada vez mais acuado por tamanhas evidências de sua participação na tentativa de golpe, reveladas pela Polícia Federal, o ex-presidente dispõe de poucas alternativas e vê essa estratégia como a arma mais eficiente para evitar uma prisão e tentar reverter sua situação por meio de uma anistia. Basta saber se esse discurso vai colar.
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POLÍTICA
O primeiro pré-candidato ao Planalto vem logo depo…
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2 de dezembro de 2024Valmar Hupsel Filho
Apesar da sombra de Pablo Marçal, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), já tem data para lançar sua pré-candidatura à Presidência da República. Em um sábado de março de 2025, após o Carnaval, Caiado vai receber o título de cidadão honorário da Bahia e começará por Salvador o seu giro pelo país de olho na disputa pelo Planalto, em 2026.
A capital baiana é reduto eleitoral de Antônio Carlos Magalhães Neto, o ACM Neto, vice-presidente nacional do União Brasil. Além disso, o prefeito soteropolitano, Bruno Reis, foi reeleito no primeiro turno com o apoio de mais de 1 milhão de eleitores (78,67% dos votos válidos) e foi um dos campeões nacionais de votos. Caiado pretende, ao longo de 2025, se tornar mais conhecido para o eleitorado nacional.
O governador goiano está no segundo mandato, conseguiu vencer o ex-presidente Jair Bolsonaro em uma queda de braço nas eleições municipais em Goiânia e acredita que o Palácio do Planalto é o seu último – e maior – desafio na trajetória político-partidária. Em 1989, nas primeiras eleições presidenciais após a ditadura militar, Caiado foi candidato pela primeira vez. O pleito foi marcado por uma profusão de postulantes à Presidência – foram 22 candidaturas. Depois, Caiado foi deputado federal, senador e, enfim, governador.
Marçal admite Caiado à frente
Caiado poderá ter, no entanto, um concorrente interno. Em entrevista a VEJA, o coach Pablo Marçal disse que está em conversas avançadas para uma filiação com o União Brasil, não escondeu que sonha em ser candidato a presidente em 2026, mas reconheceu a experiência de Ronaldo Caiado na disputa pelo cargo. “Quando eu estava nascendo, ele já batia com essa questão do conservadorismo”, diz.
Nos bastidores, porém, há uma disputa velada entre os presidenciáveis. Aliados de Marçal avaliam que as pesquisas de intenção de voto é que definirão o candidato ao Planalto e apostam na popularidade do coach. Já o entorno de Caiado se diz cético quanto à filiação do terceiro colocado nas eleições de São Paulo e dizem que ele busca se valorizar com as conversas que tem com o presidente do partido, Antonio Rueda.
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Thomas Traumann
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva produziu uma derrota a partir de uma vitória. Na mesma semana em que o seu principal adversário, Jair Bolsonaro, foi formalmente indiciado pela Polícia Federal por ter “planejado, atuado e dominado” a trama por um golpe de Estado, Lula combinou dois anúncios econômicos em um único, e piorou as perspectivas políticas e econômicas para 2025. Na pior semana do governo deste ano, o dólar ultrapassou os R$ 6, os juros futuros chegaram perto dos 14%, ministros publicamente disseram discordar de decisão do presidente e o Congresso tomou para si o poder de não aprovar a principal bandeira para a reeleição em 2026.
Diante do risco de uma retração econômica no ano que vem, as provas de envolvimento de generais e ministros de Bolsonaro para impedir a posse de Lula viraram notícia de rodapé. Com o anúncio do pacote, Bolsonaro deixou de ser notícia. Agora quem está no canto do ringue apanhando muito é o próprio Lula.
O presidente Lula sabia dos riscos. No final da tarde da segunda-feira, dia 25, depois da reunião ministerial que decidiu incluir o anúncio da isenção de R$ 5 mil no anúncio do ajuste fiscal, o presidente teve uma conversa privada com o ministro Fernando Haddad e o futuro presidente do BC, Gabriel Galípolo. Os dois expuseram ao presidente os riscos do anúncio da isenção do imposto neste momento, anteciparam a reação negativa do mercado financeiro e projetaram um cenário de juros altos e contaminação da inflação. O presidente respondeu que já havia ouvido os argumentos, que estava decidido e previu que, em algumas semanas, o mercado financeiro se acalmará.
Lula venceu, direta ou indiretamente, cinco das últimas seis eleições presidenciais. Nenhum brasileiro chegou perto disso. Ele ressuscitou politicamente depois um câncer, quatro anos de investigação policial e 580 dias preso para derrotar um adversário que preparava um golpe de Estado para permanecer no poder. Entre as avaliações dos seus principais conselheiros econômicos e sua intuição, Lula escolheu a si mesmo.
Foram quatro semanas de discussões, mais de 20 reuniões nos Palácios do Planalto e do Alvorada e, como definiu um ministro que acompanhou o processo, ao final nenhum assessor tinha mais ânimo para contrabalançar o presidente. Lula concluiu que um anúncio de ajuste nos gastos sociais sem uma contrapartida teria reflexos diretos na sua popularidade e insistiu até achar ministros que concordassem com ele.
A intenção inicial de Fernando Haddad era produzir um ajuste de despesas que resgatasse a credibilidade do arcabouço fiscal perante os investidores. O resultado foi o oposto. A credibilidade fiscal afundou e a única âncora agora é a política monetária, o que significa que os juros devem subir mais do que se previa até uma semana atrás.
Parte da reação estrondosa do mercado financeiro se deve a um erro básico de comunicação do governo: nunca se tratou de um pacote de corte de gastos, mas de um ajuste do crescimento das despesas públicas. Não tinha como dar certo desde o início, mas a surpresa de o ajuste vir acompanhado de uma medida já mirando as eleições de 2026 piorou tudo.
A decisão de Lula trará um preço alto a pagar. O mais imediato será um novo patamar de dólar, certamente acima de R$ 5,8. É realista um cenário no qual um dólar perto dos R$ 6 contamine a inflação corrente, desencore as expectativas inflacionárias, obrigue o Banco Central de Gabriel Galípolo levar os juros para 14%, afunde o crédito, impacte no crescimento e torne o país mais vulnerável à eventuais turbulências externas.
O cenário internacional é ruim para o Brasil com o governo Trump. No sábado, por exemplo, o futuro presidente americano ameaçou sobretaxas os países do BRICS, entre eles o Brasil, se o bloco mantiver o projeto de não usar dólares nas suas transações.
O efeito mais doloroso para Lula, no entanto, pode estar na política. Com o terremoto no mercado, Arthur Lira e Rodrigo Pacheco surgiram para posarem de mocinhos. Em declarações por escrito, ambos defenderam ajustes até mais restritivos do que os propostos pelo governo, mas não se comprometeram com a reforma da renda, a principal bandeira de Lula para 2026. Na política, o nome disso é chantagem. O custo para Lula aprovar a reforma da renda no Congresso se multiplicou por 10.
O presidente corre o risco de atravessar 2025 com uma economia em retração, confronto com o governo americano e um Congresso em vantagem para cobrar mais por menos.
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