Michael Viriato
Você já correu uma maratona ou conhece alguém que já participou de uma? No começo, todos largam cheios de energia. Alguns saem acelerando, outros seguram o ritmo. Conforme a corrida avança, os que exageraram no início começam a desacelerar, enquanto os que dosaram o esforço ganham vantagem. O segredo para completar bem a prova não está na largada, mas em entender quando ajustar o ritmo ao longo do percurso.
Nos investimentos, acontece algo parecido. O mercado segue ciclos, e quem entende como eles funcionam consegue tomar decisões mais inteligentes. O investidor comum, porém, tende a agir no impulso, investindo no que está em alta e evitando aquilo que está em baixa – exatamente o contrário do que deveria fazer. Howard Marks, um dos maiores investidores do mundo, ensina em seus memorandos e em seu livro “Dominando o ciclo do mercado” que o segredo não está em prever o futuro, mas em reconhecer onde estamos no ciclo e ajustar a estratégia a partir disso.
Hoje, vivemos um momento importante no ciclo da renda fixa. A Selic subiu de 10,5% para 13,25% ao ano e deve alcançar 14,25% ainda neste mês e pode subir ainda mais caso a inflação se mantenha acima da meta. Entretanto, sabemos que os investidores sobre reagem tanto no otimismo quanto no pessimismo. Isso quer dizer que existe a possibilidade de a taxa de juros básica da economia não subir acima de 14,25% ao ano. Adicionalmente, um arrefecimento econômico mundial, pode trazer juros mais baixos a frente.
Com a alta da Selic, muitos acreditam que concentrar a carteira de renda fixa em títulos pós-fixados é a melhor escolha, pois o CDI está oferecendo ótimos retornos. Mas quem pensa assim pode estar ignorando a lógica do ciclo e perdendo uma oportunidade nos próximos meses.
Quando os juros estão subindo, os títulos atrelados ao CDI são, de fato, a melhor opção. Como acompanham a Selic, garantem o maior retorno do momento sem o risco da marcação a mercado. Mas, segundo Marks, os melhores retornos surgem quando ninguém está prestando atenção. O investidor inteligente sabe que, em algum momento, os juros atingirão um pico e a estratégia precisará mudar.
Os títulos prefixados e os indexados ao IPCA são os que mais sofrem quando os juros sobem. Como suas taxas são definidas no momento da compra, eles perdem valor à medida que novas emissões oferecem retornos mais altos.
No entanto, é justamente essa queda momentânea que cria as oportunidades do ciclo. Quando os juros atingem seu ponto mais alto, quem investe nesses papéis consegue garantir taxas extremamente vantajosas para os próximos anos e ainda se beneficiar da valorização caso a Selic volte a cair. O segredo está em entender quando esse pico será atingido. Infelizmente, só sabemos com segurança depois que passou.
Imagine um investidor que comprou toda a carteira títulos referenciados ao IPCA em 2020 e 2021, quando a Selic estava em 2%. O rendimento parecia ótimo na época, mas, com a alta dos juros, ele ficou preso a uma taxa baixa enquanto novas emissões passaram a pagar muito mais.
O erro? Concentrar e ignorar o ciclo. Agora, o cenário se inverteu: os juros estão elevados, e os títulos prefixados e IPCA+ podem, finalmente, oferecer taxas atraentes no futuro com a queda dos juros. Não estou dizendo que já atingimos o máximo e a exposição a eles deve ser elevada, mas que sair desses indexadores neste momento pode ser um erro.
Marks destaca que a maioria dos investidores age movida por emoção, comprando ativos apenas quando o mercado já os precificou para cima e evitando-os quando estão baratos. É por isso que, na renda fixa, muitas pessoas correm para os prefixados só depois que os juros começam a cair, ou seja, quando as melhores oportunidades já passaram.
O investidor inteligente sabe equilibrar sua carteira de acordo com o ciclo. Hoje, manter uma parte relevante da carteira no CDI ainda faz sentido, pois os juros continuam subindo. Mas também não é hora de descartar títulos prefixados e referenciados ao IPCA, pois o fim desta alta é incerto e pode estar próximo.
A lógica dos ciclos de Marks não exige prever o futuro. Basta reconhecer quando estamos perto de um extremo e ajustar a estratégia para o que vem a seguir. Assim como em uma maratona, não adianta largar com tudo ou segurar demais. O segredo é saber o momento certo para acelerar e garantir uma chegada vencedora.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
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