Nicholas Nehamas
O ex-presidente americano Barack Obama buscou transferir a energia de seu movimento político para a vice-presidente Kamala Harris em um comício na noite de quinta-feira (24), nos arredores de Atlanta, enquanto tentava ajudar a impulsioná-la até a linha de chegada nas eleições de novembro.
“Juntos, temos a chance de escolher uma nova geração de liderança neste país”, disse Obama a uma multidão de 23 mil pessoas em estádio na cidade de Clarkston, na Geórgia. “E começar a construir um país melhor, mais forte, mais justo e mais esperançoso.”
Quando Kamala subiu ao palco, ele levantou o braço dela como um boxeador em celebração. Ela rapidamente pareceu tentar adotar seu mantra, liderando a plateia, a maior que ela atraiu desde que se tornou a candidata democrata, em um coro de “Sim, nós podemos”, slogan da campanha de Obama em 2008.
“Milhões de americanos foram energizados e inspirados não apenas pela mensagem de Barack Obama, mas por como ele lidera”, disse Kamala depois que ele cedeu o púlpito a ela. “Buscando unir em vez de nos separar.”
Ela prosseguiu atacando o ex-presidente Donald Trump como um autoritário “pouco sério”, mas perigoso, que prejudicaria os americanos em suas vidas cotidianas, mesmo enquanto minava a democracia da nação.
Neste ano, a campanha da democrata espera usar o poder dos políticos mais populares do partido e grandes celebridades para energizar seus eleitores da base. Obama e Kamala foram acompanhados na quinta pelo roqueiro Bruce Springsteen, que tocou um set de três músicas com guitarra e gaita e acusou Trump de disputar a eleição para se tornar um “tirano americano”.
A agenda de campanha de Kamala está repleta de famosos. Ela deve aparecer ao lado de uma das maiores estrelas da atualidade, a cantora Beyoncé, na noite desta sexta-feira (25) em Houston. No sábado, a candidata fará um comício com Michelle Obama em Michigan.
A amplitude dos artistas celebridades de Kamala na quinta reflete a coalizão que ela está tentando construir. No evento havia Springsteen, especialmente amado por americanos mais velhos e brancos; o ator e comediante Tyler Perry, popular entre as mulheres negras e que fez um discurso apaixonado sobre crescer na pobreza; e proeminentes artistas negros, incluindo Spike Lee e Samuel L. Jackson.
Jake Schneider, diretor de resposta rápida da campanha de Trump, desconsiderou seu impacto sobre os eleitores, dizendo que “depender de celebridades não é nada novo para o partido dos elites de Hollywood.”
Lá Fora
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Kamala e Obama são amigos de longa data, e ela o apoiou em detrimento a Hillary Clinton em 2007, quando era procuradora distrital de San Francisco, desafiando a maioria estabelecida no Partido Democrata.
A Geórgia é um dos principais estados de batalha, e a cidade de Atlanta, com uma significativa população negra, é o maior impulsionador dos votos democratas. Mas o apoio da vice-presidente entre os eleitores negros, especialmente os homens, tem sido menor do que o habitual para um democrata concorrendo à Presidência. Neste mês, Obama sugeriu que a culpa é do machismo.
Em 2020, Joe Biden venceu a Geórgia por menos de 13 mil votos, a primeira vez que um democrata carregou o estado em uma eleição presidencial desde 1992.
Sua vitória —impulsionada, em parte, por mudanças demográficas e um esforço democrata concertado para alcançar novos eleitores no estado— deixou o partido sonhando com uma repetição nesta eleição. Mas as pesquisas mostram uma corrida extremamente acirrada.
Ambas as campanhas responderam despejando recursos na Geórgia, onde mais de 2 milhões de pessoas já votaram. Trump visitou o estado na quarta (23) pela segunda vez em oito dias, e a viagem de Kamala na quinta foi a segunda em uma semana.
Assim como em outros lugares, a campanha de Trump tem se concentrado na economia e na imigração na Geórgia. Enquanto tenta provocar medo sobre o aumento de migrantes cruzando a fronteira durante grande parte do governo Biden, o ex-presidente frequentemente citou a morte de Laken Riley, uma estudante de enfermagem de 22 anos que as autoridades disseram ter sido morta por um imigrante que entrou no país ilegalmente.
A campanha da democrata enfatizou os direitos ao aborto como uma questão importante na Geórgia, onde o procedimento é proibido, na maioria dos casos, a partir da sexta semana de gestação, quando a atividade cardíaca começa a ser detectada.
Na campanha, Kamala e seus aliados contaram as histórias de Amber Thurman e Candi Miller, duas mulheres da Geórgia que morreram após atrasos no tratamento decorrentes da proibição, de acordo com reportagem da ProPublica.
Kamala x Trump
De Washington, a correspondente da Folha informa o que importa sobre a eleição dos EUA
Embora Kamala tenha sido bem recebida em Clarkston, havia o risco em seguir Obama, um dos oradores políticos mais talentosos da nação. Enquanto ela falava, alguns membros da multidão, que tinham esperado por horas no calor, começaram a se dirigir para as saídas.