Os tênis e sapatênis acabaram com um profissão que outrora era comum na cidade: a dos engraxates. Hoje são raros os homens e mulheres que fazem questão de manter seus sapatos brilhantes.
Esses clientes são basicamente advogados, profissionais do mercado financeiro e funcionários públicos. Os trajes impecáveis deixaram de ser uma exigência do trabalho e as pessoas passaram a se vestir de maneira mais informal.
É uma profissão em vias de extinção. Na praça Antônio Prado, no começo da avenida São João, sobrevivem dois quiosques de engraxates que são os últimos do Centro. Eles se chamam Engraxataria São Paulo e se situam ao lado da Bolsa de Valores e perto da BMF (Bolsa Mercantil de Futuros).
Trabalham ali oito engraxates, que atendem cerca de 15 pessoas por dia cada um e cobram R$ 20,00 para deixar um par de sapatos reluzente. O serviço demora de 15 a 20 minutos. No lugar também é possível comprar calçados e cadarços.
A profissão tem história. Conta a lenda que ela nasceu em 1806, quando Napoleão governava a França e um operário poliu, em sinal de respeito, as botas de um general e foi pago com uma moeda de ouro pela iniciativa.
No Brasil, os primeiros engraxates surgiram no final do século 19 e eram jovens imigrantes italianos, que circulavam com caixas de madeira, graxa e escovas.
Na Itália, quem prestava o serviço eram garotos chamados de “sciusciàs”, cuja rotina foi retratada em um filme de Vittorio De Sica, em 1946. Além de engraxar sapatos, eles também vendiam doces e dispunham de um jornal do dia para entreter o cliente.
O inventor da cadeira de engraxate foi o americano Morris Kohn, em 1890, que patenteou vários outros equipamentos, como diligências e carrinhos de mão para comércio ambulante.
A Engraxataria São Paulo existe desde 1890 e o atual decano dos engraxates da praça Antônio Prado é Fernando Guimarães, de 46 anos, que vai completar 30 anos no ofício em 2025.
Segundo ele, o lugar resiste por causa da clientela do antigo centro financeiro da cidade que ainda mantém a tradição de cuidar dos sapatos. “Mas os bancos saíram da região e muitos advogados, depois da pandemia, passaram a fazer o trabalho em home office”, diz. O movimento caiu.
Guimarães conta que tem clientes fixos e alguns gostam tanto do seu trabalho que engraxam seus sapatos com ele há quase três décadas.
A maioria absoluta da clientela é de homens, mas cerca de 20% são mulheres. Todos os engraxates do local são parentes e amigos.
A Engraxataria São Paulo ocupa belos quiosques de madeira que já passaram por várias reformas desde os anos 1990. Até algum tempo atrás o negócio era patrocinado pela BMF, que bancava a manutenção. Hoje não qualquer patrocínio.
Guimarães lembra que quando começou a trabalhar ali, o serviço custava R$ 2,00 e ele lustrava cerca de 40 pares de sapato por dia. Para cumprir as metas atuais, ele trabalha diariamente quase 12 horas.
“Com meu trabalho consegui manter a família, eu, minha mulher, quatro filhos e quatro cachorros. Mas quero encontrar um trabalho mais tranquilo no futuro e aproveitar mais a vida”, diz.
Ele lembra que antigamente tinham engraxates em vários pontos do Centro, inclusive na praça da Sé. Mas hoje nem ambulantes há mais. A profissão definha.
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