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Os riscos do marco temporal à biodiversidade – 23/01/2025 – Ciência Fundamental

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Os riscos do marco temporal à biodiversidade - 23/01/2025 - Ciência Fundamental

Pedro Lira

As terras indígenas ocupam cerca de 13% do território nacional. Distribuídas majoritariamente na Amazônia Legal, elas estão no centro de uma discussão judicial em torno do marco temporal, tese segundo a qual os povos originários só podem reivindicar terras que ocupavam ou disputavam quando a Constituição Federal de 1988 foi promulgada.

A fim de avaliar os impactos do marco temporal, pesquisadores da Universidade Federal de Goiás utilizaram técnicas de modelagem de nicho ecológico para prever a distribuição de espécies de vertebrados ameaçadas nesses territórios. O estudo, publicado na revista “Biological Conservation“, avaliou 147 espécies de vertebrados terrestres ameaçadas de extinção, das quais 126 são preservadas dentro dos territórios indígenas.

Ou seja: nessas terras vivem 85,7% das espécies ameaçadas. Mas o que chama a atenção é que as áreas homologadas após 1988 –sob risco do marco temporal–, ou que ainda estão sob disputa, preservam 80,27% e 74,8% dessas espécies, respectivamente. Todos os anfíbios ameaçados que o grupo analisou, por exemplo, se encontram exclusivamente nas terras que estão sob risco do marco temporal.

No total, a pesquisa avaliou 495 terras indígenas —tanto territórios demarcados antes da Constituição de 88 quanto territórios demarcados depois, bem como as demais áreas sob disputa— e concluiu que 478 terras indígenas estão sob risco do marco temporal. Ou seja, as comunidades indígenas podem perder seus direitos à terra em cerca de 9 mil km².

A modelagem matemática é um método que, a partir da localização das espécies, tenta prever sua distribuição em uma larga escala. “Com base nos registros de ocorrência desses animais, reunimos informações sobre as condições ambientais ideais para sua sobrevivência e delimitamos um limite de tolerância onde elas conseguem habitar”, explica o ecólogo Pablo Silva, um dos cientistas responsáveis pelo estudo.

Com alguns ajustes matemáticos, eles puderam projetar essas condições ambientais ideais nos territórios analisados e constatar quais são adequadas para a sobrevivência das espécies. “Assim, conseguimos delimitar a sua distribuição com base nos requisitos ecológicos”, aponta o pesquisador.

Embora as terras indígenas sejam 8% menos extensas que a soma das unidades de conservação do país, elas abrigam uma riqueza de espécies quase equivalente, além de mais espécies ameaçadas.

O artigo quantificou também o estoque de carbono nessas áreas, sugerindo que a tese, se adotada, pode afetar negativamente os esforços pela mitigação das mudanças climáticas. Utilizando dados do MapBiomas que calculam a média de estoque de carbono nacional, os pesquisadores fizeram um recorte e mediram apenas as áreas de preservação e os territórios indígenas, e descobriram que a quantidade de estoque de carbono em terras indígenas é significativamente maior do que em unidades de conservação brasileiras.

Segundo Pablo Silva, embora a pesquisa tenha evidenciado o papel das terras indígenas em preservar a biodiversidade e atenuar os efeitos das mudanças climáticas, ainda são necessários estudos para entender o impacto mais amplo do marco temporal nesses territórios. Mas é fato que, com taxas reduzidas de desmatamento e incêndios florestais, as terras indígenas contribuem para a proteção da biodiversidade ameaçada de extinção.

*

Pedro Lira é jornalista e social media no Instituto Serrapilheira.

O blog Ciência Fundamental é editado pelo Serrapilheira, um instituto privado, sem fins lucrativos, de apoio à ciência no Brasil. Inscreva-se na newsletter do Serrapilheira para acompanhar as novidades do instituto e do blog.


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Afinal, o tesouro de Guelph é a arte que bateu nazista? – DW – 02/10/2025

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Relicários, cruzamentos, imagens de santos, finamente em relevo em ouro e prata, situado com madrepérola, quartzo e marfim: o Tesouro de Guelph é sem dúvida um dos tesouros mais importantes da Igreja da Idade Média.

Os Guelphs são a casa principal mais antiga da Europa e a família acumulou um tesouro de objetos de valor.

O tesouro compreende 44 obras -primas da arte da igreja medieval e tem um valor de centenas de milhões de euros.

Atualmente, pode ser admirado no Gemäldegalerie em Berlim – mas isso pode mudar em breve. Se a Fundação Cultural do Patrimônio Prussiano (SPK), que atualmente detém os objetos, é o legítimo proprietário ou se eles são arte nazista agora é uma questão em aberto.

Um relicário de ouro ornamentado, em forma de igreja abobadada, com figuras, fica em uma vitrine de vidro.
Esse relicário abobadado foi feito no final do século XII. Está atualmente em exibição no Museu Bode de BerlimImagem: Stephanie Pilick/AP/Picture Alliance

Mas o caso parecia claro: durante o Era nazistaO tesouro de Guelph foi vendido ao Estado Prussiano por um consórcio de traficantes de arte judaica de Frankfurt que o adquiriram da Princely House em 1929.

Após a Segunda Guerra Mundial, tornou -se propriedade da Fundação Prussiana do Patrimônio Cultural.

Dez anos atrás, o Comissão Consultiva No retorno da propriedade cultural apreendida como resultado da perseguição nazista (também conhecida como Comissão de Limbach) decidiu que o tesouro de Guelph não era saqueado de arte. O painel de especialistas aparentemente não encontrou evidências de que a venda havia sido forçada pelos nazistas. Um processo movido pelos descendentes nos tribunais dos EUA para o retorno do tesouro de Guelph foi demitido em 2023.

Tugo de guerra legal sobre o tesouro de Guelph

O Herdeiros judeus exigia restituição desde 2008, e começou um cabo de guerra legal. A Fundação Prussiana Cultural Heritage estimou o valor do tesouro em € 100 milhões, os herdeiros requerentes em 260 milhões de euros. Os documentos descobertos nos arquivos do estado da Hessiana em 2022 sugerem que a venda do tesouro de Guelph não era tão voluntária quanto anteriormente assumida.

EUA Washington 2024 | Sucesso da Fundação de Propriedade Cultural da Prússia em frente à Suprema Corte na disputa sobre Welfenschatz
Como se eles quisessem dar a sua opinião: relicários do ARM do tesouro de Guelph no Museu de Artes Decorativas de BerlimImagem: Alina Novopashina/DPA/Picture Alliance

Afinal, a venda estava sob coação?

De acordo com esses documentos, Alice Koch-uma co-proprietária judaica do Guelph Treasure, que possuía um quarto de participação-recebeu 1.115.000 Reichsmark em 1935, mas a soma foi imediatamente exportada dela novamente como um “imposto de fuga de reich”.

“O imposto sobre vôo do Reich era um instrumento usado para desviar os ativos dos cidadãos judeus que queriam deixar o país”, disse o advogado das vítimas de Berlim, Jörg Rossbach, à emissora RBB. “Sem pagamento do imposto de voo de Reich, não havia certificado de autorização fiscal; sem um certificado de liberação fiscal, não havia licença de saída”.

Um documento anteriormente desconhecido mostra que Alice Koch recebeu uma avaliação do imposto sobre vôo do Reich por um milhão de marcares. Sem ele, ela não teria sido capaz de fugir da Alemanha nazista. Apenas quatro dias após o recebimento da avaliação tributária, Alice Koch pagou, recebeu um “certificado de autorização” do cargo de impostos e conseguiu deixar o país.

O caso agora será reaberto?

Hermann Parzinger falando em uma conferência de imprensa.
O presidente de saída da SPK, Hermann Parzinger, diz que ficou claro que o tesouro de Guelph não é arte nazista. Isso mudará agora?Imagem: Monika Skolimowska/DPA/Picture Alliance

Este é um ponto de virada no caso do tesouro de Guelph? Não é exatamente: a Comissão de Arte Leotada só pode reabrir o caso se a Fundação Primeira Prussiana concordar. Depois de meses de hesitação, parece pronto para fazê -lo.

“O SPK concordaria com uma indicação”, diz a fundação em comunicado, “desde que os requisitos sejam esclarecidos de acordo com as regras de procedimento”. Para fazer isso, teria que entrar em contato com a Comissão e os advogados dos herdeiros de Alice Koch novamente “para esclarecer as questões pendentes”.

O presidente da Comissão, advogado Hans-Jürgen Papier, por outro lado, quer trazer mais velocidade ao assunto: “O SPK é (…) obrigado a concordar com uma referência à Comissão sem demora. O exame de A admissibilidade é de responsabilidade exclusiva da Comissão “.

Um altar românico portátil ornamentado, feito de ouro, incrustado em Quarzt azul, branco e verde, com inscrições em latim.
O altar portátil medieval de Eilbertus também faz parte do tesouro de GuelphImagem: Markus Schreiber/AP/Picture Alliance

Embora ainda não exista lei de restituição na Alemanha, o país está comprometido com os princípios da Declaração de Washington de 1998. Segundo isso, “soluções justas e justas” podem ser encontradas para a arte nazista.

Até agora, essa tem sido a tarefa do que é conhecido como Comissão de Limbach, em homenagem a seu primeiro presidente, o falecido juiz constitucional Jutta Limbach. Mas, no futuro, casos disputados serão decididos por tribunais de arbitragem, que podem ser chamados por uma única parte, diferentemente do passado.

Este artigo foi publicado originalmente em alemão.



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O cravo e a ferradura do Supremo Tribunal Federal – 23/02/2025 – Marcelo Leite

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O cravo e a ferradura do Supremo Tribunal Federal - 23/02/2025 - Marcelo Leite

Gilmar Mendes iria presidir nesta segunda (24) o último encontro da comissão especial que inventou para relativizar o direito de povos indígenas às suas terras, mas adiou os trabalhos por 30 dias a pedido da AGU. A Constituição diz que tal direito é originário, precede a própria carta, mas o decano do Supremo Tribunal Federal (STF) entende que ela autoriza negociá-lo.

O ministro compilou uma minuta de lei complementar arbitrando o “conflito operado entre as posições do STF”, que negou a tese do marco temporal, “do Congresso Nacional, sedimentada na lei 14.701/2023 [marco temporal], e da sociedade brasileira, representada por indígenas e não indígenas”.

“Sociedade brasileira” é construção duvidosa, diante das investidas ruralistas contra povos originários. O ministro escreveu que ela “se fez representada e ouvida em escuta ativa e respeito às diversidades culturais, sociais e econômicas de todas as [sic] matizes políticas”.

Não se pode chamar de “escuta ativa” uma câmara de conciliação em que indígenas seriam minoria e da qual decidiram ausentar-se. Não há conciliação quando as partes não estão em igualdade, com titulares de direitos originais submetidos a interessados em usurpá-los.

A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) abandonou as reuniões em agosto. Representando 279 etnias, considerou “que dali poderia sair um dos maiores retrocessos da política indígena desde 1988”.

Não chega a configurar excludente de ilicitude que o Ministério dos Povos Indígenas tenha participado das reuniões, pois há muito eles não são mais tutelados pelo Executivo. O MPI, de todo modo, repudiou o projeto de Gilmar por incluir disposições sobre mineração que não resultaram de “construção conjunta”.

Soa hipocrisia autocongrulatória, assim, dizer que a comissão buscava a “cocriação de soluções, em uma ambiência de governança colaborativa judicial”. É comum o juridiquês pernóstico servir como verniz de justiça, mas tal enormidade merece atenção de Madame Natasha (com a vênia de Elio Gaspari).

Interessados em explorar terras indígenas se apegam à brecha no parágrafo 6º do art. 231 da Constituição: “São nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os atos que tenham por objeto […] a exploração das riquezas naturais do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes, ressalvado relevante interesse público da União” (grifo meu).

A minuta de Gilmar define que “constituem relevante interesse público da União […] as seguintes atividades: atividades de segurança nacional e proteção sanitária; obras de infraestrutura destinadas aos serviços públicos de transporte, sistema viário, saneamento, energia, telecomunicações, radiodifusão e a exploração de recursos minerais estratégicos; e atividades e obras de defesa civil”.

Nesses casos, diz a proposta, a Presidência da República poderá decidir seguir com a exploração mesmo quando a comunidade indígena for contrária. Às favas com o “direito à consulta livre, prévia, informada de boa-fé”. Bastam a autorização do Congresso e a cobiça de cupinchas em governos municipais e estaduais.

Perpetua-se assim a violência colonial que autoriza detentores do poder maior a atropelar o direito natural de quem os precede na posse e no usufruto do território. É isso que o STF chama de justiça?


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Os enlutados participam do funeral do ex -líder do Hezbollah, Nasrallah, no Líbano | Notícias do Hezbollah

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Os enlutados participam do funeral do ex -líder do Hezbollah, Nasrallah, no Líbano | Notícias do Hezbollah

Dezenas de milhares de pessoas embaladas em um estádio em Beirute para participar o funeral do ex -líder do Hezbollahquase cinco meses depois que ele foi morto em um ataque aéreo israelense a um subúrbio sul da capital libanesa.

Hassan Nasrallaho líder do grupo por mais de 30 anos e um de seus fundadores foi morto em setembro do ano passado, quando a Força Aérea de Israel caiu mais de 80 bombas na sala de operações do grupo.

Os enlutados vestidos de preto, alguns bandeiras do Hezbollah ou carregando retratos de Nasrallah, reunidos no funeral em massa, atrasados ​​por causa de preocupações de segurança. Muitos homens, mulheres e crianças do Líbano e além caminharam a pé no frio que chegam ao local da cerimônia.

Retratos gigantes de Nasrallah e Hashem Safieddine – o sucessor escolhido de Nasrallah morto em outra operação aérea israelense antes que ele pudesse assumir o cargo – estavam rebocados em paredes e pontes em South Beirute. Os dois foram temporariamente enterrados em locais secretos.

Ali Daamoush, o funcionário do Hezbollah disse a repórteres que cerca de 800 personalidades de 65 países participariam do funeral, além de milhares de indivíduos e ativistas de todo o mundo.

Nasrallah será colocado para descansar mais tarde no domingo em Beirute, enquanto Safieddine será colocado para descansar em sua cidade natal, no sul do Líbano.

O Hezbollah colocou telas gigantes ao longo da estrada do aeroporto e do lado de fora do estádio para pessoas que não tinham espaço dentro para assistir ao funeral. As medidas de segurança apertadas incluem o fechamento das estradas principais na área do funeral e a interrupção dos vôos de e para o aeroporto de Beirute por quatro horas. O exército e a polícia libaneses estão alertas, e o uso de drones em Beirute e seus subúrbios durante o dia foi proibido.

Horas antes do início do funeral, os militares israelenses lançaram uma série de ataques no sul do Líbano.



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