O chefe da Casa Civil, Rui Costa, e o assessor especial da Presidência da República, Celso Amorim, chegam a Pequim nesta terça-feira (15) à tarde para uma semana de negociações, visando fechar os anúncios a serem feitos durante a visita de Estado do líder Xi Jinping a Brasília, em 20 de novembro.
Será uma missão executiva. As propostas do Brasil para o eventual investimento chinês foram fechadas em reuniões ao longo da última semana, buscando convergência com órgãos como o MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), chefiado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin.
O foco das negociações lideradas por Costa em Pequim será infraestrutura, de forma ampla, com integrantes da equipe chinesa voltada à Iniciativa Cinturão e Rota (BRI, na sigla em inglês). Pelo que se apurou nas últimas semanas, em conversas reservadas com autoridades brasileiras e chinesas, o Brasil se prepara para entrar formalmente no programa.
A filiação do Brasil à BRI é uma demanda de anos por parte de Pequim. O projeto chinês tem como alvo infraestrutura no exterior, inclusive logística, e acaba de completar uma década. Sua principal obra na América do Sul, o porto de Chancay, no Peru, deve ser aberto também em novembro e com a presença de Xi.
O presidente Lula pode comparecer, mas não é certo. Ele foi convidado para a cúpula da Apec (sigla em inglês para o fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacifico) no mesmo período, no Peru, mas o próximo mês será de encontros multilaterais em série, inclusive a cúpula do Brics em Kazan, na Rússia, e do G20 no Rio de Janeiro.
Também está em preparação uma eventual visita do presidente dos EUA, Joe Biden, à Amazônia, onde seria recebido por Lula às vésperas do G20.
Um dos negociadores chineses com o Brasil, falando informalmente em Pequim, se negou a admitir a possibilidade de fazer acordos em novas áreas para o país entrar na BRI. Lula, dias antes, havia declarado que a filiação dependeria do que a China oferecesse, por exemplo, em investimentos na área de tecnologia.
Segundo o funcionário, o programa chinês já alcançou formato estabelecido e firme, após uma década, e não deveria passar por mais negociação.
Por outro lado, economistas como Huo Jinguao, ex-presidente da Academia Chinesa de Comércio Internacional, passaram a defender o uso de investimentos chineses no exterior, inclusive joint ventures, como forma de contornar o crescente protecionismo, inclusive no Brasil. Segundo ele, “a China entende o Brasil, que precisa de tempo para resolver” questões como as tarifas sobre o aço.
Do lado brasileiro, a resistência de partes do governo à BRI teria se enfraquecido, com a aproximação cada vez maior com Pequim –simbolizada na recente cerimônia em que Xi concedeu a medalha da Amizade à ex-presidente Dilma Rousseff, na presença de toda a cúpula do regime.
A aproximação não se limita ao governo federal. Estava sendo preparada para este final de ano uma visita à China do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que vem de uma série de negócios com empresas chinesas no setor de transporte. A viagem teria sido adiada para o início do ano que vem devido à campanha municipal.
O foco das conversas desta semana em Pequim será econômico, mas Amorim deve ter novo encontro com o chanceler Wang Yi, com o qual lançou um plano de paz para a Ucrânia, cinco meses atrás. Em seguida, o assessor viaja para a Rússia, para acompanhar Lula na cúpula do Brics.
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