O prefeito reeleito de Porto Alegre Sebastião Melo (MDB) projeta que o primeiro ano de sua nova gestão será marcado por discussões urbanísticas na cidade. Dentre elas, o esforço pela revitalização do centro, uma das áreas mais afetadas pela enchente de maio, e o envio do Plano Diretor à Câmara de Vereadores no primeiro semestre de 2025.
Outro tema a ser debatido é a concessão de serviços do DMAE (Departamento Municipal de Água e Esgotos), defendida por Melo durante a campanha como necessária para garantir a adequação ao marco legal do saneamento.
Em entrevista à Folha, Melo analisou o resultado do segundo turno e os fatores que garantiram sua reeleição neste domingo (27) com 61,53% dos votos, contra 38,47% de Maria do Rosário (PT).
O emedebista também criticou a postura da esquerda no debate político em Porto Alegre, e os apelidos que recebeu durante a campanha. “A provocação deles de me chamarem de chinelão é a demonstração do afastamento deles”, disse. “E levaram uma chinelada, porque o povo deu neles”.
Ao que o senhor atribui o resultado positivo do segundo turno nestas eleições?
O primeiro acerto político foi ampliar a aliança que já vinha dando certo. Na minha avaliação, também acertamos em não entrar em disputas ideológicas. A eleição não era sobre a Venezuela ou Cuba, era sobre os temas da cidade.
Acho também que as minhas opositoras fizeram uma leitura de que ia reduzir a eleição às enchentes, e o povo compreendeu que as dores das enchentes são as dores do prefeito também. Não dá para reduzir uma eleição de muitas transformações a isso. Seja qual prefeito que estivesse aqui, não seria diferente do ponto de vista das águas que chegaram, porque o sistema mostrou-se insuficiente.
Se a eleição fosse em junho, talvez fosse diferente. Acho que o passar do tempo para as pessoas refletirem um pouco também foi definidor. Agora a eleição terminou, não tem terceiro turno, mesmo que tenha tido dureza de um lado e do outro. Quem ganha tem vários papéis, um deles é olhar para frente, e é o que vamos fazer.
A abstenção no segundo turno chegou a quase 35%, superando os 31,51% do primeiro turno. A que o senhor atribui essa alta?
Já fui defensor do voto obrigatório e hoje sou defensor do voto facultativo porque, de fato, ele acontece no país. O povo hoje não se sente representado. A abstenção também passa por atitudes, como dizer uma coisa na eleição e outra depois da eleição. São muitos fatores que levam a essa situação que chegamos.
Mas tem que ter urbanidade nas divergências. Eu consigo conviver com o PT e o PSOL sem ser descortês com eles, e eles não conseguem conviver comigo sem ser descorteses. É “Melo chinelão”, “Fora melo”, isso não ajuda na democracia.
Ao que o senhor atribui a dificuldade da esquerda em apresentar uma candidatura competitiva?
Acho que essa conexão, de ouvir verdadeiramente, talvez o PT perdeu um pouco. Uma coisa é discursar para os pobres, outra coisa é viver lá. Segundo, enfrentar os problemas na vida real. Terceiro, ser transparente com seus atos. Vi a Maria do Rosário dizer, está hoje nos jornais, “nós da esquerda temos que fazer uma reflexão”.
A provocação deles de me chamarem de chinelão é a demonstração do afastamento deles da vila. Ou seja, eles se colocam como uma elite que diz que representa o povo e chama o prefeito que é popular de chinelão. E levaram uma chinelada, porque o povo deu neles.
O próximo ano deve ter a votação do novo Plano Diretor da cidade. Como o senhor vê a influência das enchentes neste debate?
O Plano Diretor é a lei mais importante de uma cidade. Às vezes se reduz a discussão a um limite de altura de prédios, eu acho isso profundamente equivocado.
Pretendo enviá-lo no primeiro semestre. No Plano Diretor, a palavra final sempre é da Câmara. Da minha parte, espero que seja levado em conta que Porto Alegre tem áreas de risco, e não apenas por causa das enchentes que ocorrem em algumas partes da cidade.
Defendo o adensamento onde há infraestrutura. Foi um erro no Brasil ter expandido as cidades para áreas onde muitas vezes falta água, esgoto, transporte, escolas, etc. Quando alguém se muda para esses locais, leva duas horas para chegar ao trabalho. A mobilidade precisa ser discutida.
O centro de Porto Alegre sofre com problemas de segurança pública e obras inacabadas. Como você pensa em abordar a questão no seu novo mandato?
Vou chamar um grande seminário para discutir o centro. Eu topo diminuir o IPTU do centro, mas mediante um pacto. Não vou diminuir IPTU para a calçada continuar igual, para a sujeira continuar igual. Cidade boa para viver é aquela que o poder público faz sua parte, mas que a sociedade também faz a sua. Nós precisamos terminar as obras do centro, atrair moradores e ter uma vida ali, porque quando as luzes começam a apagar num bairro e não tem vida, a bandidagem toma conta.
RAIO-X
Sebastião de Araújo Melo, 66
Nascido em Piracanjuba (GO), se mudou para Porto Alegre ainda jovem para estudar e trabalhar. Filiado ao MDB desde 1981 e formado em direito, foi eleito vereador em 2000 e reeleito em 2004 e 2008. Em 2012, tornou-se vice-prefeito com José Fortunati (PDT). Concorreu à prefeitura em 2016, perdendo para Nelson Marchezan Jr. (PSDB), mas venceu em 2020 contra Manuela d’Ávila (PCdoB). Reeleito, terá maioria na Câmara. Sua vice, Betina Worm (PL), é veterinária e tenente-coronel e será a primeira mulher no cargo
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