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Por que a demora na denúncia contra Bolsonaro é ruim

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Por que a demora na denúncia contra Bolsonaro é ruim

Matheus Leitão

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O ministro Alexandre de Moraes deve remeter à Procuradoria-Geral da República (PGR), na segunda-feira, 25, o relatório do inquérito sobre a participação de Jair Bolsonaro na tentativa de golpe. A PGR, no entanto, só deve oferecer eventual denúncia contra o líder da extrema-direita no próximo ano e não no início de dezembro, como se esperava.

Tal demora é um ruim. Nos Estados Unidos, a demora nas ações que inevitavelmente condenariam Donald Trump permitiu que, mais uma vez, ele disputasse e ganhasse a eleição, usando a democracia contra ela mesma. Bolsonaro já está inelegível, mas a impunidade fortalece as mentiras que ele usa para se vender e mobilizar seguidores.

Quanto maior o intervalo entre a entrega do relatório e o oferecimento da denúncia – tudo bem, são 37 textos individualizadas a serem construídos pela PGR – dá a Bolsonaro uma oportunidade para consolidar suas narrativas construídas com base em distorções e desinformação.

É inaceitável que o país, de novo, fique à mercê das narrativas recorrentes e dissimuladas do ex-presidente e de seu entorno –sobretudo após tantos episódios alarmantes como o ataque contra a sede da PF dezembro de 2022, a tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023 e, agora, o ataque a bomba contra o STF em novembro de 2024.

Protelar as medidas enérgicas e legais é dar espaço para o grupo que vem colocando a democracia na corda bamba. Quem incentivou septuagenários a invadirem prédios públicos continuará sendo alimentado por teorias sem conexão com o mundo real.

À medida em que o processo se estende, Bolsonaro tem mais espaço para ganhar apoio e influenciar a opinião pública com sua interpretação dos eventos, que muitas vezes flerta com a desinformação. Isso levanta questões sobre a abordagem das autoridades: enquanto a meticulosidade é necessária para assegurar a integridade das acusações, o prolongamento pode, inadvertidamente, favorecer as estratégias de defesa de Bolsonaro.





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POLÍTICA

A vida não é uma corrida

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A vida não é uma corrida

Arthur Pirino

Você já ouviu falar da “falácia de Davos”? É a ideia simples de que quem ganha mais, está no top 1%, é mais inteligente. Achei ótimo esse conceito. Ele corresponde, grosso modo, a uma certa mitologia em torno da meritocracia, segundo a qual “os melhores se dão bem na vida”. O ponto é um grupo de pesquisadores suecos que, no ano passado, publicou uma pesquisa mostrando que isso não é bem assim. Eles analisaram os sucessos na vida de 59 000 homens, comparando suas habilidades cognitivas, medidas quando eram jovens, com sua renda anual, quando adultos. O resultado mostra que até um padrão de 60 000 euros a capacidade cognitiva fazia a diferença. Depois disso, muito pouco. O grupo do top 1% quase nada tinha a ver com o dos mais inteligentes, se pensarmos em termos de habilidades lógicas e intelectuais. A pesquisa termina com um mistério. O que causaria a desigualdade nos estratos mais altos de renda? De onde viria o sucesso, se é que isso pode ser medido de alguma maneira?

Uma hipótese trata do impacto das habilidades não cognitivas. Coisas como “a motivação, a sociabilidade, a criatividade, a disciplina mental e a capacidade física”. Apelando um pouco à filosofia, diria que nossos pesquisadores esqueceram um item essencial: a sorte. Lembro de Hayek perguntando se alguém acha que uma “voz afinada, um rosto bonito, uma mente poderosa” dependem de algum tipo de mérito moral. E quem sabe coisas bem mais fortuitas. Nosso bilionário Eduardo Saverin, por exemplo, que um dia deu de cara com um nerd, no dormitório da faculdade, e emprestou uma grana. Um tal de Zucker­berg. Sorte ou mérito? De minha parte, gosto de ver essa questão ainda sob um outro ângulo: será mesmo que é possível medir o sucesso de alguém a partir de uma mesma régua? A renda, por exemplo? Penso que não. Por um simples motivo: as pessoas são diferentes por razões que vão além das habilidades e da sorte. São diferentes também por suas diversas preferências diante da vida. Há quem queira viver a vida de um Elon Musk, correndo riscos o tempo inteiro; e há quem queira a segurança de um bom emprego, no Banco do Brasil. Há quem queira trabalhar oitenta horas por semana em uma startup, como vejo entre alguns de meus ex-­alunos, e há quem queira morar na Lagoa da Conceição, em Floripa, como fez um velho amigo. Ainda me lembro quando decidi estudar história na faculdade. Muita gente me dizia: não dá dinheiro. De fato, não dava. Muito tempo depois li sobre a história de Jeff Bezos. Ele vivia em Nova York, no mercado financeiro, mas em algum momento decidiu se aventurar. Achou que o mercado digital ia crescer e resolveu abrir a Amazon. Durante muitos anos, ele vendia e eu comprava livros, com meu salário de professor. O resultado é uma “desigualdade” e tanto entre nós dois. Mas a verdade é que, ainda que pareça despeito, faz muito pouco sentido comparar o seu sucesso com o meu. Isso pelo simples fato de que nossos gostos diante da vida sempre foram muito diferentes. E que nós dois nunca estivemos disputando a mesma “corrida da vida”, como tantas vezes leio por aí.

“Será que é possível medir o sucesso a partir de uma mesma régua?”

Vai aí um erro de boa parte das teorias sobre a “desigualdade”. O erro de julgar o sucesso de pessoas, em sua enorme diversidade, com objetivos de vida distintos, pela mesma régua. Em geral, pelo padrão de renda. Isso vale inclusive para pessoas muito parecidas. Os professores Carlos e Roberto, por exemplo. Carlos muito cedo decidiu fazer um concurso e dar aulas em uma escola na periferia. Combinava com seu gosto comunitário, seu completo desinteresse em ficar rico. Tudo além do emprego estável, sem risco de ser posto na rua no fim do ano. Muito diferente de Roberto, um tipo inquieto, que insistiu anos fazendo mestrado, doutorado, concorrendo a bolsas fora do país, até virar professor em uma universidade bacana. No fim escreveu livros, se tornou um tipo conhecido, ganhou um bom dinheiro. Carlos e Roberto existem na vida real. Dia desses eles se encontraram nos trinta anos de formatura. O encontro foi afetivo, apesar da evidente “desigualdade” entre eles no critério de renda. Ou quem sabe também no quesito “notoriedade”. Mas não passa de uma cretinice dizer que isso era um problema. Ou que haveria alguma desigualdade de sucesso entre eles. Carlos e Roberto eram basicamente iguais em um aspecto crucial: a realização humana. Ambos fizeram da vida o que decidiram fazer. Eles simplesmente não estiveram, em nenhum momento, disputando a mesma corrida. Comparar essas coisas a partir de algum critério abstrato, seja renda, seja poder ou notoriedade, no fundo é apenas um sutil menosprezo à infinita variedade de fins e valores que marca, felizmente, a experiência humana.

Além de não fazer lá muito sentido, há um bocado de danos colaterais nessa ideia de ficar se comparando com a vida e o sucesso dos outros. Um deles é o risco de você se enxergar sempre como um perdedor. Isso dado ao fato simples de que cabe muito mais coisas na imaginação humana do que na vida — ela mesma. E não passa de uma tortura pautar a nossa vida por um futuro do pretérito. Por aquilo que ela poderia ser, mas infelizmente não é, se por algum acaso vivêssemos a vida do vizinho. A vida digital piorou essas coisas. “Não vivemos mais em pequenas comunidades”, gosta de provocar Jordan Peterson, “onde você poderia ser o melhor padeiro ou o melhor jogador de basquete”. Vivemos em um mundo no qual o sucesso do Messi e daquele maldito colega de trabalho surge com um clique, a sua frente, a todo momento. E não há muito o que fazer a respeito disso, a não ser cuidar da própria cabeça.

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Aqui, volto a meus dois personagens, Carlos e Roberto. Eles fizeram suas escolhas e obviamente produziram resultados muito distintos. O que eles tinham em comum é o fato óbvio de que ambos tiveram acesso a uma base comum de oportunidades. Pode ser estranho, mas vale o mesmo para mim e Jeff Bezos. Uma base comum não significa uma “igualdade de oportunidades”, porque isso não existe. E não existiria mesmo se fôssemos irmãos siameses. A sociedade deveria se preocupar, eu diria obsessivamente, com isto: a ideia de oferecer a cada um boa base de oportunidades. Similar à que tiveram Carlos e Roberto para fazer suas escolhas. Sobre os destinos humanos, sobre a renda que cada um terá, sobre o fato de que eu seja um professor e Bezos esteja navegando no espaço, tudo isso deveria pertencer ao exercício incomensurável da liberdade humana. No plano individual, vale a conclusão de Jordan Peterson: esqueça o sucesso dos outros. Ou quem sabe aprenda alguma coisa com ele. No mais, trate de “se comparar com o que você foi ontem, e não com o que outra pessoa qualquer é hoje”.

Fernando Schüler é cientista político e professor do Insper

Os textos dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de VEJA

Publicado em VEJA de 22 de novembro de 2024, edição nº 2920



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MP do TCU pede suspensão do salário de militares i…

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MP do TCU pede suspensão do salário de militares i...

Da Redação

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O subprocurador-geral do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU), Lucas Furtado, pediu nesta sexta-feira, 22, ao tribunal a suspensão do pagamento dos salários de 25 militares ativos e da reserva do Exército que foram indiciados pela Polícia Federal (PF) por tentativa de golpe de Estado.

Entre os militares citados, estão o ex-presidente Jair Bolsonaro (capitão reformado), cujo salário bruto é de R$ 12,3 mil, o general da reserva Augusto Heleno, que recebe R$ 36,5 mil brutos, além do tenente-coronel Mauro Cid (R$ 27 mil) e do general da reserva Braga Netto (R$ 35,2 mil).
Na representação enviada ao TCU, Lucas Furtado afirma que o custo dos salários dos militares é de R$ 8,8 milhões por ano.

O que diz o subprocurador

“A se permitir essa situação – a continuidade do pagamento da remuneração a esses indivíduos – o Estado está despendendo recursos públicos com a remuneração de agentes que tramaram a destruição desse próprio Estado para instaurar uma ditadura”, afirmou o subprocurador.

No documento, Furtado também pediu o bloqueio de bens no montante de R$ 56 milhões de todos os 37 indiciados pela PF e o compartilhamento do inquérito, que está em segredo de justiça, com o TCU.

“Por haver esse evidente desdobramento causal entre a trama golpista engendrada pelos 37 indiciados e os prejuízos aos cofres públicos decorrentes dos atos de destruição do patrimônio público em 8 de janeiro de 2023, que montam em R$ 56 milhões, considero que a medida cautelar também deve abranger a indisponibilidade de bens”, completou.

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De acordo com o TCU, o processo para avaliar a suspensão dos salários ainda não foi aberto.



(Com Agencia Brasil)



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Com exceção de Tarcísio, presidenciáveis se calam sobre Bolsonaro

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Com exceção de Tarcísio, presidenciáveis se calam sobre Bolsonaro

Marcela Rahal

Logo após a Polícia Federal indiciar o ex-presidente Bolsonaro e mais 36 pessoas pelo plano de golpe, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, parece ter sido o único nome da direita, entre os que despontam para disputar a presidência em 2026, que saiu em defesa do aliado nas redes sociais.



“Há uma narrativa disseminada contra o presidente Jair Bolsonaro e que carece de provas. É preciso ser muito responsável sobre acusações graves como essa. O presidente respeitou o resultado da eleição e a posse aconteceu em plena normalidade e respeito à democracia. Que a investigação em andamento seja realizada de modo a trazer à tona a verdade dos fatos”.

Ao contrário do ex-ministro, os governadores Ronaldo Caiado, de Goiás, Romeu Zema, de Minas Gerais, e Ratinho Jr, do Paraná, mantiveram o silêncio e preferiram não se manifestar diante de acusações tão graves envolvendo o ex-capitão em um plano que previa até os assassinatos do presidente Lula, do vice Geraldo Alckmin e do ministro do STF Alexandre de Moraes, em 2022.

Procurados pela coluna, ninguém quis comentar as investigações, quanto mais sofrer o desgaste de defender o ex-presidente inelegível, diga-se de passagem.

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