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Por que apostamos no jogo mas não no amor? – 13/10/2024 – Opinião

Por que apostamos no jogo mas não no amor? - 13/10/2024 - Opinião

Só em agosto deste ano, os brasileiros apostaram R$ 20,8 bilhões em bets, e 20% do total repassado para os beneficiários do Bolsa Família foram dirigidos à busca da sorte no jogo. Já no amor, o azar parece garantido.

Defendidos e sozinhos, reclamamos da dificuldade de estabelecer relações, mas não nos responsabilizamos pelo fato de não apostarmos no outro e na possibilidade de vitória na construção do vínculo afetivo. Não é irônico pensar que estamos dispostos a arriscar tanto em um jogo de sorte mas cada vez menos no amor?

No jogo, o perigo é evidente, mas seguimos buscando com entusiasmo a possibilidade de um futuro melhor, mesmo que improvável. Percebo que parte do frisson das apostas vem de uma certa ilusão de onipotência que reafirma que, ao ganharmos, fomos capazes de mudar nossas vidas sozinhos. Só dependemos de nós mesmos e de alguma sorte. E depender da sorte dá menos medo do que depender do outro.

O fator “outro” na jogada é assustador porque, traumatizados, usamos nossa experiência como gabarito e ela depõe contra nós. Em vez de arriscar e sustentar a dúvida, antevemos jogadas traiçoeiras sem perceber que as cartas não foram distribuídas ainda. O jogo nunca é o mesmo. Amargurados damos razão a Amy Winehouse, que dizia que “love is a losing game”, inconscientes de que estamos perdendo porque jogamos contra e não com o outro.

No amor, só ganharemos se estivermos dispostos a dividir riscos, ganhos, angústias e vulnerabilidade. Não teremos controle, certezas nem autonomia. Lidar com pessoas certamente é mais desafiador do que com tigrinhos; ainda assim, os ganhos podem ser maiores do que os prometidos em sites.

Em vez de confiar nos algoritmos e nos mantermos descrentes da conexão humana, podemos nos arriscar a apostar no vínculo, na entrega e na fé no outro e nas relações.

O amor é uma aposta, mas não precisa ser um jogo.



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