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Quando Elon Musk fez um gesto de ódio, muitos defenderam que era amor – 25/01/2025 – Ricardo Araújo Pereira

Certo dia, Triboulet, o famoso bobo da corte francês do século 16, interveio numa discussão para dizer que, por vezes, a desculpa que se apresenta por um ato ofensivo consegue ser pior do que o ato original.

Na língua portuguesa, temos um provérbio em que está contida esta ideia: é pior a emenda que o soneto. Mas, ao que parece, o rei não compreendeu o raciocínio do bobo e deu-lhe 24 horas para o demonstrar, e o ameaçou com a prisão se ele fosse incapaz de fazê-lo.

No dia seguinte, quando o rei passava por ele no palácio, Triboulet assentou-lhe um bom tapa na bunda. O rei, naturalmente, ficou furioso, e gritou: “Bobo! Explique-se imediatamente!” Triboulet disse: “Peço desculpa, majestade. Confundi vossa alteza com a sua mulher.”

Quando, num comício, Elon Musk fez um gesto extremamente parecido com a saudação nazista, muita gente concluiu que ele tinha feito a saudação nazista. As pessoas, por vezes, precipitam-se.

O próprio Musk e os seus apoiantes vieram esclarecer que o gesto não era a saudação nazista, mas sim uma forma de dizer “o meu coração está convosco, aqui o têm, vou lançá-lo na vossa direção.” Não era ódio, era amor. Por isso, fui rever o gesto com mais atenção.

E devo dizer que considero a hipótese de aquilo ser um gesto de amor mais sinistra. Creio que é menos grave se aquilo que Musk fez for mesmo a saudação nazista. Se é amor, julgo que é perigoso. Ele leva, de fato, a mão à zona do coração.

E depois estica o braço na direção da plateia. Mas reparem na cara dele. É assim que ele ama? Nesse caso, como será que ele odeia? Mais: ele acompanha o gesto com um grunhido. É, sabemo-lo agora, um som animalesco de amor.

A questão é que, se aquilo for ódio, eu compreendo. Se for amor, fujo. Tenho mais medo da forma como ele ama do que da forma como ele odeia. Além do mais, não estamos apenas perante um caso em que a desculpa é pior do que o ato.

A desculpa parece ser inadmissível por uma questão de lógica elementar.

Para nos oferecer o seu coração, ele precisava de ter um. As provas disso escasseiam.


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