Faz uns dias, minha mãe, uma quase octogenária, caiu estatelada na varanda de sua casa. Perdeu o equilíbrio em um pequeno degrau, perigo potencializado com o piso um pouco molhado.
Ficou caída por ali até que o Fred, seu cachorro velho e de raça indefinida, enlouquecesse de tanto latir atrás de socorro e uma alma chegou para resgatá-la do chão. Teve um ferimento na cabeça, que bateu em um de seus infindáveis vasos de plantas espalhados por todo canto.
A queda do presidente Lula, que também beira os 80 anos, dentro de um banheiro, com consequências graves, é a exposição máxima de uma questão que se negligencia dentro da maioria dos lares do país, sem distinguir classe ou perfil social: a falta de segurança para velhos, crianças e outros vulneráveis dentro das próprias casas.
Acessibilidade, atenção aos detalhes como cantos pontiagudos ou muito estreitos, medidas contra armadilhas disfarçadas de adornos e coisinhas bonitinhas são o básico que sempre se deixa para lá.
O que se sabe por enquanto, sem muitos detalhes, é que o mandatário caiu de um banco, no box, na hora do banho, e feriu-se com alguma gravidade. Não imagino que os aposentos presidenciais brasileiros tenham gambiarras em vez de soluções seguras e planejadas.
Mas o que se pode dizer, sem chance de erro, é que na realidade da maioria dos lares nacionais se adapta o uso de banquinhos de plástico frágeis e inapropriados para o suporte de pessoas com restrição de mobilidade no momento de higiene pessoal.
Junte-se a isso pisos inadequados e muito escorregadios e a ausência total de barras de apoio –que são caras, muito caras no Brasil. Ah, sim, e aqueles tapetinhos fofos que adoramos e que podem virar sabão para pernas menos saradas.
Subestimar os riscos dentro de casa é a passarela perfeita para quedas, torções, esbarrões e fatalidades. Se cada vez mais nos preocupamos em ser fit, também é o caso de darmos prioridade aos corpos exaustos, aos corpos que se desgastaram com os anos, aos corpos que precisam de condições específicas de cuidado.
Mais do que alarmes e câmeras, a casa da gente precisa ter meios de acessibilidade que promovam conforto e um dia a dia que possa ser desfrutado sem riscos por todos.
É mesmo necessário aquela escadinha na porta de entrada? Aquela luz indireta bonita, mas pouco funcional faz sentido? Será que um piso antiderrapante em alguns ambientes não seria mais bem-vindo que aquele porcelanato brilhante?
O tombo de Lula escancara a necessidade de se dar publicidade, de se pensar em uma política pública, que alerte sobre os perigos escondidos dentro das próprias moradias contra seus moradores. De medidas simples a reformas um pouco mais complexas, todo o mundo tem algo a fazer, é só observar, se informar e buscar ajudar qualificada.
Os cuidados com envelhecimento acelerado da população e dar conta das condições diversas de se viver são de responsabilidade humana e coletiva. Um trauma por uma situação cotidiana, dentro de casa, pode gerar custos emocionais, físicos e financeiros que farão um aparente inocente galo na testa ser inesquecível por anos.
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