POLÍTICA
Queda expressiva da popularidade de Lula alimenta…
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Ramiro Brites
Uma sequência de números preocupantes ligou de forma definitiva o sinal de alerta no Palácio do Planalto. A falta de paciência dos eleitores com o desempenho de Luiz Inácio Lula da Silva foi exposta em uma série de levantamentos nas últimas semanas, que convergiram na mesma direção: pela primeira vez, a reprovação do governo foi maior que a aprovação. A sondagem mais recente, divulgada pelo Paraná Pesquisas, na quarta-feira 19, mostra que 55% dos brasileiros rejeitam Lula, enquanto 42% o aprovam. Em relação ao desempenho, 45% dos entrevistados avaliam hoje sua gestão como “ruim” ou “péssima” — 28,8% a consideram “boa” ou “ótima” e 25% apontam o governo como “regular”.
É verdade que períodos de baixa na popularidade podem ocorrer durante um mandato presidencial. Todos os ocupantes do Palácio do Planalto desde a redemocratização passaram por oscilações na avaliação, sobretudo em momentos de turbulência econômica. É o caso de José Sarney (MDB), que terminou o mandato, marcado pela inflação galopante, com 9% de aprovação. Fernando Henrique Cardoso (PSDB), no primeiro ano de seu segundo mandato, viu sua popularidade chegar a 13%. O cenário atual enfrentado por Lula, no entanto, tem agravantes que podem tornar mais desafiador o esforço de recuperação de imagem. Além da falta de marcas importantes da atual gestão, a situação econômica do país, com inflação ameaçando sair do controle, contribui para a avaliação ruim do governo. “Quem vai no mercado tem a percepção de que tudo está mais caro, e isso sempre foi um fator determinante na popularidade de um presidente”, afirma o cientista político Elias Tavares. “As pessoas esperavam que ele entregasse resultados como em seus primeiros mandatos.”
Aos poucos, como mostram as pesquisas, até a base mais fiel ao petista começou a vê-lo com desconfiança. Levantamento do Datafolha divulgado no último dia 14 mostra que, entre dezembro e janeiro, a popularidade do presidente desabou 20 pontos percentuais entre seus eleitores tradicionais. Era de 66% a taxa de aprovação de Lula entre as pessoas que haviam votado nele. Agora, esse número caiu para 46%. A debandada se verifica em cidadãos de baixa renda, nordestinos e jovens, segmentos em que o petista sempre teve votação expressiva, mas que se mostram desiludidos com a atual gestão e veem um governo incapaz de entregar a prosperidade que havia prometido na campanha. Se não bastasse, a gestão parece aos olhos de muitos mais distante de quem sempre votou na sigla. “O PT hoje não é mais dos trabalhadores”, diz o barbeiro Weser Costa, de 43 anos, morador da Zona Sul de São Paulo, um tradicional reduto do partido na maior metrópole do país. Filho de um pastor petista, ele faz parte de um raro grupo de evangélicos de esquerda, mas perdeu a convicção que sempre teve de votar no partido.
Para além das questões ideológicas, o que pesa mais no momento mesmo para a perda da popularidade do presidente é a inflação de produtos essenciais no bolso dos brasileiros. “A dúzia de ovos está 20 reais. Nunca vi isso”, reclama o baiano Nilvan Queiroz, de 70 anos, dono de um restaurante no centro da cidade de São Paulo. Aos 17 anos, ele saiu de Ibotirama (BA), às margens do Rio São Francisco, para buscar uma vida melhor na cidade grande — e conseguiu. Na capital paulista, o empresário trabalhou como garçom em pizzaria e chegou a ter três lanchonetes, mas fechou duas na pandemia. Os relatos do irmão, que ficou na Bahia, sobre os primeiros governos petistas o fizeram votar em Lula nas últimas eleições. No entanto, o preço exorbitante dos alimentos e a falta de segurança, que o força a fechar seu estabelecimento mais cedo às quintas, sextas e sábados, e não abrir aos domingos, deixaram Queiroz arrependido do voto.

Lula também perdeu o apoio entre os mais jovens. A dona de casa Sabrina Umbelino, de 23 anos, é de Cidade Tiradentes, bairro no extremo leste paulistano, região onde o petista venceu na eleição presidencial de 2022. Na primeira vez que ela foi às urnas escolher um presidente, optou pelo petista. Sabrina é beneficiária do Bolsa Família e vive com os dois filhos, além do marido, que recebe um salário mínimo. Mas o auxílio não é o suficiente para voltar a acreditar em Lula. Da tela do celular ela viu promessas eleitorais sobre o pobre poder comer picanha, mas nunca conseguiu levar a peça nobre para a sua mesa. “A gente não consegue comprar um quilo”, reclama.
O desgaste nessa base mais fiel de eleitores tem reflexos diretos no meio político. A consequência direta disso é o aumento do cacife para parlamentares e partidos barganharem o apoio ao presidente em uma gestão que sempre sofreu para garantir a governabilidade. Lula já ofereceu ministérios a partidos com grandes bancadas, mas não conseguiu a garantia de alinhamento total dessa turma com o Palácio do Planalto. São os casos do PSD, de Gilberto Kassab, e do Republicanos, de Marcos Pereira. Na esteira da queda de popularidade de Lula, ambos os caciques aproveitaram o momento para alfinetar publicamente o petista. O presidente do Republicanos disse que Lula comanda um “governo sem rumo”. Já o líder do PSD, conhecido no meio político como alguém que faz projeções certeiras, afirmou, no fim de janeiro, que, se as eleições fossem naquele momento, Lula seria derrotado. Na mesma ocasião, Kassab também criticou a condução de Fernando Haddad na economia, chamando-o de “fraco”.

Integrantes do governo reconhecem o tamanho do problema, mas ainda mantêm o otimismo com a possibilidade de uma guinada. Existe a crença de que grande parte dos problemas reside na incapacidade de comunicar aos eleitores as boas iniciativas da gestão. Recrutado para mudar essa percepção, o marqueteiro Sidônio Palmeira, novo chefe da Secretaria de Comunicação Social, tem o diagnóstico de que a real avaliação sobre o governo é “muito menos negativa” do que mostram as pesquisas. Essa crença, no entanto, vem sendo desmentida a cada novo levantamento.
No campo político, a iminente reforma ministerial será uma tentativa de fortalecer apoios entre os partidos do Centrão. Para Lula, a missão é retomar viagens pelo país, o que ele já vem fazendo. “Ninguém se conecta com o povo como o Lula”, diz Marco Aurélio de Carvalho, líder do Prerrogativas, grupo de juristas ligados ao PT. A situação atual mostra que esse laço histórico começou a se enfraquecer. O desafio na segunda metade do governo é se reaproximar dessa base mais fiel e reconquistar a confiança de segmentos para além da bolha da esquerda, como parte da classe média urbana. Será uma verdadeira corrida contra o tempo.
Publicado em VEJA de 21 de fevereiro de 2025, edição nº 2932
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POLÍTICA
A ‘mão de ferro’ de Janja e a ‘hora da sopa’ de Lula
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22 de fevereiro de 2025
Gustavo Maia
Diante da conhecida “mão de ferro” da primeira-dama Janja sobre o marido no Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente em Brasília, petistas passaram a ironizar que o fim do expediente de Lula no Planalto, geralmente por volta das 18h, virou a “hora da sopa”. Depois disso, praticamente não há quem consiga falar com ele.
Janja, aliás, foi tida por aliados de Lula como o principal alvo da carta do advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, conhecido como Kakay, em que ele aponta que o presidente, neste terceiro mandato, está “isolado”, “capturado”, por circunstâncias diversas, “principalmente pessoais”. Mais até que o ministro da Casa Civil, Rui Costa, que também tem sido bastante criticado.
“Mas o Lula do 3º mandato , por circunstâncias diversas, políticas e principalmente pessoais, é outro. Não faz política. Está isolado. Capturado. Não tem ao seu lado pessoas com capacidade de falar o que ele teria que ouvir. Não recebe mais os velhos amigos políticos e perdeu o que tinha de melhor: sua inigualável capacidade de seduzir, de ouvir, de olhar a cena política”, escreveu Kakay.
Na primeira solenidade pública após a divulgação do texto, na terça-feira, aliados de Lula notaram o quanto Janja estava discreta e até mesmo apagada — durante a recepção a Marcelo Rebelo de Sousa, presidente de Portugal, no Itamaraty, na terça.
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Enfraquecido, governo Lula se rende de novo a Davi…
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22 de fevereiro de 2025
Daniel Pereira
Desde o início do terceiro mandato de Lula, o governo considera menos turbulenta a relação política com o Senado do que com a Câmara. Com a esperada reforma ministerial, o presidente da República espera melhorar a articulação com as duas Casas, ampliando o espaço e o poder dos parlamentares na Esplanada. Enquanto esse rearranjo não ocorre, o mandatário faz o que pode para agradar ao senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), o novo chefe do Poder Legislativo.
Até aqui, a parceria entre as partes tem rendido dividendos para ambos os lados. Na quarta-feira 19, um dia após a apresentação da denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado, Alcolumbre indicou que o projeto que anistia condenados por atos golpistas não será pautado, porque, segundo ele, divide a sociedade e não interessa ao país. “Isso não é um assunto que nós estamos debatendo”, afirmou. “Não é um assunto dos brasileiros”.
A declaração foi dada no mesmo dia em que o Senado, sob a batuta de Alcolumbre, reverteu uma decisão anterior do governo e — agora com o aval dos próprios governistas — aprovou um projeto que autoriza o pagamento de emendas parlamentares de orçamentos anteriores, criando uma conta estimada em pelo menos 2,6 bilhões de reais. Desde a sua volta ao comando da Casa, foi a primeira vitória do senador, que acumulou poder nos últimos anos justamente por controlar boa parte do bolo das emendas. Foi assim no governo Bolsonaro. Será assim, ao que tudo indica, sob Lula.
O petróleo é nosso
Aliados de conveniência, Lula e Alcolumbre são defensores da exploração de petróleo na Foz do Amazonas, que pode ajudar no desenvolvimento econômico do país e de uma série de estados, como o Amapá, berço eleitoral do senador. Na primeira metade de seu mandato, o presidente pouco tratou do assunto em público, mas com a mudança na cúpula do Congresso ele entrou de vez no debate, motivado por uma cobrança do senador.
Na primeira audiência que teve com Lula após ser eleito para a chefia do Senado, Alcolumbre reclamou da demora do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para emitir a licença ambiental que pode abrir caminho para a exploração de petróleo na Foz do Amazonas.
O petista anotou o recado e dias depois, numa entrevista a uma rádio, defendeu o projeto, alegando que a exploração de petróleo na chamada “margem equatorial” pode ser realizada sem prejudicar o meio ambiente. Não parou por aí.
Em outra entrevista, concedida em Macapá, para onde viajou na companhia de Alcolumbre, Lula criticou o que chamou de “lenga lenga” do Ibama para autorizar a pesquisa sobre a exploração de petróleo na região. É aquela história: quanto mais enfraquecido um governo, maior a necessidade de afagar aliados.
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Lula diz que nem ministros sabem o que governo est…
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22 de fevereiro de 2025
Lucas Mathias
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, na comemoração dos 45 anos do Partido dos Trabalhadores, neste sábado, 22, que ouviu durante uma reunião ministerial nas últimas semanas que seus ministros não sabem o que tem sido feito no governo. O recado, segundo o presidente, é retrato da postura do Planalto, que não tem comunicado seus feitos como gostaria, o que tem reflexo na população. “Ora, se o ministério não sabe, o povo, muito menos”, afirmou. A celebração da sigla acontece no Centro da cidade do Rio de Janeiro.
A declaração de Lula foi dada ao final de sua fala, que durou cerca de 50 minutos, no evento. O presidente foi o último a pegar o microfone e discursar no palco, para centenas de apoiadores e militantes do partido. Ao reconhecer as falhas na comunicação de seu governo, o mandatário reconheceu que o problema dificulta, inclusive, a atuação dos petistas nas ruas.
“Cabe ao governo fazer as coisas corretas e dar informação para vocês. Porque um governo que não dá informações, às vezes, não tem como militante defender. E eu sei que nós não demos as informações”, ponderou.
Em seguida, Lula citou o episódio da reunião ministerial, antes de prometer maior clareza na divulgação dos atos governamentais.
“Fiz uma reunião ministerial faz mais ou menos vinte dias. E eu descobri na reunião, Gleisi, que o ministério do meu governo não sabe o que nós estamos fazendo. Ora, se o ministério não sabe, o povo, muito menos. Então, companheiros, agora vocês vão saber”, completou.
A forte fala de Lula vem pouco mais de um mês depois de o presidente trocar seu ministro da Secretaria de Comunicação, ao dar posse para Sidônio Palmeira, que assumiu o lugar até então ocupado pelo deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS).
Para as próximas semanas, ainda está prevista uma reforma ministerial, que pode dar mais espaço a outros partidos na Esplanada e promover uma dança das cadeiras no desenho atual — outro sintoma acusado na declaração do petista.
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