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Quem foi o 1º e único presidente negro do Brasil – 20/11/2024 – Poder

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Quem foi o 1º e único presidente negro do Brasil - 20/11/2024 - Poder

Edison Veiga

No dia 14 de junho de 1909, o sexto presidente da República do Brasil, em exercício, morreu. Afonso Pena (1847-1909) estava no terceiro ano de seu mandato e teve uma forte pneumonia. Assumiu o Executivo, então, o vice: o político e advogado Nilo Peçanha (1867-1924).

De origem humilde, ele é considerado o primeiro presidente negro da história brasileira. Mas naquele início de século 20, com a preponderância de teorias racistas e uma ideia de embranquecimento da população, sua própria identidade racial se tornou objeto de controvérsia.

“Rigorosamente, ele era um mestiço”, define à BBC News Brasil o historiador Petrônio Domingues, professor na UFS (Universidade Federal de Sergipe), lembrando que pelas categorias oficialmente utilizadas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), ele seria classificado como pardo.

“Isso não era uma questão [naquela época]. A começar porque ele não se reconhecia como um afrodescendente. Segundo porque ele até foi alvo de charges e pilhérias racializadas por parte da imprensa, mas socialmente ele não era visto nem tratado pelas lentes do racismo que ousava dizer o seu nome na Primeira República”, acrescenta o professor.

“Pode-se dizer que ele foi racializado sobretudo pelos adversários, desafetos ou em situações de disputas políticas”, diz Domingues.

Para o historiador Vitor Soares, que mantém o podcast História em Meia Hora, é preciso ressaltar que Peçanha governou o país “em um período profundamente marcado pelo racismo científico”. “Doutrinas como a frenologia e a eugenia ganhavam força no país, legitimando teorias que buscavam justificar a marginalização de pessoas negras e mestiças”, diz ele à BBC News Brasil.

Ele lembra que na época teorias como as defendidas pelo médico e antropólogo Nina Rodrigues (1862-1906) tinham força e “associavam características físicas a predisposições comportamentais, reforçando estigmas que perpetuavam a exclusão racial“.

“Descrito como mulato por seus contemporâneos, Peçanha tornou-se alvo constante de ridicularizações. Na imprensa, era caricaturado em charges e anedotas que enfatizavam sua cor de pele de maneira depreciativa. Durante sua juventude, era chamado pejorativamente de ‘o mestiço do Morro do Coco’, em referência ao pequeno distrito rural de suas origens”, acrescenta Soares. “Esses ataques refletem o racismo estrutural da sociedade brasileira, que via na ascensão de um homem mestiço ao poder uma ameaça à hierarquia racial estabelecida.”

“Ele foi de plena época em que o processo de racialização das relações estava em curso. Mas também uma época em que se apostava ou se tinha a expectativa da ascensão do mulato e, quiçá, da extinção do preto”, explica à BBC News Brasil a historiadora Lucimar Felisberto dos Santos, membro da Rede de Historiadorxs Negrxs e autora de “Entre a Escravidão e a Liberdade: africanos e crioulos nos tempos da Abolição”, entre outros.

A historiadora conta que “se apostava no mestiço para conduzir o embranquecimento da sociedade brasileira”.

“Nilo Peçanha era criticado como ‘mulato’, termo usado de forma pejorativa, e não havia uma perspectiva de elevação de seu caráter, da sua importância, da sua representatividade enquanto pardo ou negro”, analisa à BBC News Brasil o historiador Victor Missiato, pesquisador do Grupo Intelectuais e Política nas Américas, da Unesp (Universidade Estadual Paulista). “Não havia isso na época.”

“A conjuntura era do favorecimento da vinda de imigrantes estrangeiros para o Brasil, na ideia de que europeus brancos iriam, de certa forma, trazer o progresso para o Brasil. E que, muito entre aspas, a raça negra iria perdendo força, desaparecendo, a partir da miscigenação com uma raça branca superior, também entre aspas”, completa ele.

Casamento foi polêmico

Nascido em Campos dos Goytacazes, no norte fluminense, ele era filho de um padeiro e de uma filha de agricultores. Com seis irmãos, teve uma infância pobre em um sítio. A família se mudou para a cidade quando Peçanha chegou à idade escolar. Foi no meio urbano que seu pai ganhou o epíteto pelo qual seria conhecido, virou “Sebastião da padaria”.

Ele estudou direito na Faculdade do Largo São Francisco, em São Paulo, mas acabou concluindo o curso na Faculdade do Recife.

Seu casamento chocou a sociedade da época: a noiva, Ana de Castro Belisário Soares de Sousa, a Anita, era de família rica de Campos dos Goytacazes, neta de um visconde e bisneta de dois barões.

Como seus pais eram contra o casamento —com um pobre e mulato—, Ana fugiu de casa e foi viver com uma tia. Depois do matrimônio oficializado, em 6 de dezembro de 1895, diversos parentes da aristocracia fluminense cortaram relações com ela.

“O matrimônio foi inicialmente rechaçado pela família de Anita, que considerava inadequado o casamento de uma jovem de sangue nobre com alguém pobre e mestiço”, contextualiza o historiador Soares. “Anita chegou a fugir de casa para concretizar a união, um escândalo social que refletia as barreiras impostas pelas estruturas raciais e de classe da época.”

Questões pessoais à parte, Peçanha trilhava uma sólida carreira política. Em 1890, reconhecido por seu engajamento nas lutas abolicionista e republicana, foi eleito para a Assembleia Constituinte que redigiu a primeira Carta Magna da República.

Foi deputado até 1902. No ano seguinte, tornou-se presidente do Rio de Janeiro —cargo equivalente ao de atual governador. Em 1906 foi eleito vice-presidente da República.

“Do casamento às suas relações dentro do núcleo político, mesmo que ele fosse ligado a parte da elite carioca, o fato de ele ter sido uma pessoa negra, chamado na época de mulato, era uma questão”, comenta à BBC News Brasil o historiador Phillippe Arthur dos Reis, pesquisador na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). “Isso tinha impacto sobre sua pessoa como político.”

Reis diz que políticos e formadores de opinião da época que atacavam Nilo Peçanha costumavam citar “a cor da pele dele, condição quase sempre trazida como uma caricatura, como desleixo, como se fosse a cor de alguém que não tivesse a capacidade de gerir o país”.

“Os traços físicos eram destacados [pelos críticos], o cabelo crespo era associado à questão de que ele não seria necessariamente uma pessoa preparada”, conta.

Na Presidência

Quando ele assumiu o governo do Brasil, substituindo Afonso Pena, trouxe para si o lema “paz e amor”. Era uma tentativa de apaziguar os ânimos da oposição. “Alguns jornais chegaram a publicar comentários políticos que questionavam a capacidade do presidente na condução do país pelo fato de ele ser negro”, ressalta à BBC News Brasil o filósofo e sociólogo Paulo Niccoli Ramirez, professor da FESPSP (Fundação Escola de Sociologia de de Paulo) e da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing).

“Ou seja: apesar de ele circular em meios políticos dominados por brancos, parte da opinião pública o questionava, associando o fato de ele ser negro a eventuais dificuldades em sua capacidade de conduzir o país”, observa.

“Paradoxalmente, quando Peçanha alcançou destaque na política nacional, a elite brasileira, alinhada com os ideais de branqueamento, tentou ‘corrigir’ sua imagem”, conta Soares. “Fotografias oficiais e retratos eram manipulados para clarear sua pele e aproximá-lo dos padrões eurocêntricos, numa tentativa de apagar qualquer traço de diversidade racial em figuras públicas de prestígio.”

Em sua curta passagem pelo Palácio do Catete, deixou duas marcas importantes. Foi ele quem criou o Serviço de Proteção aos Índios, órgão que antecedeu a atual Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas).

Peçanha também fundou a Escola de Aprendizes Artífices, primeira instituição de ensino técnico do país sem ligação com os militares. Esta escola é considerada a precursora do Cefet (Centro Federal de Educação Tecnológica). E por causa disso em 2011 ele foi homenageado com uma lei federal que o tornou o patrono da educação profissional e tecnológica no Brasil.

O historiador Reis lembra ainda que Peçanha procurou encontrar soluções para diminuir o problema da falta de habitação no país. Ele tinha experiência nisso, pois foi uma questão enfrentada durante seu governo no Rio, anteriormente. E, a julgar pela repercussão da imprensa da época, foi este um assunto no qual ele convenceu a opinião pública de que era uma pessoa capacitada.

“O assunto é de máxima importância e pode e deve ser resolvido pelo governo do dr. Nilo Peçanha, que já tem dado provas de que é homem de capacidade para resolver os mais sérios problemas sem delongas”, publicou o jornal A Imprensa, do Rio, em 19 de agosto de 1909.

Seu mandato se encerrou em 15 de novembro de 1910. Depois da Presidência, ele ainda seguiu na política. Foi senador, novamente presidente do Rio, ministro das Relações Exteriores e mais uma vez senador. Em 1921, foi candidato à Presidência, sendo derrotado por Artur Bernardes (1875-1955).

Nilo Peçanha morreu em 1924, vítima de um problema cardíaco causado pela doença de Chagas. Há dois municípios brasileiros que o homenageiam com o nome: Nilo Peçanha, na Bahia, e Nilópolis, na região metropolitana do Rio.

Debate racial

“O fato de termos um negro na política sempre foi e sempre será uma questão no Brasil. Ainda mais um presidente. Vivemos em um país racializado, com um histórico de escravidão extremamente violento, recente e ainda presente”, comenta Salvarani. “Nilo Peçanha é um personagem interessante justamente por romper essa barreira racial de representação política, tendo um papel importante na história do nosso país.”

A questão racial de Peçanha é tema de debate pelo simbolismo do fato de ele ter sido um presidente negro —ainda que em um tempo em que essa questão não era posta à mesa de forma identitária como hoje. Por isso, as controvérsias são muitas.

“De fato, ele foi acusado de ser mal resolvido com sua identidade racial e de ter retocado fotografias oficiais, para escamotear sua origem afrodescendente, mas não me parece que isso seja branqueamento”, afirma Domingues. “A importância de hoje reconhecermos a sua negritude tem a ver, em primeiro lugar, com um acerto de contas com certa narrativa histórica que operou com invisibilidades e apagamentos de personagens afro-brasileiros. Em segundo lugar, com as questões do tempo presente, em que a história e cultura afro-brasileira ou, antes, as questões raciais ganham destaque na agenda nacional, a partir do protagonismo negro, das políticas de ações afirmativas, do debate sobre representatividade, etc.”

A historiadora Santos entende que a identidade racial de Peçanha não foi ocultada à época, justamente por causa do que publicavam os jornais, que costumavam descrevê-lo como “rapaz moreno, de cabelos negros e anelados, olhar profundo e superior”.

“Nos últimos anos, os movimentos negros também entenderam que referências históricas em posição de destaque poderiam contribuir para o fortalecimento do pertencimento étnico, e para o orgulho deste pertencimento, por grande parcela de brasileiros constituídas por negros, negras e indígenas”, acrescenta ela. “Assim, com base em pesquisas históricas, recupera-se o protagonismo de personalidades como Nilo Peçanha. Essas ações colaboram para o processo de emancipação do povo negro em termos de reparação simbólica.”

Soares diz que “reconhecer a negritude de Nilo Peçanha é um ato de resgate histórico e político, especialmente em um país que sistematicamente negou e apagou as contribuições de pessoas negras em posições de liderança”.

“Durante sua vida e carreira, Peçanha foi vítima de práticas que buscavam roubar e esconder sua identidade racial”, afirma ele. “Essa é a história da cor roubada, como alguns historiadores descrevem e, no caso de Peçanha, deliberadamente escondida.”

O historiador lembra que até mesmo a biografia oficial de Nilo Peçanha, escrita por seu parente, o jornalista, advogado e político Celso Peçanha (1916-2016), “nada menciona sobre suas origens raciais”. “E seus descendentes negaram consistentemente que ele fosse mulato, apesar de sua tez escura”, ressalta.

“A negritude é atribuída historicamente. Nilo Peçanha não se reconhecer e não ser reconhecido como negro é importantíssimo para entendermos a natureza social no racismo e dos processos de racialização de pessoas negras, principalmente na política”, diz o sociólogo Salvarani. “Agora as razões sociológicas desses processos político-raciais envolvendo Nilo Peçanha são singulares e uma oportunidade única para que mais pessoas radicalizadas se encorajem de participar da política em seus diversos níveis e espaços.”

Ramirez atenta para outra questão: os materiais didáticos que ensinam história no Brasil. “Boa parte dos livros escolares negligenciam o fato de ele ser negro. E isso mostra como a história é sempre a história de uma elite branca, esquecendo-se dos protagonistas negros deste país”, comenta.





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PT indica Marcelo Rubens Paiva para medalha da Câmara – 21/11/2024 – Painel

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PT indica Marcelo Rubens Paiva para medalha da Câmara - 21/11/2024 - Painel

Danielle Brant

O líder do PT na Câmara, Odair Cunha (MG), indicou o escritor Marcelo Rubens Paiva, autor do livro “Ainda estou aqui”, para receber a Medalha Mérito Legislativo, concedida a personalidades e entidades que tenham prestado serviços relevantes ao Legislativo ou ao Brasil.

De acordo com as regras da condecoração, cada líder de partido pode indicar uma personalidade ou entidade para receber a medalha —membros da mesa diretora podem homenagear dois.

Na justificativa, Odair Cunha afirma que a produção artística e intelectual de Marcelo Rubens Paiva ajuda “a contar a história recente do país de forma profunda e contundente”.

“O conjunto de sua obra, além de guardar grande relevância no cenário da cultura nacional, contribui para que o público conheça e não esqueça o que o arbítrio e o autoritarismo na política são capazes de provocar”, escreve.

O líder do PT lembra ainda que “Ainda Estou Aqui” acabou de virar filme, estrelado por Fernanda Torres, Selton Mello e Fernanda Montenegro e dirigido por Walter Salles. A obra conta a história do desaparecimento do pai do escritor, o deputado cassado pela ditadura militar Rubens Paiva, e a resistência de sua família.

“Ao longo de sua vida pública, Marcelo tem se destacado por se manifestar ostensivamente em favor da democracia e do Estado de Direito, contra todo tipo de injustiça social.”


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Caixa paga Bolsa Família a beneficiários com NIS de final 4

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Caixa paga Bolsa Família a beneficiários com NIS de final 4

Wellton Máximo – Repórter da Agência Brasil

A Caixa Econômica Federal paga nesta quinta-feira (21) a parcela de novembro do novo Bolsa Família aos beneficiários com Número de Inscrição Social (NIS) de final 4.

O valor mínimo corresponde a R$ 600, mas com o novo adicional o valor médio do benefício sobe para R$ 681,22. Segundo o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, neste mês o programa de transferência de renda do Governo Federal alcançará 20,77 milhões de famílias, com gasto de R$ 14,11 bilhões.

Além do benefício mínimo, há o pagamento de três adicionais. O Benefício Variável Familiar Nutriz pago em seis parcelas de R$ 50 a mães de bebês de até seis meses de idade, para garantir a alimentação da criança. O Bolsa Família também paga um acréscimo de R$ 50 a famílias com gestantes e filhos de 7 a 18 anos e outro, de R$ 150, a famílias com crianças de até 6 anos.

No modelo tradicional do Bolsa Família, o pagamento ocorre nos últimos dez dias úteis de cada mês. O beneficiário poderá consultar informações sobre as datas de pagamento, o valor do benefício e a composição das parcelas no aplicativo Caixa Tem, usado para acompanhar as contas poupança digitais do banco.

Moradores do Rio Grande do Sul, afetados por enchentes de abril a junho, e de mais quatro estados (Amazonas, Pará, Paraná e Sergipe) receberam o pagamento do Bolsa Família de forma unificada no último dia 14, independentemente do número do NIS. O pagamento unificado beneficiou 62 municípios do Amazonas e 140 do Pará, afetados pela estiagem e pela vazante dos rios, quatro municípios do Paraná e oito municípios de Sergipe afetados por fortes chuvas.

A partir deste ano, os beneficiários do Bolsa Família não têm mais o desconto do Seguro Defeso. A mudança foi estabelecida pela Lei 14.601/2023, que resgatou o Programa Bolsa Família (PBF). O Seguro Defeso é pago a pessoas que sobrevivem exclusivamente da pesca artesanal e que não podem exercer a atividade durante o período da piracema (reprodução dos peixes).

Regra de proteção

Cerca de 2,83 milhões de famílias estão na regra de proteção em novembro. Em vigor desde junho do ano passado, essa regra permite que famílias cujos membros consigam emprego e melhorem a renda recebam 50% do benefício a que teriam direito por até dois anos, desde que cada integrante receba o equivalente a até meio salário mínimo. Para essas famílias, o benefício médio ficou em R$ 372,85.

 


Brasília (DF) 19/11/2024 - Arte calendário Bolsa Família Novembro 2024
Arte Agência Brasil
Brasília (DF) 19/11/2024 - Arte calendário Bolsa Família Novembro 2024
Arte Agência Brasil

Arte Agência Brasil

Auxílio Gás

Neste mês não haverá o pagamento do Auxílio Gás, que beneficia famílias cadastradas no CadÚnico. Como o benefício só é pago a cada dois meses, o pagamento voltará em dezembro.

Só pode receber o Auxílio Gás quem está incluído no CadÚnico e tenha pelo menos um membro da família que receba o Benefício de Prestação Continuada (BPC). A lei que criou o programa definiu que a mulher responsável pela família terá preferência, assim como mulheres vítimas de violência doméstica.



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Trabalhadores humanitários de MSF ficam com o coração partido porque instituições de caridade são forçadas a interromper serviços na capital haitiana após repetidos ataques | Desenvolvimento global

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Trabalhadores humanitários de MSF ficam com o coração partido porque instituições de caridade são forçadas a interromper serviços na capital haitiana após repetidos ataques | Desenvolvimento global

Luke Taylor

Médicos Sem Fronteiras (MSF) disse que seus trabalhadores humanitários estão “de coração partido” depois que a ONG médica foi forçada a suspender todos os seus serviços de saúde em Porto Príncipe pela primeira vez em três décadas, deixando os haitianos na miséria. capital devastada pela violência sem uma tábua de salvação crítica.

A organização internacional sem fins lucrativos disse que não tinha escolha senão suspender todas as operações na quarta-feira, depois de funcionários terem sido repetidamente atacados e terem recebido ameaças de morte de vigilantes armados e da polícia nacional.

“Suspender as atividades de MSF em Haiti foi uma decisão dolorosa”, disse Diana Manilla Arroyo, chefe de missão de MSF no país. “Estamos no Haiti há mais de 30 anos e sabemos que os serviços de saúde nunca foram tão limitados para o povo haitiano como são agora.”

A suspensão indefinida das operações de MSF no Haiti segue uma incidente no início deste mês onde policiais armados e grupos de vigilantes pararam uma ambulância de MSF que transportava três jovens vítimas de tiros.

Os homens armados cortaram os pneus da ambulância e aplicaram gás lacrimogêneo na equipe de MSF dentro do veículo para forçá-los a sair antes atirando em dois dos pacientes mortosdisse a ONG.

A organização esperava continuar a trabalhar apesar do incidente, mas os funcionários enfrentaram ameaças de morte e violação outras quatro vezes desde então, tornando as suas operações insustentáveis, disse Arroyo. “MSF trabalha em muitas partes do mundo com altos níveis de insegurança, mas esperamos níveis mínimos de segurança para nossas equipes”.

Pacientes aguardam para serem examinados no hospital Médicos Sem Fronteiras em Porto Príncipe, Haiti, em 29 de outubro de 2024. Fotografia: Odelyn Joseph/The Guardian

MSF interrompeu os serviços em instalações específicas no Haiti em diversas ocasiões nos últimos anos devido à violência de gangues, incluindo ocasiões em que balas atingiram hospitais. No entanto, nunca cessou totalmente as operações, uma medida que deixará quase 5.000 pacientes por mês sem cuidados médicos.

A decisão é um golpe para os haitianos que enfrentam a pior fome crise no hemisfério ocidental enquanto é pego no fogo cruzado de brutais guerras de gangues.

Hospitais foram incendiados em insurreições violentas este ano, médicos foram assassinados e suprimentos médicos essenciais secaram, deixando 2 milhões de pessoas em situação de pobreza. Porto Príncipe com poucas opções de atendimento médico.

Os trabalhadores humanitários constituem uma tábua de salvação vital para os haitianos que procuram tratamento para a crescente prevalência de ferimentos por arma de fogo, desnutrição grave e violência sexual.

Os cinco hospitais de MSF tratam, em média, mais de 1.000 pacientes por semana, incluindo 50 crianças em condições de emergência e mais de 80 sobreviventes de violência sexual e de gênero.

Os pacientes são frequentemente encaminhados para os hospitais da ONG por outros grupos da sociedade civil, visto que é uma das poucas organizações equipadas para tratar os casos mais complexos e potencialmente fatais, disse Flavia Maurello, chefe da instituição de caridade italiana AVSI no Haiti.

“Todos nós somos afetados por esta decisão e devemos agora tentar descobrir como lidar com ela”, disse Maurello.

O Haiti caiu em insegurança, caos e turbulência política cada vez mais profundos desde que o seu presidente Jovenel Moïse foi assassinado em julho de 2021.

Gangues armadas que controlam 80% da capital expulsaram o sucessor de Moise Ariel Henry, em março.

Garry Conille foi encarregado de estabilizar o país quando foi nomeado primeiro-ministro pelo conselho presidencial de transição do país em Maio, mas também ele foi demitido na semana passada enquanto gangues se revoltavam na capital, aterrorizando a população local.

O país depositou grande parte da sua esperança de restaurar a ordem numa missão de segurança internacional apoiada pela ONU, mas apenas 400 policiais quenianos foram enviados para a nação caribenha até agora e não conseguiram virar a maré.

Pelo menos 28 pessoas foram mortas esta semana enquanto as gangues se uniam para sitiar bairros como Haut Delmas e Pétion-Ville – bairros nobres anteriormente considerados refúgios seguros.

Se os grupos armados conseguirem expandir o seu controlo sobre a capital, a cidade poderá ficar isolada do resto do país e do mundo, disse Laurent Uwumuremyi, director nacional do Mercy Corps para o Haiti.

Pessoas deixam seus bairros após confrontos entre gangues armadas nas áreas de Delmas 24 e Solino, em Porto Príncipe, em 14 de novembro de 2024. Fotografia: Clarens Siffroy/AFP/Getty Images

“Se Porto Príncipe ficar completamente isolado, as consequências humanitárias serão catastróficas. Os hospitais, já sobrecarregados, ficarão sem suprimentos essenciais”, disse Uwumuremyi. “A insegurança alimentar evoluirá para condições semelhantes às da fome e o acesso à água potável e aos serviços de saúde deteriorar-se-á ainda mais. O isolamento da capital cortaria a ligação do Haiti à ajuda internacional e exacerbaria o sofrimento de milhões de pessoas.”

MSF disse que pediu à polícia, ao conselho presidencial de transição e à força de segurança internacional que garantam a sua segurança para que possa retomar as suas operações.



Leia Mais: The Guardian



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