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Rita – 21/11/2024 – Tati Bernardi

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Rita - 21/11/2024 - Tati Bernardi

Nós temos uma brincadeira que funciona assim: eu preciso cafungar demoradamente o pescoço dela para ter certeza de que veio a criança certa da escola. Rita adora, morre de rir, se deixa cheirar por algum tempo, até que pergunta se veio mesmo a criança certa. E eu digo que sim. Certíssima. Nenhuma melhor. A filha esperada uma vida toda. Digo que desde que eu era pequena já sabia que ela chegaria, com as pernas compridas, a risada debochada e a braveza. Rita insiste que é mentira, mas divide comigo o ilusionismo desse “para além de nós” que experimentamos quando amamos demais.

O tempo todo preciso me controlar para não lançar meu nariz, feito um mamífero selvagem, para dentro do cheiro do seu couro cabeludo. Assim que acorda, bem cedinho, Rita me pergunta se no final do dia vamos ter o momento “filminho só nós duas”. Eu digo que sim. E enquanto ela for pequena, sei que vou negar a maioria dos convites para sair de casa. Só me esforço se o amigo é realmente um parceiro de vida ou se o evento tem extrema importância profissional. Como trocar o momento “filminho só nós duas” por qualquer programa nota sete e meio?

Lembro quando chegamos a uma casa alugada no interior e eu fui arrumando o armário do quarto com minhas roupas e as roupas da minha filha e meu namorado da época chiou de leve: não seria melhor ela ficar no quarto ao lado? Rita estava enciumada, tinha cinco anos. Ia ficar comigo, obviamente. Deveria ser simples: é preciso amar uma mulher com filhos sabendo que ela é uma mulher com filhos. É preciso amar os filhos de uma mulher com filhos. É preciso que essa criança sinta que é amada por qualquer pessoa que chegue perto da sua mãe. E isso é inegociável. Do contrário, a relação não apenas morre, mas estrebucha envenenada.

Percebo os olhares das moças da minha nova convivência, mulheres que, acertadamente, priorizam sua vida social, profissional e amorosa. Parece que ser “a mãe trouxa pelo filho” é algo muito distante da elite intelectual. Que seja, mas não tenho forças suficientes em mim para lutar contra esse arrebatamento, não tenho registros no sangue, não tenho sequer intenções. Serei para sempre a mãe trouxíssima pela sua filha.

Agora ela pede massagem em seus pezinhos enquanto faz a lição de casa. É muita folga. Muita. Mas quem aguenta aquela mini bisnaga cor-de-rosa mexendo os dedinhos em busca de um prêmio por já saber, tão pequena, somar dezenas com unidades? Seu perfil, a bochecha redonda que ela entorta porque prefere ser cínica a queridinha, a boca sempre com um bico meio bravo, os olhos imensos que ela revira quando digo que tenho mais o que fazer.

Grávida de dois meses, vomitando o tempo todo, cheguei a perguntar para a minha analista se existia alguma possibilidade de eu não amar minha filha. Ela disse que sim, algumas mães não amam seus filhos, mas não havia nada em mim que sugerisse que eu era como essas mulheres. Hoje lembro disso como lembro de todas as vezes que fiquei totalmente imóvel de frente para um avião. Por que eu entraria naquele negócio para conhecer um lugar novo, distante e com estímulos e informações que com certeza me trariam tantas inquietudes e instabilidades? No conto “A legião estrangeira”, de Clarice Lispector, em certo momento a narradora diz assim: “Eu que não me lembrara de lhe avisar que sem o medo havia o mundo”.


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não é admissível a remessa à comissão disciplinar por parte do jogador, considera a Liga Profissional de Futebol

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não é admissível a remessa à comissão disciplinar por parte do jogador, considera a Liga Profissional de Futebol

Kylian Mbappé com a camisa do PSG, 3 de abril de 2024, no Parc des Princes, em Paris.

A comissão disciplinar da Liga de Futebol Profissional (LFP) decidiu afastar-se do conflito entre o Paris Saint-Germain (PSG) e o seu ex-jogador Kylian Mbappé, que exige que o clube lhe pague 55 milhões de euros em salários e salários. bônus.

Ela concluiu “a inadmissibilidade do encaminhamento efetuado” por Kylian Mbappé anunciou, quarta-feira, 11 de dezembro, a Liga em comunicado de imprensa. Tendo o PSG levado a LFP ao tribunal judicial de Paris, o encaminhamento do jogador à comissão disciplinar não é admissível, explica o órgão.

Uma audiência que reuniu as duas partes foi realizada no final da tarde desta quarta-feira, na Liga, para analisar o apelo do craque pela “não pagamento de bônus e salários”enquanto o PSG se recusou a pagar os 55 milhões de euros solicitados pelo seu ex-jogador, apesar das liminares da comissão jurídica da LFP (11 de setembro) e depois da comissão conjunta de recursos (25 de outubro). Foi na sequência destas duas decisões que o PSG levou a LFP a tribunal.

“Estamos muito satisfeitos que o comitê disciplinar tenha decidido não sancionar o Paris Saint-Germain conforme solicitado pelo jogadorexultou um porta-voz do clube. Ao declarar o seu pedido inadmissível, a comissão disciplinar põe fim a esta sequência que já dura há demasiado tempo.”.

Solução amigável ou tribunal

Com esta decisão da Liga, o PSG consegue que a disputa entre ele e seu ex-carro-chefe seja julgada em tribunal “como o tribunal industrial”o que ele queria e “está pronto para apresentar integralmente a situação perante o tribunal competente”ele especifica. Mesmo assim, ele reitera “sua esperança de que uma solução amigável possa ser encontrada para que todas as partes possam finalmente virar a página”.

O conflito tem origem no estado de um acordo alcançado em agosto de 2023 entre o atacante e a direção do clube parisiense. O capitão dos Blues foi então excluído do grupo por se recusar a prorrogar o contrato com o PSG. Esta prorrogação teria garantido ao clube o recebimento do dinheiro de uma transferência, enquanto Kylian Mbappé finalmente se inscreveu gratuitamente neste verão no Real Madrid.

Neste acordo, o jogador concordou em renunciar a 55 milhões de euros em vários bónus caso saísse livre no final da temporada. Mas a validade deste acordo, que o próprio jogador mencionou publicamente aos jornalistas em Janeiro, é contestada pela equipa do astro, que o descreve como“oculto”.

Kylian Mbappé pede o pagamento de uma quantia de 55 milhões de euros que inclui o terço final de um bónus de assinatura (36 milhões de euros brutos) que o jogador deveria receber em fevereiro, últimos três meses de salário previsto no seu contrato (abril, Maio, Junho), bem como um bónus de ética durante estes três meses.

O mundo com AFP

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Médica da Marinha morta no RJ dirigiu hospital de Brasília na pandemia

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Médica da Marinha morta no RJ dirigiu hospital de Brasília na pandemia

Agência Brasil

A capitão de mar e guerra e médica geriatra, Gisele Mendes de Souza e Mello, de 55 anos, foi diretora do Hospital Naval de Brasília durante a pandemia da covid-19. Segundo colegas da Marinha, ela se destacou na condução da instituição no período.

Ela morreu na tarde dessa terça-feira (10), depois de ser baleada na cabeça dentro do complexo do Hospital Naval Marcílio Dias, na zona norte do Rio de Janeiro, enquanto participava de um evento no auditório da Escola de Saúde da Marinha do Brasil. O tiro que atingiu a médica foi disparado durante uma operação policial na Comunidade do Gambá, que é vizinha do hospital. Segundo a Secretaria de Estado de Polícia Militar, agentes da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) Lins foram atacados quando chegaram ao local.

“Gisele era muito respeitada e admirada por todos. Ela nos inspirava pela forma como encarava e vencia os desafios, que não foram poucos ao longo de quase 30 anos de carreira na Marinha. Quando foi diretora do Hospital Naval de Brasília, Gisele conduziu brilhantemente a missão de estar à frente de um dos principais hospitais da Marinha durante a pandemia. Sempre lembraremos da Gisele por sua liderança, cordialidade, profissionalismo e dedicação plena ao serviço da pátria. Estamos todos muito tristes”, disse Adriana Lopes, capitã e diretora da Escola de Saúde da Marinha.

Em nota, a Marinha informou que “o sepultamento da Capitão de Mar e Guerra Médica Gisele Mendes Souza e Mello será realizado amanhã (12) de forma privada, apenas com a presença de familiares, amigos e colegas da Força Naval. Durante o funeral, serão prestadas as devidas honras fúnebres, conduzidas pela Marinha do Brasil. A família solicita que sua privacidade seja respeitada neste momento de profunda dor”.

 



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Reforma tributária avança em comissão do Senado – 11/12/2024 – Mercado

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Reforma tributária avança em comissão do Senado - 11/12/2024 - Mercado

Nivaldo Souza, Eduardo Cucolo

O texto-base do primeiro projeto de regulamentação da reforma tributária foi aprovado nesta quarta-feira (11) na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado. Os parlamentares ainda vão analisar sugestões de mudanças ao texto, os chamados destaques.

Entre os temas ainda pendentes na comissão estão as inclusões de armamentos e bebidas açucaradas no Imposto Seletivo sobre itens prejudiciais à saúde e ao meio ambiente e benefícios para saneamento e veterinários.

O passo seguinte será a votação do texto no Plenário da Casa, prevista para esta quinta-feira (12). Depois, haverá nova análise pela Câmara, o que deve ocorrer na próxima semana, antes que o texto siga para sanção da Presidência da República.

O texto foi debatido por várias horas na comissão, com os senadores pressionando o relator, Eduardo Braga (MDB-AM), para ampliar os benefícios fiscais previstos no novo regime.

Já foram contemplados, por exemplo, a Zona Franca de Manaus, as Sociedades Anônimas do Futebol, o agronegócio e as cooperativas de saúde.

Na cesta básica, houve redução do benefício para o óleo de soja, ajuste na definição sobre que alimento pode ser considerado pão francês e inclusão da erva mate. Bolachas e biscoitos terão desconto de 60% na alíquota.

As alterações podem pressionar ainda mais a alíquota para os setores sem benefícios, estimada em pelo menos 28,1%.





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