O segundo turno em São Bernardo do Campo (SP), berço político do presidente Lula (PT), tem, entre os moradores, críticas ao partido por desempenho de gestões anteriores e candidatos que, na reta final da campanha, direcionam o discurso para o centro, sinalizando conversar tanto com o mandatário petista quanto com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), em um eventual mandato.
A cidade era tida como prioritária para o PT nas eleições 2024, mas o candidato da sigla, o deputado estadual Luiz Fernando, ficou em terceiro lugar no primeiro turno, com 23,1% dos votos, atrás de Marcelo Lima (Podemos) e Alex Manente (Cidadania), que tiveram respectivamente 28,6% e 26,5% dos votos.
À Folha, durante caminhada nesta quarta-feira (16) pelo bairro Batistini, Manente afirmou que vai buscar o diálogo com Lula e Tarcísio caso seja eleito. O candidato tem o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de Tarcísio.
Indicação do ex-mandatário, seu vice é Paulo Eduardo (PL), que já foi assessor do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Conhecido como Paulo Chuchu, o policial civil se apresenta como a “principal liderança bolsonarista e conservadora na região do Grande ABC” e é tido como pessoa de confiança da família do ex-presidente.
Já Manente nega ser bolsonarista, apesar de ser identificado assim por adversários como o petista Luiz Fernando, que se declarou neutro depois de perder no primeiro turno. Na corrida eleitoral, entretanto, Manente explorou o antipetismo.
“O fato de o PT ter nascido aqui não significa que vai para sempre comandar a cidade. O PT tem um limite de votos e não está conseguindo ultrapassar esse teto exatamente pelo movimento sectário que faz aqui”, afirmou o candidato à Folha.
Manente já foi eleito vereador da cidade em 2004, deputado estadual em 2006 e 2010 e deputado federal por três mandatos (2015-2027). Hoje, é líder do Cidadania na Câmara dos Deputados.
O adversário Marcelo Lima (Podemos) foi eleito vereador em São Bernardo em 2008 e 2012. Ele se elegeu vice na chapa de Orlando Morando (PSDB), que é o atual prefeito, nas eleições de 2016 e 2020. Em 2022, foi eleito deputado federal, mas teve o mandato cassado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) por infidelidade partidária ao trocar o Solidariedade pelo PSB.
Enquanto vice de Morando, foi também secretário de Serviços Urbanos. No cargo, foi denunciado criminalmente pelo Ministério Público em 2021 em investigação envolvendo irregularidade em licitações. Na época, a Justiça ordenou sua saída do secretariado, além de estabelecer medidas cautelares.
Em setembro deste ano, Lima solicitou à Justiça a revogação das medidas cautelares ainda vigentes, alegando que o tema tem sido deturpado nas eleições atuais, “servindo de subsídio para elaboração de fake news”. O Ministério Público, por sua vez, foi contra o pedido.
Manente tem recuperado o caso para questionar como um candidato afastado da secretaria no município poderia ser prefeito. Lima nega que a situação possa interferir caso seja eleito. A última manifestação do Ministério Público de São Paulo aponta que não foi negado a ele o exercício de outras funções públicas além daquela ligada à secretaria de Serviços Urbanos.
Enquanto Lima argumenta que o caso tem sido deturpado para alimentar fake news, a campanha de Manente fala de desinformação que recupera vídeo do político em evento religioso de matriz africana. O conteúdo circula como atual, tem tom preconceituoso e associa negativamente a participação dele no evento religioso à busca por “orixás e entidades” para reverter o resultado eleitoral.
Assim como Manente, Marcelo Lima afirma ser o candidato do diálogo e diz que não vai ter problemas na relação com Lula e Tarcísio. É escorregadio ao falar sobre o presidente ou sobre Bolsonaro e afirma que não faz sentido trazer a lógica polarizada entre os dois para a disputa municipal.
“Bolsonaro, João, Pedro e Maria, acho que não cabe para uma eleição municipal. Agora, é ver quem está preparado para governar uma cidade como São Bernardo”, afirmou durante caminhada na avenida Francisco Prestes Maia na quarta-feira.
O prefeito Orlando Morando (PSDB), que o apoia no segundo turno, fez campanha a favor de Bolsonaro nas últimas eleições gerais. Morando apoiou a sobrinha Flávia Morando (União Brasil) no primeiro turno para o cargo de prefeita. Ela ficou em quarto lugar, com 21,4% dos votos, e agora também apoia Lima. No primeiro turno, ambos se posicionaram contra ele, criticando-o por ter sido cassado quando era deputado.
Moradores ouvidos pela Folha apontaram o acesso a exames e especialidades de saúde, o preço da passagem de ônibus e a segurança como alguns dos principais problemas da cidade. Mesmo divididos quanto ao PT, citaram em comum acreditar que o baixo desempenho em gestões anteriores fez com que o partido não tenha sido bem-sucedido nas eleições.
O último petista a governar a cidade foi Luiz Marinho, atual ministro do Trabalho e Emprego de Lula. Ele chefiou a cidade de 2009 a 2016.
Segundo a influenciadora digital Maria Zenólia Costa, 52, nenhum dos dois candidatos do segundo turno pensa na classe média ou nos mais pobres. Ela cita a demora de três anos para conseguir uma consulta no dermatologista para exemplificar problemas na saúde.
A administradora Maria Aparecida da Silva, 39, fala da falta de segurança no bairro onde mora, o Baeta, e cita a necessidade do cuidado com a poda de árvores para evitar transtornos com as chuvas.
O caminhoneiro Roberto Martins de Laia, 46, fala da dificuldade em estacionar o carro na cidade e reclama que o PT ” só prometeu, sem fazer nada. A população ficou à mercê.”
A jornaleira Elisete Sousa de Lima, 60, reclama da saúde, área que os dois candidatos citaram à Folha como prioritária, e afirma que a cidade precisa investir em educação.
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