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Scholz da Alemanha e Modi da Índia se reunirão em Nova Delhi – DW – 25/10/2024

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O chanceler alemão Olaf Scholz e o primeiro-ministro indiano Narendra Modi devem co-presidir a 7ª edição do Consultas Intergovernamentais (IGC) entre a Índia e a Alemanha na sexta-feira.
Scholz chegou a Nova Deli na quinta-feira, pouco antes da meia-noite, com vários ministros do seu gabinete para as conversações de alto nível – um quadro estabelecido pelos dois países em 2011.
Scholz foi recebido pelo Ministro de Estado de Assuntos Internos da Índia, Nityanand Rai.
“Herzlich willkommen em Neu Delhi! (Bem-vindo a Nova Delhi)”, escreveu o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Índia, Randhir Jaiswal, em alemão na plataforma de mídia social X, enquanto compartilhava fotos da recepção cerimonial do Chanceler.
Esta é a terceira visita de Scholz à Índia desde que se tornou chanceler em 2021.
Em 2023, ele visitou a Índia duas vezes — para uma visita de estado bilateral em fevereiro e para participar do Cimeira dos Líderes do G20 mais tarde, em setembro.
O que são as Consultas Intergovernamentais?
A CIG – que se estende por dois dias – verá ministros de ambos os lados realizando discussões nas suas respectivas áreas. Eles então relatarão o resultado de suas negociações com Scholz e Modi.
O diálogo também surge num momento crucial tanto para Berlim como para Nova Deli, numa altura em que a Alemanha procura cortejar a Índia como um parceiro estratégico fundamental.
Na semana passada, a Alemanha adoptou o documento “Focus on India”, indicando que quer aprofundar a sua relação com a Índia.
Reforçar os laços em matéria de economia, clima e segurança e aproveitar O jovem talento da Índia espera-se que tenham uma posição elevada na pauta das negociações.
Por que os estudantes indianos estão migrando para as universidades alemãs
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Qual é o cronograma?
Na sexta-feira, Scholz e Modi também discursarão na 18ª Conferência Ásia-Pacífico de Empresas Alemãs (APK) em Nova Delhi, já que a conferência principal coincide com as consultas.
Vice-chanceler alemão e ministro da Economia Roberto Habeck co-presidirá o APK na sexta-feira.
Na quinta-feira, Habeck, o ministro do Trabalho, Hubertus Heil, e o embaixador alemão na Índia, Philipp Ackermann, participaram de um amistoso de hóquei entre a Índia e a Alemanha em um estádio na capital indiana.
“Será um dia maravilhoso, cheio de mensagens conjuntas, cheio de discussões frutíferas”, disse Ackermann, referindo-se às Consultas Intergovernamentais que acontecerão na sexta-feira.
Após as negociações, Scholz está programado para viajar para o estado de Goa, no oeste da Índia, onde a fragata naval alemã “Baden-Württemberg” e o navio de apoio de combate “Frankfurt am Main” farão uma escala pré-programada como parte do Indo-Pacífico da Alemanha. implantação, disse o Ministério das Relações Exteriores da Índia em um comunicado no início desta semana.
A alemã ThyssenKrupp Marine Systems está disputando um gigantesco acordo de seis submarinos com a Marinha indiana, mas a empresa espanhola Navantia também é concorrente.
Alemanha e Índia fortalecerão laços nas negociações bilaterais de Delhi
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Editado por: Wesley Dockery
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Indígenas buscam retomar protagonismo no uso de ayahuasca – 15/03/2025 – Ilustríssima

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16 de março de 2025
Marcelo Leite
[resumo] Quinta Conferência Indígena da Ayahuasca coroa levante contra protagonismo da pesquisa e de igrejas ayahuasqueiras na globalização da bebida que povos originários da amazônia utilizam para contato com antepassados e a natureza. Para eles, uso ritual da “medicina” foi desvirtuado pela comercialização sem regras e sem os cuidados necessários, criando malefícios como os do tabaco e da coca apropriados por não indígenas.
A flotilha yawanawa (pronuncia-se “iauanauá”) serpenteia pelo rio Gregório levando convidados da 5ª Conferência Indígena da Ayahuasca. Saídos de dois ônibus vindos de Cruzeiro do Sul, no Acre, após duas horas de viagem, todos embarcam nas lanchas de alumínio com motores rabeta, quatro ou cinco de cada vez, enquanto as malas seguem noutros barcos. Logística impecável.
Sete horas depois, a chegada destoa de incursões usuais em áreas indígenas da amazônia, com suas barrancas enlameadas. Para alívio dos visitantes, uma rampa de madeira sólida vence o aclive até a Aldeia Sagrada do povo da queixada (“yawa”), enquanto reboques puxados por quadriciclos levam as bagagens até o alto. A aldeia fica na Terra Indígena Rio Gregório, no município de Tarauacá (AC).
De 25 a 30 de janeiro, 207 integrantes de 34 etnias do Brasil e de outros sete países (Colômbia, Peru, México, Guatemala, Indonésia, Egito e EUA) participaram do evento em que 78 “nawa” (não indígenas; pronuncia-se nauá) não tinham direito a voto (nem voz, com raras exceções). Só os indígenas deliberaram criar um Conselho de Lideranças Espirituais, com a missão de retomar o controle do uso e da narrativa da ayahuasca.
Partiu ali dos povos da floresta um grito contra a arrogância com que seu conhecimento sobre a “medicina” (bebida sagrada) vem sendo atropelado pela ciência e por empresas, por igrejas e por governos.
A carta dirigida aos nawa, mas também a jovens indígenas em suas comunidades, encheu a boca de todos em favor do uso ético e responsável da ayahuasca, em oposição à globalização sem regras do chá, legalizado para uso religioso no Brasil todo e parcialmente nos EUA.
“Ninguém quer nos ouvir porque falamos a língua das plantas, dos pássaros”, disse na cerimônia de abertura Benki Piyãko, líder ashaninka.
Foi o primeiro de três rituais noturnos com ayahuasca, bebida chamada de uni pelos anfitriões yawanawa liderados por Nixiwaka e sua esposa Puttany (outros povos a nomearam como rami, kamarãpi, huni, dispãnī hew, tsĩbu, yageé, gaapi, kahpi, hayakwaska e nixi pae).
Mais de cem povos da amazônia usam a beberagem, segundo a artista plástica Daiara Tukano, presente na conferência. Estão em sete países: Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Panamá, Peru e Venezuela. O chá desencadeia um estado de consciência caracterizado por transformações do sentido de tempo, memórias vívidas, lampejos e manifestações visuais conhecidas como “mirações”.
Ninguém sabe como surgiu a tecnologia que combina o poder imagético da dimetiltriptamina (DMT) das folhas do arbusto chacrona (Psychotria viridis) com as substâncias do cipó-mariri, também chamado de jagube ou yagé (Banisteriopsis caapi), que facilitam sua chegada ao cérebro. Certo é que a infusão dos dois vegetais nasceu no noroeste da floresta amazônica e que seus povos originários atribuem a descoberta a ensinamentos vindos das próprias plantas.
Não foram povos indígenas, entretanto, que tornaram a ayahuasca celebridade mundial. Primeiro ela deu origem, nos anos 1930, à religião sincrética Santo Daime, depois às igrejas União do Vegetal (UDV) e Barquinha, início de uma diáspora que a disseminaria por mais de 80 países.
Nas décadas de 1960 e 1970, a bebida caiu nas graças da ciência e da contracultura ocidentais, por meio de escritos do etnobotânico Richard Evans Schultes e dos poetas beat William S. Burroughs e Allen Ginsberg. Mochileiros do Brasil conheceram o Santo Daime na amazônia e abriram filiais da igreja em centros urbanos, inclusive no exterior.
A legalização definitiva do uso religioso no Brasil viria em 2010, com a resolução nº 1 do Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (Conad). Embora o diploma mencione a garantia constitucional para “manifestações de culturas populares indígenas e afro-brasileiras” e “populações tradicionais da amazônia”, fica evidente no texto que se regulamentava o uso do chá nas igrejas ayahuasqueiras, até porque foi por elas se mobilizarem que emergiu a resolução.
Comunidades indígenas também ficaram à margem do pedido articulado por essas congregações, em 2008, para o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) reconhecer a ayahuasca como bem cultural de natureza imaterial.
Após protestos, o instituto viu como legítima a necessidade de ampliar o reconhecimento para incluir práticas indígenas, mas o alto custo de realizar os estudos relacionados paralisou o processo, sem conclusão até hoje.
Em que pesem tais arestas, organizadores da conferência convidaram Alfredo Gregório de Melo, o Padrinho Alfredo do Santo Daime, mas ele não pôde comparecer. Enviou representantes que, na plenária final, apresentaram carta em que o padrinho honra os povos originários como guardiões das plantas sagradas: “Cada um de nós tem uma parte desse mapa que nos leva ao caminho da união.”
Nos anos 2010, com o chamado renascimento psicodélico na medicina, a ayahuasca atraiu a atenção de neurocientistas da Espanha e do Brasil. A USP de Ribeirão Preto formou um grupo de estudos pioneiro e deu origem a outro, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que publicou em 2018 estudo de alto impacto sobre benefícios da ayahuasca contra depressão resistente.
Surgiu em Barcelona o Centro Internacional de Educação, Pesquisa e Serviço Etnobotânico, conhecido pela sigla em inglês Iceers, que organizou em Ibiza, no ano de 2014, a primeira Conferência Mundial da Ayahuasca. Para sede da segunda reunião foi escolhida a capital do Acre, Rio Branco, mas o evento ficou marcado por um estremecimento de povos indígenas com a pesquisa acadêmica.
Insatisfeitos com o protagonismo de pesquisadores na discussão de 2015 em Rio Branco, sem “espaço reconhecido e valorizado para as vozes dos líderes espirituais indígenas”, alguns deles começaram a articular ali uma conferência exclusiva. A primeira se realizaria em dezembro de 2017 na Terra Indígena Puyanawa, município de Mâncio Lima (AC).
A carta aprovada na 1ª Conferência Indígena da Ayahuasca estava já centrada no tema da apropriação, fora dos territórios acreanos, do conhecimento tradicional sobre a poção. O documento conclamava povos usuários a “refletir sobre até que ponto é benéfico ou ameaçador transmitir estes conhecimentos para não indígenas e qual será a forma de diálogo e compartilhamento externo”.
Quatro conferências e sete anos depois, a discussão entre povos ayahuasqueiros se aprofundou e amadureceu, desembocando em janeiro na criação do Conselho de Lideranças Espirituais, que deverá ter a primeira reunião formal em 2027 na Colômbia, a cargo da União de Médicos Indígenas Yageceiros da Amazônia Colombiana (Umiyac). Até lá ocorrerão consultas entre os povos, sob coordenação do Instituto Yorenka Tasorentsi de Benki.
A quinta e última carta indígena sobre ayahuasca é peremptória: “Repudiamos todas as formas de comercialização da ayahuasca que formaram um mercado global fora dos limites éticos”, afirma o manifesto. “Demandamos a fiscalização, a proibição e responsabilização nos casos de tentativas de criação de patentes sem a devida consulta e anuência, assim como a produção, venda e uso indevido das medicinas tradicionais de conhecimento ancestral dos povos indígenas.”
A irritação patente na reunião da Aldeia Sagrada Yawanawa deriva do corpo mole de governos na efetivação de direitos indígenas já reconhecidos, mas só formalmente. O consentimento livre, prévio e informado, assim como a repartição de benefícios com uso de recursos genéticos e conhecimento tradicional associado, está consagrado em tratados internacionais e leis nacionais, mas sem resultado prático.
Não faltam diplomas, como convenções da ONU e da OIT, declarações da Unesco, Protocolo de Nagoya etc., a consagrar a propriedade coletiva de conhecimento tradicional. Mas permanece a queixa sobre ausência de consulta, concordância e reparação para múltiplas formas de apropriação indevida.
Pesquisa apresentada na conferência indicou a existência de 543 pedidos de patente no mundo relacionados com ayahuasca até maio de 2024. Havaí e Costa Rica ostentam plantações de chacrona e mariri, a milhares de quilômetros do centro de origem dos vegetais na amazônia.
No Brasil se criou há dez anos um Fundo Nacional de Repartição de Benefícios, inicialmente gerido pelo BNDES, mas não se conhecem projetos indígenas que tenham recebido recursos dessa fonte.
Levantamento de junho de 2023 do Iceers também debatido no plenário indicou que 4,2 milhões de pessoas no mundo (1,3 milhão nos EUA, 567 mil no Brasil) já tomaram ayahuasca, 473 mil só no ano de 2019 (200 mil norte-americanos, 181 mil brasileiros). Naquele ano 4,4 milhões de doses foram servidas, mas em maior quantidade no Brasil, dada a frequência bimensal do consumo em igrejas ayahuasqueiras: 2,6 milhões de porções aqui, 1,3 milhão nos EUA.
Proliferam centros de retiro que usam ayahuasca com alegados fins terapêuticos. O epicentro do turismo ayahuasqueiro está no Peru, com 173 estabelecimentos, seguido por Costa Rica (20), Colômbia (14) e Equador (13); no Brasil eram 7. De lá para cá, vários outros centros terão surgido, na esteira da notoriedade crescente de aplicações clínicas experimentais de psicodélicos.
O uso indiscriminado da ayahuasca, alertam líderes indígenas, fora dos métodos e cuidados praticados por pajés, implica perigos que ameaçam a imagem da bebida. Além de purgas (vômitos e diarreias) violentas, ocorrem surtos psicóticos em pessoas com tendência prévia e raras mortes por suicídio, homicídio ou afogamento.
O Iceers encontrou 58 registros de casos fatais entre 1994 e 2022, a maioria por possíveis efeitos adversos (16) e suicídios (14). Um número baixo, se considerado o intervalo de três décadas, em especial na comparação com óbitos associados ao álcool (2,6 milhões a cada ano, segundo a OMS) e tabaco (8 milhões por ano).
A ênfase dos discursos na conferência, entretanto, não recaiu sobre riscos, mas antes sobre os benefícios da ayahuasca para as pessoas. A ideia não é impedir a disseminação da bebida, mas disciplinar seu uso com base na sabedoria indígena sobre seus poderes e com respeito pelo conhecimento tradicional associado.
“É por isso que estou levando para o mundo essa ciência”, disse Benki. “Se produzida da maneira errada, sem respeitar a origem [da ayahuasca], vai virar veneno e se voltar contra nós”, alertou, aludindo ao tabaco e à coca, plantas empregadas para cura por indígenas que se tornaram flagelos após apropriação por brancos.
“Benki e eu fomos pioneiros em levar [esse conhecimento indígena] para o mundo, compartilhar com o Ocidente”, disse o anfitrião Nixiwaka (nome também do instituto que representa as aldeias yawanawa Sagrada e Nova Esperança). “Lá [na sociedade não indígena] tem famílias, amor, gente que luta. Merecem compartilhar de nossas medicinas.”
Os povos indígenas da ayahuasca não encaram o chá como diversão. Usam para entrar em contato com ancestrais e com a paz da natureza. Houve três cerimônias noturnas com a bebida abertas a todos na conferência, em meio a cantos coletivos entoados na escuridão da oca, com efeito transportador ao menos sobre os convidados.
Durante os debates também sempre havia a bebida disponível, acompanhada da recomendação de tomar doses pequenas, só para “pensar claro”, e não “copões”. Poucos visitantes, além de indígenas, foram até a mesa lateral consagrar, em período diurno, o chá mantido em dois grandes jarros de vidro com torneirinhas.
Em dezembro de 2022, veio a público no Canadá que a fabricante de fitoterápicos Filament Health estava desenvolvendo uma pílula de ayahuasca. O conceito era combinar extratos vegetais da chacrona e do cipó amazônicos.
Não era bem o que se chama de “farmahuasca”, mistura de DMT com betacarbolinas como princípios ativos purificados, mas uma tentativa de emular a própria bebida, com todos os outros compostos alcaloides presentes nas plantas, tirando proveito do que se chama de “efeito comitiva”. O caso foi um dos mais debatidos na conferência.
Na época a empresa afirmou ter consentimento de parceiros indígenas no Peru, sem dizer quais. Planejava testes clínicos para obter autorização da agência de fármacos FDA nos EUA, mas disse que estava ainda em estágio inicial de desenvolvimento e que, caso chegasse a um produto, respeitaria a exigência de repartição de benefícios pelo Protocolo de Nagoya da Convenção da ONU sobre Diversidade Biológica.
Além do episódio canadense, foram abordadas no plenário pesquisas para sequenciamento genômico das plantas da ayahuasca. Vocalizaram-se dúvidas sobre autorização indígena para os estudos, em meio a opiniões sobre aplicação dessa informação genética com pouco lastro na realidade científica —a partir dela seria possível fazer cópias da ayahuasca, de suas “células”, ouviu-se.
Transpareceu de certas falas uma inclinação a pôr sob crivo indígena qualquer pesquisa ou desenvolvimento com a dimetiltriptamina, princípio ativo desencadeador das mirações da ayahuasca. No entanto, a DMT está presente também em vários vegetais, como a jurema-preta (Mimosa tenuiflora) usada por povos originários da caatinga.
O composto ocorre ainda em árvores do gênero Acacia, com quase mil espécies presentes na Austrália e centenas na África. Além disso, é produzido no próprio cérebro humano. Antes mesmo de essa produção endógena ser conhecida, a substância já havia sido sintetizada pelo químico canadense Richard Manske em 1931. Não será trivial, diante disso tudo, advogar pela primazia indígena sobre a DMT isolada.
Ficou evidente, na conferência, que o estranhamento entre indígenas e pesquisadores tem dificultado o diálogo, a troca de informações comprováveis e a solução de conflitos pendentes, alguns fundados em mal-entendidos. Não havia membros da comunidade biomédica com voz na Aldeia Sagrada para defender seus pontos de vista durante a conferência.
Inverteram-se os papéis, por assim dizer. Há cinco séculos indígenas das Américas veem sua cultura material e imaterial —e até seus corpos, na escravidão e no genocídio— explorada sem consentimento. Dessa dominação colonial contra povos originários fizeram parte também as ciências, tanto humanas quanto biológicas, cujas instituições ainda não se organizaram para unificar uma resposta à demanda.
Outra revolta central dos povos ayahuasqueiros na conferência se dirigiu contra a repressão policial ao transporte do chá, para eles uma afronta à liberdade religiosa e à prática de seus costumes garantida no artigo 231 da Constituição e em tratados internacionais. Não faltaram relatos, inclusive dos líderes Nixiwaka e Benki, sobre ameaças de prisão, apreensões e humilhações sofridas ao cruzarem fronteiras.
Um dos objetivos registrados na carta da conferência é alertar jovens que viajam para proporcionar “vivências” sobre os riscos a que estão sujeitos. Na prática, autoridades policiais e alfandegárias ignoram as provisões legais, em normas domésticas e internacionais, que autorizam indígenas a circular com suas medicinas e apetrechos. Reivindica-se algum tipo de documento que legalize esse trânsito para quem seguir as diretrizes do Conselho de Lideranças Espirituais.
Um caso limítrofe discutido na conferência foi o de Ako Kamanawa, jovem brasileiro da etnia Noke Koi retido no México por mais de dois anos e meio para ser julgado, após bagagens de seu grupo serem apreendidas com 141 quilos de gel de ayahuasca. Convidado para conduzir cerimônias em solo mexicano, ele não tinha conhecimento de que tamanho volume da bebida concentrada havia sido adquirido no Peru, não em sua aldeia no Brasil.
Ako contou com assistência jurídica do Iceers, que mantém o Fundo de Defesa da Ayahuasca. Ele foi posto em liberdade provisória e mora há 20 meses na casa de Armando Loizaga, presidente do Instituto Nierika, que se responsabilizou por ele e narrou o caso na conferência do Acre.
“Eu promovendo a paz, a cura mundial, sou considerado traficante. É uma falta de vergonha, de entendimento”, lamentou Nixiwaka após o relato. Mas convocou todos os “parentes” (outros povos indígenas), após cinco conferências, a constituir o conselho e “chorar quando for necessário, mas se levantar quando for preciso”.
Uma oca circular embasbaca os visitantes recém-desembarcados com seus 41 m de diâmetro, 7 m de altura no centro, 18 vigas de madeira com 20 m apoiadas num anel central de aço e cinco degraus de arquibancada no perímetro. Projeto do arquiteto paulistano Marcelo Rosenbaum, o “suwu” foi construído em nove meses, só por indígenas, para abrigar as plenárias da quinta conferência.
Toda a madeira foi obtida, serrada e aparelhada em território indígena. Vieram de barco 750 toneladas de cimento e ferro, 500 kg por vez, consumindo 60 mil litros de gasolina. Custo total, incluindo a hospedaria e o refeitório em formato da letra Y inicial de Yawanawa: US$ 2 milhões (mais de R$ 11 milhões).
A maior parte do dinheiro veio de parceria sui generis com o artista informático turco-americano Refik Anadol, que já expôs trabalhos no MoMA e em Davos. Suas obras gráficas são geradas por inteligência artificial treinada com doses maciças de dados, que ele chama de “alucinações” e que podem ser “assinadas” como objetos únicos por meio da tecnologia NFT (sigla de “non fungible token”).
O acervo de informações utilizado no projeto Winds of Yawanawa incluía desenhos feitos por Nawashahu e Mukashahu, filhas de Nixiwaka e de Puttany, e dados ambientais coletados na Aldeia Sagrada, como sons do vento. Com base nisso ele criou mil peças de arte digital NFT vendidas no lançamento na ilha grega de Mikonos em julho de 2023 (veja aqui vídeo com amostra da cooperação de Anadol com os yawanawa).
A apresentação a indígenas na conferência da incursão de Anadol nos mistérios da floresta ocorreu na noite de 27 de janeiro. Luzes se apagaram e se ergueu uma tela vertical, no formato de um celular, para a projeção por computador de três séries de imagens: uma com desenhos originais das filhas de Nixiwaka, outra com grafismos criados a partir deles pela máquina e, ao final, animações de formas orgânicas entre pontilhistas e eruptivas, cuja relação com a cultura yawanawa mostra-se difícil de acompanhar.
“Tudo com nossa arte, nosso conhecimento, e não com dinheiro de governo ou de empresas”, exultou o anfitrião Nixiwaka, comemorando o casamento milionário de manifestações ancestrais com a mais recente tecnologia. “É possível desenvolver nossas comunidades e territórios sem precisar se vender.”
A parceria com os nawa não se limitou a NFTs e projetos de arquitetura. Os organizadores também buscaram consultoria jurídica para instruir sua retomada da ayahuasca em todas as frentes, assim como anunciaram na carta do evento a criação de uma página na internet para gerar constrangimento e risco reputacional a empresas e estudiosos que usarem seu conhecimento sem consulta.
Até mesmo a reabertura de um diálogo com a pesquisa acadêmica parece agora mais possível, como se depreende de uma carta do Iceers lida ao final da conferência: “Quero estender minha profunda gratidão pela confiança que temos construído ao longo dos últimos três anos, pela orientação e aprendizado e pela busca de um futuro juntos, em aliança pelo conhecimento concentrado em seus territórios”, escreveu Benjamin De Loenen , diretor executivo, que não compareceu por estar de luto pela morte do amigo Ricard Faura.
“Minha intenção ao [aceitar convite para] participar da mesa sobre transporte de ayahuasca foi começar expressando publicamente minhas sinceras desculpas pelos erros que o Iceers, sob minha liderança, cometeu na organização da Conferência Mundial de Ayahuasca em Rio Branco em 2016.”
De Loenen disse ainda que está em curso um processo de consulta com líderes dos territórios no Acre para construir relações de confiança na organização de um Encontro Mundial da Ayahuasca na cidade de Girona, Espanha, em 2026. E pôs o Iceers a serviço da liderança indígena para abrir um “diálogo em aliança global”.
Ao final da segunda cerimônia noturna com ayahuasca, comandada pelos ashaninka e seu canto de pássaros, Benki convidou todos a cantarem juntos. O propósito era trazer a energia do universo à casa, explicou. Cada povo presente entoou seus próprios cânticos.
Por meia hora ou mais ouviu-se uma cantoria polifônica, que fez caírem lágrimas sem contraponto diante da expressão concreta da diversidade visionária que se unifica na ação coletiva, sem perder a identidade, mas criando uma coisa nova e ancestral: o frescor verdejante da natureza brotando em forma de música humana.
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O Oxford Historiador enfrenta a deportação do Reino Unido depois de pesquisar na Índia … na Índia | Ensino superior

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16 de março de 2025
Diane Taylor
Um acadêmico de alto desempenho foi ameaçado de deportação do Reino Unido porque o Escritório em casa Diz que passou muitos dias conduzindo sua pesquisa exigindo acesso a arquivos históricos indianos armazenados na Índia.
Manikarnika Dutta, 37, historiador, conduziu a pesquisa como parte de seus compromissos acadêmicos com o Universidade de Oxfordque envolvia estudar arquivos nas cidades da Índia e participar de uma série de conferências internacionais.
De acordo com as regras do Home Office, as pessoas que solicitam licença indefinida permanecem no Reino Unido, com base em longa residência de 10 anos ou mais, podem estar no exterior por um máximo de 548 dias durante um período de 10 anos antes de se candidatar a licença indefinida. Dutta ficou fora por 691 dias. Outros acadêmicos experimentaram o mesmo problema com o escritório em casa sobre a quantidade de tempo que passam no exterior.
Juntamente com a rejeição de seu direito de continuar morando no Reino Unido com base no número de dias no exterior, o Ministério do Interior rejeitou seu direito de permanecer no país com base em que ela não tem uma vida familiar no Grã -Bretanha, embora ela e o marido estejam casados há mais de 10 anos e morem juntos no sul de Londres.
Dutta agora é professor assistente do University College Dublin, na Escola de História. Ela anteriormente conduziu pesquisas nas universidades de Oxford e Bristol. Ela vive em Welling com o marido, o colega acadêmico Souvik Naha, professor sênior de história imperial e pós-colonial da Universidade de Glasgow.
“Fiquei chocado quando recebi um e -mail dizendo que tenho que sair”, disse Dutta ao Observador. “Eu trabalhei em diferentes universidades do Reino Unido e moro aqui há 12 anos. Uma grande parte da minha vida adulta foi vivida no Reino Unido desde que cheguei à Universidade de Oxford para fazer meu mestrado. Eu nunca pensei que algo assim acontecesse comigo. ”
Dutta chegou ao Reino Unido em setembro de 2012 com um visto de estudante e depois obteve um visto de cônjuge como dependente de seu marido, que obteve um visto em uma rota de “talento global”. Segundo seu advogado, Naga Kandiah, na MTC Solicitors: “Essas viagens de pesquisa não eram opcionais, mas essenciais para cumprir suas obrigações acadêmicas e institucionais. Se ela não fizesse essas viagens, não teria sido capaz de concluir sua tese, atender aos requisitos acadêmicos de suas instituições ou manter seu status de visto. ”
Em outubro do ano passado, ela se candidatou a licença indefinida para permanecer no Reino Unido com base em longa residência. O marido também se inscreveu. Seu pedido foi concedido, enquanto o dela foi recusado. Ela solicitou uma revisão administrativa da recusa, mas o Ministério do Interior manteve sua decisão de rejeitar seu pedido.
A revisão concluiu: “Agora você deve deixar o Reino Unido. Se você não sair voluntariamente, poderá estar sujeito a uma proibição de reentrada de 10 anos e processado por ficar em excesso. ”
Dutta recebeu apoio de colegas acadêmicos desde que recebeu a carta de rejeição do escritório em casa.
Naha disse: “Esta decisão do Ministério do Interior tem sido terrivelmente estressante para nós dois. Ele teve um pedágio psicológico. Às vezes, dou palestras sobre essas questões e leio artigos sobre pessoas afetadas, mas nunca pensei que isso aconteceria conosco. ”
Kandiah lançou um desafio legal contra a decisão do Ministério do Interior de remover Dutta do Reino Unido. O Ministério do Interior respondeu dizendo que reconsiderará sua decisão nos próximos três meses. No entanto, o Ministério do Interior pode confirmar sua decisão original após o período de três meses e, até então, Dutta está no limbo.
Kandiah disse: “O caso do meu cliente exemplifica como essas situações prejudicam severamente a reputação do Reino Unido e sua capacidade de atrair e reter talentos acadêmicos globais – particularmente em um momento em que o fortalecimento das relações internacionais é crucial.
“Se o Reino Unido realmente busca se posicionar como líder global em academia e inovação, deve promover um ambiente que seja acolhedor para os principais talentos.
“Sem essa abordagem, as universidades do Reino Unido continuarão a perder pesquisadores de doutorado altamente qualificados nos quais investiram anos de recursos, conhecimentos e financiamento”.
Um porta -voz do Home Office disse: “É uma política governamental de longa data que não comentamos rotineiramente casos individuais”.
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Mbappe Double em Villarreal leva o Real Madrid Top of Laliga | Notícias de futebol

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22 minutos atrásem
16 de março de 2025
O primeiro tempo de Kylian Mbappe na vitória por 2-1 contra o Villareal move Madrid, três pontos, no topo da classificação.
Kylian Mbappe marcou duas vezes para ajudar o Real Madrid a derrotar a Villarreal por 2-1 e a mover provisoriamente o topo da classificação da Laliga.
Os anfitriões abriram o placar no sétimo minuto no sábado, quando o canto de Alex Baena foi desviado por Aurelien Tchouameni, permitindo que Juan Foyth marque de perto.
O Real Madrid nivelou 10 minutos depois, quando Mbappe atacou o tiro bloqueado de Brahim Diaz e a bola caiu aos pés para um acabamento de curto alcance.
Seis minutos depois, o internacional francês marcou seu 20º gol na liga da temporada, prendendo -se ao Lucas Vazquez’s através da bola e chegando ao lar.
Mbappe teve a chance de completar seu hat-trick no segundo tempo, quando se agarrou ao Vinicius Jr’s através da bola, mas a bandeira de impedimento foi levantada.
“É a última vez que jogaremos um jogo com menos de 72 horas de descanso”, disse o técnico Carlo Ancelotti, referindo -se à cansativa vitória na quarta -feira na Liga dos Campeões sobre o rival da cidade Atlético de Madrid.
Top da tabela real em 60 pontos, três livres do segundo colocado Barcelona, que têm um jogo em mãos depois que a partida com osasuna foi adiada na semana passada e enfrentar o terceiro colocado Atlético no domingo.
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