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Sem consultório pediátrico, CRM afirma que crianças são atendidas no corredor do PS em Rio Branco

O estado do Acre vem enfrentando o aumento das internações de crianças com síndrome respiratórias graves e até mortes pela doença. Foram nove óbitos de crianças em menos de dois meses, segundo a Secretaria de Saúde do Acre (Sesacre).

O problema expôs a falta de estrutura dos hospitais para atender crianças, já que o pronto-socorro é a referência para atendimentos graves na capital.

Pais das crianças que morreram com a doença acusam o estado de negligência e denunciam falta de estrutura e medicamentos nessas unidades. Por isso, nessa sexta-feira (10), o Conselho Regional de Medicina do Acre (CRM-AC) fez uma fiscalização no pronto-socorrro da capital.

A vistoria foi feita pela presidente do CRM, Leuda Dávalos e pelo conselheiro diretor Virgilio Prado, acompanhados de funcionários do setor de fiscalização do CRM.

Uma das principais irregularidades encontradas, segundo o conselho, foi com relação ao local de atendimento da pediatria, que não há um consultório e, por isso, as crianças são atendidas no corredor da unidade.

“O setor de pediatria do Huerb está em um espaço improvisado, inadequado para o que se propõe. O hospital passou por diversas reformas e ampliações ao longo dos últimos anos, mas a pediatria nunca foi contemplada. Esperamos sensibilizar a Sesacre da necessidade de melhorias amplas e urgentes”, destacou Prado.

Um relatório com os problemas detectados será elaborado pelo CRM e enviado, de maneira emergencial, à Secretaria Estadual de Saúde para que as devidas providências sejam tomadas.

Áudio de diretora expôs problema dias atrás

Começou a circular, neste sábado (11), um áudio da diretora do PS, Dora Vitorino, relatando à Sesacre os probemas para atender a demanda. No áudio, dá para perceber que ela se dirige à secretária adjunta de Assistência à Saúde, Adriana Lobão, e cobra agilidade na abertura de leitos.

g1 confirmou que o áudio é de 12 a 15 dias atrás, antes de a Saúde abrir novos leitos no pronto-socorro. Nele, Dora relata que estão chegando crianças para serem intubadas e que não tem onde colocá-las. Além disso, pede celeridade na abertura dos leitos e diz que não sabe mais o que fazer, inclusive, descreveu a situação das equipes médicas em não conseguir atender a demanda.

“Eu não tenho o que fazer mais, sinceramente. Peça agilidade para resolver a questão desses leitos, nossa reunião foi na quinta-feira de manhã, hoje é quarta, se passaram seis dias, seis dias é muito tempo para quem tava com urgência naquele dia, com paciente intubado, falei na reunião que eram 3, é uma situação muito complicada. Nós no pronto-socorro não temos o que fazer, não temos espaço para colocar crianças. O que tinha para fazer a gente fez, nós pegamos a sala do pós-óbito, colocamos a criança, e lá agora é para pediatria. Não temos mais o que fazer”, diz no áudio.

Logo após isso, o PS da capital chegou a abrir leitos pediátricos. Segundo a diretora da unidade, atualmente, o hospital tem 20 leitos, sendo uma semi-intensiva com quatro leitos, uma emergência com dois e duas observações com os demais leitos. Neste sábado (11), há 16 crianças internadas, sendo que nenhuma está em semi-intensiva.

Transferência de crianças do Hospital da Criança para o Into — Foto: Ágatha Lima/Rede Amazônica Acre

Pacientes transferidos

Em meio a tudo isso, o governo decidiu transferir as instalações e pacientes do Hospital da Criança de Rio Branco para o prédio do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Acre (Into-AC). A transferência de 63 crianças começou neste sábado (11).

O problema de leitos e falta de estrutura do Hospital da Criança ficou mais evidente nos últimos dias, após o registro de, pelo menos 9 mortes de crianças de 2 meses a 4 anos com síndromes respiratórias.

Com apenas nove leitos de UTI na unidade, que é referência para o atendimento pediátrico no estado, as crianças estavam morrendo sendo atendidas no Pronto-Socorro da capital e algumas acabaram morrendo à espera de transferência. Como foi o caso do pequeno Théo Dantas, de 10 meses.

Agora, com a reforma no Hospital da Criança e transferência das instalações, todos os atendimentos pediátricos passam para o Into, não só os casos de síndromes respiratórias. No entanto, segundo a Secretaria de Saúde, os pais que tiverem com crianças doentes devem primeiro procurar a Unidade de Pronto Atendimento do Segundo Distrito ou, no casos mais graves, o PS, e depois os pacientes serão remanejados ao Into, caso seja solicitado pelo médico.

Ao todo, o Into deve contar com 100 leitos pediátricos, ou seja, 37 a mais que no Hospital da Criança. O governo não divulgou a quantidade exata de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e enfermaria pediátricos que serão instalados.

O Into chegou a ser referência no atendimentos de pacientes infectados pelo novo coronavírus no estado. No final do mês de março deste ano, com a redução de casos da doença no estado, a unidade deixou de oferecer tratamento contra a Covid-19 e passou a funcionar como um complexo da Fundação Hospitalar (Fundhacre).

Nos últimos dias, o aumento nos casos de síndromes respiratórias em crianças tem chamado atenção. Mães e pais têm ficado desesperados com a demora por leitos para internação dos filhos e alegam negligência médica.

Desde abril, foram registrados 96 casos de crianças que precisaram passar por internação no Pronto-socorro de Rio Branco, segundo dados divulgados pela Sesacre na última quarta (8). O g1 tentou atualizar esses números neste sábado (11) com a Saúde, mas ainda aguarda resposta.

O governo informou que a transferência das instalações e pacientes do Hospital da Criança para o Into estava programada para acontecer após o cancelamento da resolução de tombamento do prédio, o que ocorreu na quinta (9). Com isso, vai ser possível fazer obras de reforma e ampliação.

Também por conta da alta procura por atendimentos de casos de síndromes respiratórias, o governo informou que o Pronto-Socorro de Rio Branco e a Unidade de Pronto Atendimento (Upa) do Segundo Distrito também passam por ampliação dos leitos.

Bebês morreram de síndromes respiratórias em Rio Branco e pais alegam negligência — Foto: Arquivo pessoal

Pais denunciam negligência

As famílias das crianças que morreram vítimas de síndromes gripais em Rio Branco ainda buscam uma explicação para a perda dos pequenos. Pelo menos quatro mães já se juntaram e pretendem entrar na Justiça contra o estado, por entenderem que houve negligência no atendimento das vítimas.

Em comum, elas relatam que os bebês deram entrada em unidades de saúde da capital com sintomas gripais, logo o quadro deles agravou e não havia leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) disponível para internação. Sobre isso, o governo disse que não vai se manifestar.

A 1ª Promotoria de Justiça Especializada de Defesa da Saúde, do Ministério Público do Acre informou que vai apurar se houve omissão no atendimento a crianças e a disponibilidade de leitos de pediatria, medicamentos e insumos da rede pública estadual, destinados ao atendimento de crianças acometidas de vírus respiratórios.

“Vamos apurar se houve omissão no atendimento às crianças que, infelizmente, morreram, e estamos à disposição das famílias. No início da semana, cobramos a realização de uma campanha para alertar a população. Estamos experimentando um aumento de internações e, com isso, deve ser avaliada a possibilidade de reativar os leitos disponíveis no Into. Em breve, realizaremos outra inspeção, juntamente com nossa equipe técnica, para aferir a ocupação dos leitos e a regularidade do atendimento”, ressaltou o promotor Ocimar Sales, em nota enviada à imprensa.

Por conta do aumento na procura por atendimentos, a Saúde anunciou na quarta (9) que abriu 10 vagas de leitos semi-intensivos no Hospital da Criança e no PS foram abertos 16 leitos de enfermaria para crianças.

Com informações de G1Acre

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