rprangel2004@gmail.com (Ricardo Rangel)
A consultoria de orçamento da Câmara dos Deputados anunciou que, se não for feito um ajuste fiscal sério, existe risco de paralisação (“shutdown”) da máquina pública a partir de 2027.
Pouco antes desse alerta, o ministro do Desenvolvimento Social, Welligton Dias, anunciou que o governo estuda um reajuste para o Bolsa Família. A notícia caiu como uma bomba, provocando queda da bolsa e aumento do dólar, e obrigou a Casa Civil a vir a público para desmentir o ministro.
Como é possível que, em um momento tão perigoso, um ministro com um orçamento de quase 300 bilhões faça um anúncio (falso) de que o governo pretende aumentar o Bolsa Família– cujo valor dobrou de 2020 para cá — ainda mais?
Sim, é um problema de comunicação, mas não é do tipo que Sidônio Palmeira possa resolver.
É um problema de comunicação do presidente da República consigo mesmo e com seu próprio governo.
Lula se recusa a compreender o risco que corre. Diz que se “depender de mim [depende de quem?], não haverá novas medidas fiscais”. Desautoriza seu ministro da Fazenda quando este tenta melhorar a fiscalização. Insiste em isenção de imposto para a classe média.
O que Lula está comunicando a seus ministros é que pode gastar à vontade. Não surpreende que seus ministros forcem a barra para gastar. E como a punição que recebem nunca é mais do que uma bronca, os ministros vão continuar tentando forçando a barrar para gastar.
Nem sempre foi assim, por sinal.
Em 1996, durante a fase de estabilização do Real, o ministro Clovis Carvalho veio a público para criticar a política econômica de Pedro Malan. FHC sabia que era preciso fazer o ajuste fiscal — e respeitava seu ministro da Fazenda. Carvalho, mesmo sendo amigo próximo de Fernando Henrique, perdeu o emprego em menos de 24 horas.
Eram outros tempos.
(Por Ricardo Rangel em 10/02/2025)