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Sem margem equatorial, Brasil pode ter que importar petróleo em 2034

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Sem margem equatorial, Brasil pode ter que importar petróleo em 2034

Bruno de Freitas Moura – Repórter da Agência Brasil

Sem produção de petróleo na margem equatorial, área do litoral norte do país apontada como o novo pré-sal, o Brasil pode ter que voltar a importar petróleo dentro de dez anos.

A afirmação, feita nesta quinta-feira (24), no Rio de Janeiro, é da diretora de Exploração e Produção (E&P) da Petrobras, Sylvia Anjos (foto), e faz parte da campanha da estatal para obter licença para explorar a região.

“O tempo está sendo muito crítico, em cinco, seis anos tem uma caída da produção do pré-sal e, com isso, a gente pode voltar a ser importador de petróleo em 2034, 2035, se a gente não tiver descobertas”, afirmou ao participar de uma aula aberta no Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia (Coppe), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

A margem equatorial abrange uma área que vai da costa do Rio Grande do Norte ao Amapá. A comparação com o pré-sal é devido ao grande potencial de encontrar reservatórios de petróleo. No entanto, a exploração é criticada por ambientalistas, preocupados com possíveis danos ambientais.

A Petrobras tem 16 poços na nova fronteira exploratória, no entanto, só tem autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para perfurar dois deles, na costa do Rio Grande do Norte.

O Ibama negou a licença para outras áreas, como a da Bacia da Foz do Amazonas. A Petrobras pediu ao instituto, ligado ao Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), uma reconsideração e espera uma decisão.

Sylvia contextualizou que o Brasil é autossuficiente em petróleo desde 2006. Atualmente, 81% da produção nacional são atribuídos ao pré-sal. Como faz parte do ciclo do petróleo o atingimento de um pico de produção seguido por declínio da quantidade de barris extraídos, a Petrobras busca novas áreas de exploração para que não haja recuo da produção de óleo e gás.

Meio ambiente

Segundo a diretora, a Petrobras resolveu as exigências do Ibama para que seja alcançada a licença de exploração, entre elas a criação de centro para acolhimento de animais em caso de derramamento de óleo; a garantia de que não haverá excesso de capacidade no Aeroporto de Oiapoque, no Amapá; e simulação de exercícios de emergência ambiental.

Sylvia criticou também o que chamou de “fake news científica”, citando a informação propagada de que há corais na foz do rio Amazonas. Segundo ela, estudos já apontaram que coral não convive com o mar que não seja absolutamente transparente e sem argila.

“Não existe coral na foz do Amazonas, isso não é verdade. Existem rochas semelhantes a corais”, desmentiu ela, acrescentando que, apesar do nome Bacia da Foz do Amazonas, os poços ficam a 540 quilômetros da costa, distante da foz.

A executiva afirmou ainda que a região tem intenso fluxo de navios, ou seja, não é um local isolado. “A gente não está querendo perfurar em um santuário marítimo onde nada ocorre”, garantiu.

O Ibama não apontou a data em que haverá uma resposta ao pedido de reconsideração da Petrobras. A estatal solicitou à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) a suspensão do prazo para realizar a exploração na Bacia da Foz do Amazonas, de forma a não perder tempo de concessão sem licença.

Após participar da aula aberta na Coppe/UFRJ, a diretora de E&P disse a jornalistas que se sentirá “frustrada” caso a autorização do Ibama não saia ainda este ano. “Eu já estou frustrada”.

Apesar do sentimento, ela demonstrou expectativa positiva. “Estamos fazendo tudo o que é solicitado para que tenhamos a licença. Estamos confiantes”, assegurou.

Perfuração

Mesmo que a licença fosse concedida hoje, a Petrobras não acredita que a perfuração se iniciaria ainda em 2024. Seriam necessários cerca de três meses, contando tempo para limpar, preparar e transportar a sonda perfuradora até a região.

O fato de não obter a licença é um prejuízo operacional para a Petrobras, pois, além de atrasar uma possível produção de petróleo, há gasto com operações que não foram realizadas.

“Se você aluga uma sonda [de perfuração] que custa mais de R$ 600 mil por dia… a gente ficou dois meses com ela parada”, lamentou. 


Petrobras bate recorde de utilização de refinarias. - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP. Foto: André Valentim
Petrobras bate recorde de utilização de refinarias. - Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP. Foto: André Valentim

Produção de petróleo preocupa setores da economia   – foto – (André Valentim -Agência Brasil)

Apesar de o tema margem equatorial ter ganhado notoriedade nos últimos anos, o pedido de licença da Petrobras foi feito em 2013.

Sylvia revelou que, na costa do Rio Grande do Norte, onde a Petrobras obteve autorização do Ibama, dois poços já estão sendo perfurados. No entanto, ainda não há um parecer sobre a viabilidade econômica, ou seja, se a quantidade de petróleo encontrada é lucrativa.

“Todo óleo importa. Então, a gente vai buscar tecnologia para encontrar soluções para que se possa produzir, mesmo que não seja o pré-sal de milhões de barris”, afirmou.

O tempo necessário entre a descoberta de um reservatório e a retirada do petróleo gira em torno de seis a sete anos, explicou a executiva.

Ela disse, ainda, que a Petrobras está procurando fornecedores que possam reduzir o preço cobrado pelas plataformas de produção. Segundo ela, o custo oferecido por um FPSO (navio plataforma) foi de R$ 4 bilhões, o que inviabiliza a rentabilidade da produção.

Ainda segundo a diretora da Petrobras, algumas grandes petroleiras manifestam interesse em fazer parcerias com a Petrobras, caso sejam encontrados reservatórios de petróleo na margem equatorial.

“Todas as empresas estão de olho no Brasil, porém, elas perderam a esperança com a questão da licença. Então, [se a Petrobras conseguir] todo mundo volta a ter interesse”, especificou.

No entanto, afirmou ela, a Petrobras tem know-how (conhecimento) suficiente para realizar campanhas exploratórias sem parcerias.

Transição energética

A diretora entende que não há contradição entre a orientação da política ambiental do país de reduzir a emissão de gases do efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento global, e o interesse na exploração do petróleo. Ela explicou que a Petrobras usa tecnologias que fazem com que o petróleo da companhia seja produzido com menos emissão de dióxido de carbono (CO₂).

Além disso, observou que o petróleo continuará sendo demandado no mundo pelas próximas décadas, tanto como fonte de energia como matéria-prima para a indústria petroquímica, que produz os mais diversos itens, além de plástico.

“Qual petróleo que estará presente? Aquele que é menos emissor. Nesse sentido, a emissão do pré-sal chega a ser de sete a nove quilos de CO2 por barril. A média no mundo é 17 kg, e alguns campos imensos, mais de 20 kg”, especificou, afirmando que a produção da Petrobras alcançará o chamado net zero (saldo negativo de emissão de carbono) antes de 2050.



Leia Mais: Agência Brasil

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O que saber sobre as eleições legislativas de 23 de fevereiro

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O que saber sobre as eleições legislativas de 23 de fevereiro

Um boletim de votação alemão, com as duas vozes: a primeira (em preto) e a segunda (em azul).

Domingo, 23 de fevereiro, os alemães são chamados às pesquisas para eleger os 630 parlamentares que se sentarão no Bundestag. Aqui está o que você precisa saber sobre essa votação, da qual o nome do próximo chanceler dependerá.

Por que as eleições agora?

Essas eleições chegam Após as eleições locais não favoráveis ​​às partes da antiga coalizão O chanceler Olaf Scholz, que reuniu os social -democratas do SPD, os verdes e os liberais do FDP.

Em novembro de 2024, contra o cenário de tensões sobre o limite econômico de manter e sobre a questão da dívida, o chanceler social -democrata rejeitou seu ministro liberal de finanças, Christian Lindner. Esta decisão causou a ruptura da coalizão que ele dirigiue o levou a convocar um voto de confiança no Bundestag, que ele perdeu em 15 de janeiro de 2025 (por 207 votos favoráveis, 394 abstenções desfavoráveis ​​e 116). No processo, o presidente Frank-Walter Steinmeier dissolveu o Parlamento e convocou as eleições para 23 de fevereiro, seis meses antes da data programada de 28 de setembro.

Como funciona a eleição?

O sistema eleitoral alemão é resolutamente proporcional. E a reforma do sistema eleitoral Adotado em 2023, fortaleceu ainda mais essa filosofia.

O
“Segunda voz”
permite que você escolha um
Festas que surgem
Em cada um dos 16 länder,
votando em uma lista por
Festa.

Existem 299 distritos eleitorais
no total.

O
“Primeira voz”
permite que você escolha um
candidatos presentes
em seu círculo eleitoral.

Vote local

Voto regional

Os eleitores votam duas vezes no mesmo boletim: um
tempos em seu círculo eleitoral e uma vez em suas terras.

Etapa 1

Um sistema com “duas vozes”

630 assentos

Parte F.

Peças e

Partido d

Parte c

Parte B.

Peças para

5 %
10 %
15 %
20 %

Partido E não atingiu o
5 % bar ou ganho em
Menos três distritos eleitorais:
Não obtém nenhum assento.

Esta é a pontuação nacional realizada com a “segunda voz”
que determina o número de assentos alocados a cada
Festa.
No entanto, apenas partes
quem obteve
pelo menos
5 %
em todo o país ou
ganho
Au
menos três distritos eleitorais
ções
com o “primeiro
Voz »Participe disso
Proporção de distribuição-
Nelle. Os outros dentro
são excluídos.

Etapa 2

Distribuição proporcional dos assentos

Peças para

Assentos atribuídos
Au Bundestag

=

Parte B.

Parte c

– 1
+ 1

Partido d

Primeiras vozes

Segundo votos

– 2

Resta ver como distribuir os assentos obtidos por
cada parte entre seus candidatos no círculo eleitoral e
nas listas por terra.
Eles são os candidatos que chegaram à cabeça em suas circunstâncias
Critius com a melhor pontuação que é “prioridade”.
Então desenhamos, se necessário, nos nomes da lista
regional em ordem, por terra.
Ao fazer isso, é, portanto, é possível que os candidatos tenham chegado
em mente em seu eleitorado não são eleitos para
Causa da má pontuação nacional de seu partido.
Exemplo em a
Terra em que
O partido de não
obtido o suficiente
“Segunda vozes”
Para participar do
distribuição de
Assentos: ele não mantém
Nem mesmo ela
constituintes.

Etapa 3

A escolha dos deputados

Esse sistema de votação pode parecer estranho do ponto de vista francês, uma vez que a eleição de um candidato não depende inteiramente de sua pontuação local. “Devemos começar com o princípio que esse sistema pensa antes de tudo político, e não personalidade”RÉSITUIT AURORE GAILLET, Professor de Direito da Universidade de Toulouse Capitole.

O que as pesquisas dizem?

A direita, representada pela democracia cristã (a CDU e seu parceiro da Baviera, a CSU), é em grande parte, com cerca de 30 % das intenções de votação, de acordo com as pesquisas médias. A formação distante da AFD encantou o segundo lugar no SPD desde o verão de 2024, falhou em terceiro lugar. Os verdes, que confiaram brevemente na segunda posição nas pesquisas no verão de 2022, agora são apresentadas na quarta posição por estudos de opinião.

Este gráfico apresenta as pesquisas publicadas na Alemanha sobre as intenções de votação nas eleições legislativas de 23 de fevereiro de 2025, em resposta à pergunta “Se a eleição ocorreu neste domingo, em qual partido você votará?” »».


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Como as coalizões são formadas?

Devido ao sistema de votação alemão, é extremamente raro um partido obter a maioria por si só. Isso só aconteceu uma vez, para os democratas cristãos da CDU/CSU, em 1957. A vida política alemã foi, portanto, pontuada pela formação de coalizões entre os partidos que se reúnem para governar depois de terem enfrentado as urnas.

Seus programas geralmente são difíceis de compatíveis, às vezes leva vários meses para estabelecer um acordo do governo. O mais recente foi concluído em novembro de 2021 entre o SPD, os verdes e o FDP em torno do social -democrata Olaf Scholz após dois meses de negociações e tinha 177 páginas. A grande coalizão liderada por Angela Merkel de 2013 exigiu dois meses de negociações para negociar as 170 páginas do contrato de coalizão entre cristãos e democratas e social -democratas.

Em 2025, vários cenários de coalizão parecem possíveis em relação às pesquisas atuais. Isolado até depois Por um “cordão de saúde” (que recentemente diminuiu), a AFD parece a priori excluída de um futuro governo. Em vista de seu nível nas pesquisas, os curadores da CUS/CSU devem estar à frente da futura coalizão. Em uma equipe com os social -democratas ou os liberais, entre 2005 e 2021, ou em aliança com os verdes e os liberais (o que os alemães chamam de coalizão “Jamaica” por causa das cores desses partidos).



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Elon Musk diz que os trabalhadores federais devem explicar empregos ou renunciar – DW – 23/02/2025

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Elon Musk diz que os trabalhadores federais devem explicar empregos ou renunciar - DW - 23/02/2025

Tesla bilionário Elon Musk escreveu em sua plataforma X No sábado, todos os trabalhadores do governo federal dos EUA terão que explicar o que fizeram na última semana ou renunciar.

Musk emite alerta para funcionários federais

“Consistente com as instruções do Presidente @RealDonaldTrump que todos os funcionários federais receberão em breve um e -mail solicitando o que foram feitos na semana passada”, disse Musk em um X Post. “A falha em responder será tomada como renúncia”.

A Reuters News Agency informou que trabalhadores de agências governamentais, como a Comissão de Valores Mobiliários e Centros de Controle e Prevenção de Doenças, já começaram a receber o email.

A agência de notícias da Associated Press acrescentou que juízes, funcionários do tribunal e funcionários da prisão também receberam o email.

A linha de assunto do e -mail “O que você fez na semana passada?” pede aos funcionários que atropem suas realizações nos últimos sete dias em aproximadamente cinco pontos de bala. O prazo para enviar uma resposta é 23h59 na segunda -feira na segunda -feira.

O email não diz explicitamente que aqueles que não responderiam perderiam seus empregos.

O governo federal tem cerca de 2,3 milhões de trabalhadores. Almíscar foi encarregado de Presidente dos EUA Donald Trump Com o corte drasticamente da burocracia federal, em um esforço conhecido como Departamento de Eficiência do Governo.

Musk nega ‘aquisição hostil’ do governo dos EUA

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Quais departamentos foram alvo de Doge e qual foi a reação?

O esforço de redução do governo provocou choque e reverência em Washington DC e em outras partes do país.

Departamentos do Departamento de Defesa dos EUA para o Internal Revenue Service estão sendo direcionados para demissões de massa, com algumas agências como USAID e o Departamento de Proteção Financeira do Consumidor quase desmontada inteiramente pelo governo Trump.

Ucrânia atingida pelo congelamento de financiamento da USAID de Trump

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Republicanos Geralmente apoiou Doge como um esforço necessário para economizar dinheiro dos contribuintes e se livrar dos resíduos. Democratas criticaram o esforço por ser aleatório e argumentar que Musk, o homem mais rico do mundo, tem conflitos de interesse porque está supervisionando cortes em departamentos que regulam suas empresas.

O anúncio por e -mail em massa de Musk ocorre depois que Trump escreveu em um post de mídia social que ele gostaria de ver Musk “ficar mais agressivo” no redução do governo.

Federal Union diz que vai lutar contra a última jogada de Musk

Um sindicato que representa trabalhadores federais, a Federação Americana de Funcionários do Governo (AFGE), prometeu desafiar a estratégia de justificativa por e -mail de Musk.

“A AFGE desafiará quaisquer terminações ilegais de nossos membros e funcionários federais em todo o país”, publicou o Afge no X.

“É cruel e desrespeitoso que os funcionários federais sejam forçados a justificar suas tarefas para esse bilionário fora de toque, privilegiado e não eleito que nunca realizou uma única hora de serviço público honesto em sua vida”, acrescentou o sindicato, referindo-se, referindo para almíscar.

Editado por: Rana Taha



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‘O Brutalista’ é filme memorável a favor dos deslocados – 22/02/2025 – Ilustríssima

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'O Brutalista' é filme memorável a favor dos deslocados - 22/02/2025 - Ilustríssima

Martim Vasques da Cunha

[RESUMO] Em seu terceiro filme, o cineasta Brady Corbet retoma e aprofunda a grande questão que norteia sua obra: como se manter minimamente íntegro em um mundo implacável? Épico que subverte o gênero, “O Brutalista”, história de um arquiteto sobrevivente do Holocausto que emigra para os EUA, testemunha a tragédia dos deslocados quando já não se pode mais encontrar um lar, restando apenas a esperança de glória na arte.

A chave para entender este filme enigmático chamado “O Brutalista”, dirigido por Brady Corbet, está na dedicatória que aparece logo no início dos créditos finais: “Em memória de Scott Walker”.

Para quem não sabe, Scott Walker foi um cantor e compositor americano, nascido em 1943. Dono de uma voz fascinante, que influenciou de David Bowie a Beck, passando por cantoras como a recém-falecida Marianne Faithfull e a alemã Ute Lemper, ele começou a carreira como um discípulo fiel de Jacques Brel. Junto com a banda The Walker Brothers (em parceria com Gary e John Walker, um parentesco fabricado pela gravadora), entrou na parada de sucessos com uma série de hits românticos.

Nos anos seguintes, contudo, Scott Walker mudou de ideia sobre o rumo da sua arte. Queria deixar de lado as melodias doces e suaves e se aproximou lentamente de uma realidade mais cruel e áspera.

Em seus quatro primeiros álbuns solos (todos batizados apenas com seu nome), ele ousou com orquestrações inusitadas e complexas, temáticas tabus para qualquer época (homossexualismo, prostituição e a defesa do stalinismo) e aproximações metafísicas, ao lidar com a morte e o sofrimento como assuntos essenciais da sua música.

Esses discos foram sucessos de crítica, mas fracassos de vendas. Assim, para pagar as contas, ele voltou com o The Walker Brothers. Um dos hits dessa época, “Nite Flights”, depois ganharia uma versão memorável por David Bowie nos anos 1990. Por coincidência, foi também quando Scott Walker decidiu que iria dobrar a aposta, ao esquecer qualquer tipo de melodia e abraçar para sempre o ruído.

Daí surgem álbuns memoráveis e extremamente experimentais, como “Climate of Hunter” (1984), “Tilt” (1995), “The Drift” (2006) e “Bish Bosch” (2012), em que o cantor abandona a persona Jacques Brel e passa a ser completamente possuído pelo espírito de um Bernard Herrmann da vanguarda, subvertendo tudo o que pensávamos ser música contemporânea, ao traduzir nossos piores pesadelos em acordes opressivos e com temas ainda mais inusitados (entre eles, o paralelo bizarro entre o nascimento de Elvis Presley e o ataque contra as Torres Gêmeas).

Nessa fase Scott Walker se tornou um recluso, um deslocado no próprio meio musical. Não dava entrevista a ninguém. Impedia a divulgação de fotos. A mídia mal sabia quem era ele de fato. Poucos o conheciam pessoalmente. Antes de morrer, em 2019, Walker terminou sua discografia impecável com as trilhas sonoras dos dois primeiros filmes de um raro amigo que então o acompanhava: o ator, agora cineasta, Brady Corbet.

Corbet fez fama no cinema independente, ao ser um dos protagonistas em longas de Michael Haneke (a refilmagem americana de “Violência Gratuita”, em 2007) e Gregg Araki (“Mistérios da Carne”, em 2004).

Todavia, seu modelo de vida sempre foi Scott Walker. Quando terminou seu primeiro longa-metragem como diretor, “A Infância De Um Líder” (2015), queria que ele compusesse a música para a obra. Por incrível que pareça, Walker aceitou o convite —e criou uma pequena joia da melodia dissonante.

Faria o mesmo para o segundo longa de Corbet, o inescrutável “Vox Lux” (2019), em que Natalie Portman interpreta uma superstar da música pop com uma trajetória semelhante à do cantor americano.

O filme de estreia foi um sucesso de crítica, colocando o jovem diretor como uma promessa a ser conferida, mas o seu sucessor foi um fiasco. Quem o viu achou pretensioso demais. E, assim, a trajetória de Brady Corbet estava por um fio.

Neste meio tempo, com a morte de Scott Walker, Corbet (e sua esposa, Mona Fastvold) decidiu fazer a mesma coisa que o mestre: dobrou a aposta. Na verdade, triplicou.

Criou o roteiro de uma biografia ficcional, a ser filmada de maneira épica (por meio do VistaVision, um formato que fez a alegria de John Ford e Alfred Hitchcock nos anos 1950), a respeito de um arquiteto húngaro, sobrevivente do Holocausto, chamado László Tóth (Adrien Brody), que imigra para os EUA e lá conhece um milionário, Harrison Lee Van Buren (Guy Pearce), que o contratará para criar enfim o monumento que marcará a vida de ambos.

Eis a trama de “O Brutalista”, em cartaz no Brasil, indicado a 10 Oscars, incluindo melhor filme, diretor e ator (Brody). Ao que parece, desta vez Corbet saiu da armadilha que tinha entrado com “Vox Lux”. A crítica amou seu terceiro longa; o público o respeitou de forma solene, suportando com estoicismo suas três horas e meia de duração (com direito a 15 minutos de intervalo).

Ainda assim, o espectro de Scott Walker assombra cada fotograma do épico —que, na verdade, conforme o espectador percebe no transcorrer da projeção, se transforma em um “antiépico”.

Se em “A Infância de um Líder” (parábola sobre como surge o fascismo nos nossos tempos) e em “Vox Lux” (outra parábola, agora a respeito de como o artista é alguém acossado por pactos fáusticos) Corbet tenta explicar para si mesmo (e para o público) que o mundo é um lugar implacável para quem tenta se manter minimamente íntegro, em “O Brutalista” ele finalmente chega à solução deste dilema.

Contudo, assim como ocorreu com Scott Walker no passado, ele foi obrigado a encontrar uma forma artística idiossincrática para subverter as expectativas do espectador. O primeiro indício está no título.

Aparentemente, refere-se à escola de arquitetura que fez fama nas décadas de 1940 e 1950, com edifícios gigantescos e impessoais. Mas também pode estar ligado ao tipo de relações humanas que conectam Laszlo e Van Buren (além de outros personagens do filme).

A arquitetura, aqui, é só um pretexto para Corbet desmontar o gênero cinematográfico do épico (daí o seu caráter “anti”) e chegar à essência de qualquer obra de arte memorável: a de ser um testemunho a favor dos deslocados do nosso tempo.

Portanto, “O Brutalista” não é sobre arquitetura, muito menos sobre imigração, como informaram por aí. Seu tema principal é o exílio, seja exterior (por causa das circunstâncias históricas), seja interior (devido às paixões que comandam a nossa alma).

László Tóth é um homem igual a nós, com seus defeitos, suas virtudes e uma incrível capacidade de perseverança —motivo que leva Van Buren a desejá-lo tanto (inclusive no aspecto físico).

Van Buren é o típico empresário capitalista que, incapaz de produzir de fato qualquer coisa bela, tem uma inveja metafísica em relação a László que só pode ser compreendida como pura loucura. Para ele, é absolutamente impossível alguém sobreviver no exílio. A obra do húngaro, contudo, é a prova de que, como disse um certo judeu da Galileia, “nem só de pão vive o homem”.

Neste sentido, é fundamental a presença de Erzsébet, a esposa de László, interpretada com uma coragem rara por Felicity Jones. Ela chega aos EUA na segunda metade do filme, mas descobrimos depois que, sem a sua participação, seu marido jamais alcançaria o destino final da sua jornada.

Junto com a sobrinha Zsófia (temporariamente muda por causa das desgraças sofridas na Segunda Guerra), ambas conseguem articular para a posteridade quais eram as verdadeiras intenções de László ao aceitar o convite de Van Buren na hora de construir um monumento que, diante dos olhos dos outros, era uma homenagem ao nada.

É Erzsébet quem salva espiritualmente László, ao expor a quem quiser ver a verdadeira brutalidade da América onde então viviam. Ali nunca foi a casa de ninguém, é o que concluem.

Não há mais lar neste mundo —esta é a lição de trevas aprendida pelo casal. Existem apenas o silêncio do concreto, o exílio da arte e a astúcia de quem olha sempre para o alto (e paga um preço por isso, literalmente).

Brady Corbet faz, no epílogo do seu “antiépico”, a revelação de que todos os sofrimentos são o prenúncio de uma glória maior. Uma glória praticada em fissuras, é verdade, e que deve ser também observada com ironia.

Não à toa que, nos créditos finais, enquanto o espectador lê a dedicatória à memória de Scott Walker, também escuta com surpresa, numa espécie de blague, o hino por excelência de quem trabalha no ramo da subversão artística: “One for You, One for Me”, da dupla italiana de disco music La Bionda.

O recado deve ser compreendido com um sorriso: para sobreviver, é necessário produzir uma obra para os Van Burens da vida, com todos os riscos, e só depois o artista deve criar algo para sua própria satisfação.

No fim, contudo, é também uma lição agridoce demais para quem aceita a brutalidade do mundo como a piada infinita deste grande palco que é o desterro de todos nós.



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