Michael Viriato
Você já se pegou torcendo para o mesmo time ganhar todas as partidas do campeonato, apenas porque ele já venceu várias seguidas? No começo, é empolgante, mas, com o tempo, surge a dúvida: será que esse domínio todo vai durar para sempre? No mercado de ações, muitos investidores estão passando por esse dilema com o S&P 500, onde um punhado de empresas gigantes está dominando o jogo. E, para deixar as coisas mais interessantes, um dos bancos de maior prestígio do mundo, o Goldman Sachs, acredita que esse domínio pode se transformar em um grande risco para os retornos futuros, conforme divulgado em seu relatório na última sexta-feira, 18 de outubro.
Atualmente, a concentração no S&P 500 está entre as mais altas dos últimos 100 anos, de acordo com o Goldman Sachs. As dez maiores empresas do índice representam 36% de seu valor de mercado total, o que significa que o destino de todo o índice está fortemente ligado ao desempenho de poucas empresas, majoritariamente do setor de tecnologia. O Goldman Sachs projeta que o retorno nominal anualizado do S&P 500 nos próximos dez anos será de apenas 3%, e, descontada a inflação, isso representa cerca de 1%. Esses números estão muito abaixo da média histórica de 11%.
Para se ter uma ideia da diferença, nos últimos dez anos o S&P 500 teve um retorno anualizado de 13%, impulsionado pelo aumento dos lucros, expansão de múltiplos e uma era de juros historicamente baixos. Contudo, o cenário atual é outro: os juros dos títulos do Tesouro dos EUA estão em 4%, e o ambiente é menos favorável para as grandes empresas manterem margens de lucro e crescimento elevados, segundo o relatório do Goldman Sachs.
O maior problema com a concentração é que ela adiciona um nível extra de risco ao mercado. O Goldman Sachs destaca que é extremamente difícil para qualquer empresa, por maior que seja, sustentar níveis elevados de crescimento e lucratividade por um longo período. Quando as gigantes do índice começam a desacelerar, todo o S&P 500 sofre. Se a concentração de mercado fosse menor, o retorno projetado seria de 7% ao ano, um cenário muito mais atrativo.
Além disso, o Goldman Sachs sugere que o índice ponderado de forma igualitária, onde todas as empresas têm o mesmo peso, poderia superar o S&P 500 tradicional, que é ponderado por valor de mercado, com um retorno adicional de até 8% ao ano. Isso ocorre porque o índice igualitário depende menos de um pequeno grupo de empresas e oferece maior diversificação, suavizando o risco.
Outro ponto importante levantado pelo Goldman Sachs é a forte competição que as ações do S&P 500 enfrentarão dos títulos públicos nos próximos anos. Com os juros dos títulos do Tesouro dos EUA a 4%, há uma probabilidade de 72% de que o S&P 500 tenha um desempenho inferior aos títulos ao longo da próxima década. Isso é algo que os investidores precisam considerar, especialmente aqueles que buscam retornos mais previsíveis e menos expostos às oscilações do mercado de ações.
Além disso, o Goldman Sachs aponta uma chance de 33% de que o S&P 500 perca para a inflação durante esse período, um número significativamente maior do que os 13% registrados historicamente. Com os preços subindo, muitos investidores podem ver seus retornos reais corroídos se continuarem apostando cegamente no índice, sem uma estratégia bem pensada.
Diante desse cenário, o que os investidores devem fazer? O Goldman Sachs sugere que é hora de reavaliar as expectativas. A era de crescimento meteórico das gigantes da tecnologia pode estar chegando ao fim, e depender delas para sustentar retornos elevados pode ser uma aposta arriscada. Diversificar mais o portfólio, buscando oportunidades fora das ações mais populares, pode ser uma estratégia inteligente. Incluir empresas de setores menos visados, buscar mercados internacionais ou até considerar ativos mais estáveis, como os títulos públicos, são formas práticas de reduzir o risco.
E para aqueles que buscam segurança, os títulos públicos americanos podem oferecer retornos mais previsíveis, sem os altos e baixos do mercado de ações. Com uma taxa de 4% ao ano, eles competem diretamente com as ações, oferecendo uma alternativa mais tranquila para quem prefere evitar grandes oscilações no portfólio.
Em suma, para o Goldman Sachs, o dilema é claro: continuar apostando no S&P 500 altamente concentrado ou buscar alternativas mais equilibradas? Embora as estrelas do índice ainda brilhem, confiar apenas nelas pode não garantir o sucesso na próxima década.
PS. Não estou tão pessimista quanto o Goldman Sachs. Pelo menos nos próximos 12 meses, a expectativa de crescimento de lucros das empresas é superior a 10%, e a taxa básica de juros deve cair mais de 1,5%, atingindo 3,5% ao ano, o que deve continuar favorecendo o mercado de ações.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
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