NOSSAS REDES

História

TARAUACÁ: APONTAMENTOS HISTÓRICOS

PUBLICADO

em

José Marques de Albuquerque

Em princípios de maio de 1887, fui passageiro com outros companheiros de jornada do vapor nacional “Augusto Pará”, sob o comando do capitão José Rodrigues de Oliveira, português, residente hoje no Alto Purus, cujo vapor deixou-nos no baixo Tarauacá, no lugar denominado Conceição, nome ainda hoje conservado.

Existia ali uma barraca ordinária ocupada por caboclos amazonenses de ordem de João da Matta Martins, já falecido em Parintins que era o posseiro do lugar adquirido por compra ao primeiro explorador Pedro de Sousa Leão, cearense, sócio de Sousa Leão & Cª., de Manaus.



De Conceição até vila Martins não existia outra habitação.

Vila Martins era o barracão do proprietário já referido que tinha como gerente um moço de nome Gabriel Pedro Ribeiro Guimarães, que vivia com uma mulata, casada com Raymundo de tal. Gabriel tratava os doentes com homeopatia e era muito feliz na aplicação desse remédio que o tornou estimado e muito conhecido neste rio e no Embira, onde morreu, casado com a mesma mulata que enviuvara, deixando regular prole.

D’ali transportei-me, em canoa, até o seringal Sobral de Antonio Patriolino de Albuquerque que havia mudado o nome de Restauração, do dito lugar para o de Sobral que era o do berço daquele digno cidadão, no Ceará, depois vantajosamente conhecido em todo norte.

Havia acima de vila Martins uma barraca pertencente a João Martins de Sousa, cearense, homem branco e bem educado que, mais tarde, vendeu a dita barraca a Francisco Fernandes de Araujo Junior e retirou-se para Fonte-Boa, no rio Solimões, onde inda vive na ilha do Tarará. Francisco Fernandes, cearense, já era dono do lugar denominado Baturité, onde viveu muitos anos, casando-se ali com uma enteada de um seu freguês, havendo desse consórcio uma só filha de nome Luiza, tendo em 1899, o mesmo Fernandes, divorciado-se de sua esposa, por infidelidade desta.

Francisco Fernandes foi um bom e digno homem que finou-se em seu lugar Baturité, carregado de anos e também de desgostos, até a vista lhe faltara.

Acima de Baturité, a margem direita do rio, estava situado o seringal Monte Flor, de Francisco de Sousa Javi, cearense de Baturité casado, tendo trazido para ali sua família, inclusive a velha mãe, viúva. Javi era um cidadão de princípios e de educação como todos de sua família, tendo misteriosamente desaparecido numa pescaria, para sempre.

Toda sua família regressou ao Ceará, enlutada. O negociante português Antonio Fernandes Costeira, depois sócio de Mello & Cª. dispensou toda proteção a essa família que muito apreciava.

Dizem que Javi foi traiçoeiramente morto por Agostinho Alves Teixeira, falecido há anos no rio Acre, sem família.

Entre Monte Flor e Sobral habitava Flavio Florentino do Amaral, no lugar Boa Esperança, hoje Diamantina de propriedade do mesmo Flavio, velho cearense, casado com uma respeitável e distinta senhora, também cearense que sofreu em 1889, um desequilíbrio mental, por ocasião da chegada ao porto de Diamantina, do vapor “Alfredo” de propriedade e comando de Leão Levy, judeu paraense.

Três praias acima de Diamantina, que então era de Mello & Cia, morava José Eufrosino, casado, cearense de Baturité ou Meruoca, gente de baixa classe sendo depois ocupado Diamantina em 1888 pelo hebraico Abraham Cohen que veio acompanhado de sua família, gente bem educada.

Abraham Cohen, era arrendatário de Diamantina.

Dez voltas acima de Diamantina está situado o barracão de Sobral, onde aportei a 22 de maio do dito ano de 1887.

O proprietário do lugar, como já ficou dito, era o coronel Antonio Patriolino de Albuquerque, homem distinto e cavalheiro de fino trato, sendo viúvo naquele tempo, e tendo uma companheira, mulher solteira, porém de boas qualidades, com quem houve o mesmo Patriolino, duas filhas.

Ali fiquei algum tempo, voltando ao Ceará em 1889, como empregado e agenciador de pessoal para o trabalho de extração da borracha, do já referido Patriolino.

Baixei no vapor “Mundurucus” do comando de Antonio Peters Gomes, português, sendo imediato um sr. Damasceno e escrivão Vicente Barjona de Miranda, paraense, depois comandante e conhecido pela alcunha de “Dormes que eu velo”.

O dito vapor tinha chegado até a Foz do Envira, ponto em que terminava a navegação a vapor.

Voltei ao Tarauacá no ano de 1890.

Acima de Sobral 16 praias, morava Raymundo Martiniano Fernandes, cearense, de Cascavel, homem de bem, vivendo com uma respeitável senhora depois sua atual e virtuosa esposa. Era proprietário, como ainda hoje, do seringal Bom Futuro. Três voltas acima de Bom Futuro, está Bom Intento, de João Rodrigues Nepomuceno, cearense, casado, mulato, com muitos filhos que se empregavam na extração da borracha.

Vizinho de Bom Intento está o lugar Pacatuba então de propriedade de José Bento Barreto, que havia comprado dito lugar a Severiano Ramos. José Bento, era casado, não tinha filhos legítimos, criava, porém, umas moças cearenses, como eram José Bento e senhora. Desse cidadão ouvi dizer sempre bem, apesar de sua grande ignorância.

Nos limites de Pacatuba residia, no lugar São José, hoje Aracaty, José Adolpho Martins, cearense, do Aracaty, solteiro, amasiado com uma cabocla amazonense com quem houve duas filhas que perfilhou. José Adolpho, homem branco, de certa educação, era descendente de importante família do Ceará.

Deu nome de Aracaty ao lugar S. José, e ali faleceu em 1911, deixando poucos bens. Antonio Tavares Coutinho era o proprietário da Foz do Envira, Coutinho, que ainda vive em Portugal, é português e então solteiro e vivia em concubinato com Etelvina de tal, cabocla amazonense com que não teve filhos.

Tavares Coutinho, gozou sempre de bom nome como homem sério trabalhador e fino comerciante, sendo hoje chefe das casas Coutinho & Companhia de Belém, de Antonio Tavares Coutinho, da Foz do Envira, de Coutinho Annibal & Ca., do Jurupari e de outras, neste município e no Estado do Amazonas.

Subindo o Tarauacá. Dez voltas rio acima, residia Joaquim Rola, português no lugar, Boa Esperança, passando depois essa propriedade a A. T. Coutinho. Existia também naquelas imediações uma firma Santos & Ca., composta de portugueses que pouco se demoraram ali, regressando ao Juruá donde tinham vindo.

Também residia perto de Boa Esperança o sr. Faustino, amazonense, com filhas moças que se retirou em 1890, vendendo sua exploração a José Adolpho Martins que deu o nome de Varsinha, adquirindo depois ainda a Foz do Aty, seringal importante por sua extensão e produção. O capitão Claudio era o dono de Cachoeirinha acima de Aty.

Claudio, era homem traquejado e barulhento, tanto assim que era acusado de haver assassinado um seu vizinho, por questões de extremas de seringais. O capitão Cláudio nascera no Amazonas, tinha diversos filhos homens e era um maníaco por festas e danças.

  1. Barbara era lugar sem gente. Em S. Sebastião morava Manoel Pereira Cidade, pertencendo S. Sebastião ao seringal S. Catharina de propriedade do capitão Felipe Honorato da Silva Miranda, proprietário também do Bacaba, no Juruá.

Miranda era um cidadão paraense de esmerada educação e ótimos costumes.

Pertencia à firma comercial de Miranda & Cia. do Pará, sendo os seus empregados e gerentes moços habilitados, como fossem Francisco de Tal e João Antonio de F. Vasconcellos, aquele maranhense e este, mulato cearense.

Mais tarde o capitão Miranda, deu sociedade a Vasconcellos e entregou-lhe a casa em 1899.

Dezenove voltas acima de S. Catharina está Macucaua, então propriedade de Severiano de Freitas Ramos, cearense, viúvo, vivendo em comum com a senhora d. Antonia Feitosa também cearense, com quem se casou eclesiasticamente, entre 1898 e 1899.

Vinte e duas praias acima está o Araty que pertencia a Antonio Ferreira Lima, (vulgo Rogerio) que explorava o dito seringal com os seus cunhados Delfino e João Farias, a quem mais tarde vendei o dito lugar e retirou-se para Manaus, voltando depois, já casado em segunda núpcias, para o lugar de seus cunhados.

O coronel Patriolino possuía a exploração denominada Ibiapaba que vendeu a seu primo Jesuino Coelho de Albuquerque, a quem deu pessoal e aviamento.

Jesuino nada fez e arrependendo-se do negócio voltou para o Juruá, entregando Ibiapaba ao coronel Patriolino que a vendeu novamente a P. Sousa e P. Marques. Jesuino retirou-se em 1891, ficando perto do rio Gregório. O seringal S. Francisco foi vendido a Severiano Ramos, ignoro o nome do vendedor. Vizinho a S. Francisco havia o seringal denominado Bom Fim, de Ernesto Nunes Serra, cearense, de Jaguaribe-Mirim. Nunes Serra era acompanhado por seu cunhado Antonio Lima.

Em 1890, tendo se dado um morticínio de índios em Araty, pelos fregueses João Cavalcante e José Barroso na própria barraca destes fazendo correria de acordo com os srs. Delfino S. Ramos e Nunes Serra; Raymundo Pereira assassino por índole matou uma índia velha, única que pode alcançar na ocasião.

Ernesto N. Serra, desgostoso com esse acontecimento, abandonou o seringal e mudou-se para o Juruá, onde comprou outro lugar.

Acima de Bomfim moravam os irmãos Baptista que já haviam vendido o lugar a Ernesto e com ele também se retiraram.

Os irmãos Baptista moravam 4 praias abaixo da foz do Muru, cujo lugar, meu freguês Arcenio Francisco da Silva, deu o nome de Sulué.

A foz do Muru, onde se acha hoje a cidade Seabra, foi explorada por um sr. Zacharias, que logo vendeu dita exploração a Severiano Ramos.

Esta exploração constava de 5 praias no Tarauacá e 10 no Muru, isso só nas margens esquerdas.

Para cima pertencia a Novo Destino que era de Joaquim Freitas e de um sr. Amaral, sendo aquele cearense e este português.

É mister saber-se que existia estas extremas mas sem cultivo, só havendo gente 4 praias abaixo da foz do Muru e assim esteve em abandono até 1892.

Tornou-se habitada quando eu tomei posse por compra do antigo Bomfim, hoje S. Salvador.

Ali encontrei apenas vestígios de um barracão que tinha sido queimado.

É preciso notar que estas explorações eram quase imaginárias e vendiam-se ao preço de duzentos mil réis.

RIO EMBIRA

Antonio Tavares Coutinho chegou ao Tarauacá, já conhecia outros rios do Amazonas e trazia alguns recursos e o seu bom nome de homem trabalhador, correto e financeiro.

A sua primeira moradia foi acima da Foz, poucas voltas no rio Embira, em uma barraca comum donde retirou-se pela perseguição dos índios, estabelecendo-se definitivamente na Foz do Embira. Pouco acima da barraca onde morava Coutinho, havia outra propriedade de um cidadão português afamiliado que mais tarde vendeu dita propriedade ao mesmo Coutinho e retirou-se.

Vizinho a essa propriedade que ignoro o nome, estava colocado com barracão Henrique Ferdinant Luniere, francês, casado com uma senhora amazonense, já tendo grande prole, sendo esse barracão à margem esquerda.

Pouco acima de Luniere, está o seringal Novo Mundo de Francisco Rodrigues Nepomuceno, cujo seringal limitava-se com a Foz do Jurupari, de propriedade também de Antonio Tavares Coutinho que tinha ali um sócio, subdito português.

Acima da foz do Jurupari poucas voltas, estava encravado o barracão de um aparentado dos Nepomucenos que tinha família.

Manoel Gomes era vizinho há um ano antes tinha sido atacado pelos índios que mataram duas ou três pessoas, deixando em cima de um balseiro no rio, uma criança do sexo feminino, com um grande golpe atribuindo que os índios iam conduzindo a dita criança para cupichaua, mas como a menina chorasse muito, golpearam-na e deixaram-na sobre o balseiro que descia à tona dágua, cuja criança foi salva.

Essa propriedade de Manoel Gomes era limítrofe com o lugar Boa Esperança de Benedito Rodrigues do Nascimento e de quem era Gomes aparentado, sendo ambos paraibanos, também parentes de João e Francisco Rodrigues Nepomuceno.

Acima de Boa Esperança morava sozinho um sr. de nacionalidade Suíça, homem esquisito e original.

Possuía uma cachorrinha que era sua inseparável companheira. Abria estradas de seringueiras e fazia plantações de cereais, cuja colheita guardava em frasqueiras. A casa desse suíço era uma espécie de paiol, ali esteve em 1889, quando o referido suíço fazia uma canoa com enormes pranchões tirados à machado.

D’aí para cima moravam uns três seringueiros e um caboclo cearense aviado de José Adolpho Martins.

Para o alto não existiam moradores, continuavam as terras de exclusivo domínio dos índios que realmente eram os legítimos e naturais possuidores.

Em 1888 Manoel Pereira Cidade e Wolfango de tal, saíram de S. Sebastião e entraram no rio Muru, voltando com poucos dias de viagem os mesmos exploradores trazendo muita carne de caça.

Cidade e Wolfango, ao chegarem a Foz do Muru, declararam que haviam explorado 40 voltas do rio, apossando-se de 30 voltas e deixando 10 para fundos do possuidor da Foz que então Joaquim Gonçalves de Freitas, cearense, que nesse tempo morava numa pequena barraca acima da Foz do Acuraua, lugar denominado Cujubim. Depois o mesmo Freitas acompanhado de Cipriano, caboclo amazonense, Baraúna e Antônio Lino, subiram o Muru, dizendo terem respeitado as 30 praias de Cidade e Wolfango e explorado onze praias para cada um.

Em 1889 subiram de novo ao Muru, Freitas, Antonio Lino e os Baptistas. De volta declararam esses exploradores que haviam demarcado um certo número de praias.

Nesse mesmo ano subiram também o Muru, Raymundo Pereira e José Barroso que voltaram dizendo o mesmo que os outros haviam dito.

Em 1890, só haviam habitantes até o Sulué. Joaquim Freitas estava colocando-se a oito voltas acima da Foz do Muru.

No dia 1º. de setembro do mesmo ano, chegaram ao meu barracão os fregueses: Sabino F. do Rego, Arcenio Ferreira da Silva e Jorge da Costa Filho e os moradores de Sulué – Manoel F. de Maria e José Manoel do Nascimento, trazendo em estado agonizante Joaquim Gonçalves de Freitas e uma mulher com um grande ferimento no ventre.

Agasalhados os doentes e feitos os curativos possíveis na ocasião, informaram-me que os índios haviam atacado Freitas e uma mulher à pancadas quando este não esperava, na ocasião do jantar. Contou-me Freitas que recebendo a primeira pancada, traiçoeiramente, ficou atordoado, mas ainda pode pegar no rifle e lutar heroicamente com os índios até que pode disparar o mesmo rifle que eles procuravam tomar.

Amedrontados com o tiro disparado, fugiram os selvagens, dando ainda Freitas outros tiros a esmo. Freitas embarcou gravemente ferido com a mulher do companheiro e uns meninos, filhos do dito companheiro que se achava do outro lado do rio também ferido. Freitas aportando a canoa onde estava seu companheiro de fato ferido, embarcou-o e desceram rio abaixo, chegando a noite, quase alagados, em Sulué, barraca de Sabino, Arcenio e Jorge, onde a mulher vestiu roupas de um deles por falta de outras roupas próprias. Perguntei a Freitas pela outra mulher, respondeu-me que vira cair de cima do assoalho e julgava-a morta, na ocasião da luta.

Disse-me ainda o mesmo Freitas que a mulher de seu companheiro havia lutado como verdadeira heroína.

Nesse mesmo dia reuni meus fregueses e mandei imediatamente ao lugar onde Freitas fora atacado pelos índios.

Ali chegados na noite de 2 para 3 de setembro, encontraram a mulher morta ao pé da escada, a barraca incendiada e tudo que ali havia fora devorado pelo fogo.

O cadáver da infeliz mulher achava-se em estado de adiantada putrefação e não havendo um só instrumento com que pudessem cavar uma sepultura, cobriram o dito cadáver com terra e retiraram-se apavorados do que viram e presenciaram.

Essa sepultura verifiquei um ano depois.

Em 5 de setembro desse mesmo ano em que se deu a tragédia, faleceu Freitas, em meu barracão. O companheiro de Freitas e a mulher voltaram para a casa de Severiano Ramos, donde tinham vindo, sob a responsabilidade de Freitas, da importância de 700$ que ele devia a Severiano.

Outras perseguições fizeram os índios no mesmo ano em todo rio, sendo que em S. Catharina mataram dois homens que depois foram encontrados os seus ossos em uma praia por um pescador. Fizeram-se muitas correrias sem, com tudo, ter havido mortandade de índios.

Em 1892 o rio Tarauacá achava-se explorado até o lugar que hoje se chama Novo Destino.

A foz do Muru era de Zacharias de tal, com 5 voltas de rio acima que se limitavam com as 10 voltas de Joaquim de Freitas e 10 de um cidadão português.

Depois do falecimento de Joaquim Gonçalves de Freitas, vítima da ferocidade dos selvícolas, Severiano Ramos, arvorando-se em dono da exploração de Freitas, mandou o facínora Raymundo Pereira com Joaquim Silva, fazerem as extremas do seringal Novo Destino.

Em 1893, Joaquim Silva, Manoel Paixão e outros, subiram o rio Tarauacá.

Em 1894 subiu também José Dutra Belem, que comprou as explorações de Alexandre Teixeira e vendeu-as depois a F. Ferreira de Sousa.

No mesmo ano Ignacio Pereira Lima foi comprado das explorações de Manoel Paixão, que tomou outro rumo.

O Jurupari foi explorado por Simplicio, aviado de José Adolpho Martins e um dos homens mais fortes e resistentes aventureiros que passaram por essas plagas, donde saiu paralítico e paupérrimo.

Foi o primeiro cearense que trouxe do Ceará a família para essas paragens. 

Simplicio foi um dos heróis desconhecidos que deixaram os ossos pelos barrancos destes rios.

Referências

A REFORMA, Tarauacá-AC, 29 de outubro de 1922, Ano V, N.223 p.2

A REFORMA, Tarauacá-AC, 5 de novembro de 1922, Ano V, N.224 p.2

A REFORMA, Tarauacá-AC, 12 de novembro de 1922, Ano V, N.225 p.2

A REFORMA, Tarauacá-AC, 19 de novembro de 1922, Ano V, N.226 p.2

A REFORMA, Tarauacá-AC, 26 de novembro de 1922, Ano V, N.227 p.2-3

A REFORMA, Tarauacá-AC, 3 de dezembro de 1922, Ano V, N.228 p.2

________________________________

JOSÉ MARQUES DE ALBUQUERQUE foi um dos primeiros exploradores do rio Muru, onde era comerciante e proprietário de um dos mais prósperos seringais da região, o seringal Paraíso. Na década de 1930, sem deixar seu seringal, chegou a ser vice-governador do Território, na administração de Hugo Ribeiro Carneiro. Também ocupou, a partir de 1927, a presidência da Associação Comercial do Tarauacá e integrou, por duas vezes, o Conselho Municipal.

Por Alma Acreana

ACRE

Aprovado na OAB-AC, indígena se emociona ao falar da conquista: ‘defender o direito do meu povo’

PUBLICADO

em

Aprovação saiu no último dia 24. Ele passou na ordem antes de finalizar o curso: ‘espero inspirar mais indígenas’.

Oitavo filho de uma família de 11 irmãos, nascido em um dos municípios mais isolados do Acre e um sobrevivente e persistente diante de preconceitos ultrapassados, mas ainda fortes na sociedade, Heliton Kaxinawá ainda está em êxtase com a aprovação na Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Acre (OAB-AC) divulgada no último dia 24.

Aos 23 anos e ainda cursando o 9º período de direito, ele diz que a aprovação é a realização de um sonho e que agora pretende ser inspiração para que outros jovens indígenas ocupem seus espaços.



Mas, até chegar a essa conquista, foi um longo caminho percorrido, começando por ter nascido em um dos municípios mais isolados do Acre, que tem pouco mais de 8,6 mil habitantes.

A Terra Indígena Kaxinawá do Rio Jordão tem 87 mil hectares e uma cerca de 1.470 indígenas, também conhecidos como Huni Kuin que ocupam Jordão e Marechal Thaumaturgo.

“Nasci no município de Jordão, no baixo Rio Tarauacá, em um local conhecido, ainda hoje, como igarapé dos índios, porque, por residirmos lá, os moradores próximos acabaram denominando assim aquele lugar. Morei lá por um tempo e lembro que houve uma reunião de alguns moradores para tentar nos expulsar de lá porque éramos indígenas e não poderíamos morar naquele local. Após isso, fomos morar próximos à cidade Jordão, uma comunidade indígena, e de lá me deslocava para estudar na escola pública e foi lá que cresci e me criei até os 18 anos”, conta.

Movido pelo sonho

Porém, ao se formar no ensino médio, Heliton, pensando em focar mais em seus estudos e com o sonho do curso superior, decidiu morar em Rio Branco – capital acreana.

“O que me moveu para Rio Brano foi o sonho do nível superior e o gosto pelo direito nasceu em mim por uma série de questões. Uma delas foi a injustiça social que sofri, principalmente no ensino fundamental, porque era um período que eu não conseguia me encaixar em nenhum grupo. Nos trabalhos escolares eu era a única criança a não me integrar em um grupo, fazia os trabalhos sozinhos”, relembra.

Isso fez com que o estudante se tornasse, segundo ele, uma pessoa retraída e que tinha vergonha de fazer coisas que parecem simples, como, por exemplo, fazer compras.

“Eu era uma pessoa que tinha vergonha de falar, de ir ao supermercado, era uma pessoa presa em mim mesma. Só fui mudar, quando cheguei em Rio Branco e comecei a ter acesso à internet, livros e comecei a ter conhecimento. Isso tudo tem me libertado a cada dia, porque tenho aprendido a me desenvolver, falar, conversar e tive a oportunidade de cursar direito.”

Heliton faz o curso em uma faculdade particular de Rio Branco através da bolsa do Fies. Além do preconceito que teve que enfrentar, as dificuldades financeiras também pesaram nessa caminhada.

“Lembro que ao sair de casa e comunicar isso aos meus familiares, dizendo que eu iria lutar pelos meus sonhos, meus pais, quase que em lágrimas, falavam que não teriam condições de me ajudar. Me lembro que durante muito tempo, antes de eu conseguir meu primeiro estágio, ia para a faculdade com fome. Às vezes eu conseguia a passagem para ir de ônibus, mas, muitas vezes, voltava andando porque o dinheiro não dava para a volta”, conta emocionado.

Mesmo com tanta dificuldade, ele tinha o foco e determinação de conseguir chegar ao objetivo que o fez sair de casa: se formar. “Fui me dedicando, dando o meu melhor, o máximo de mim para mostrar que indígena também pode, aprende e consegue. E hoje, ao conseguir essa pequena conquista, que pra mim é grande, gigante, enorme, que era quase inimaginável há alguns anos, eu me sinto eufórico, alegre. Assim que saiu o resultado eu desabei, comecei a chorar, é indescritível o sentimento de felicidade e alegria, mas me sinto triste por saber que sou um dos poucos a conseguir”, pontua.

Heliton quando ainda morava em Jordão, no interior do Acre  — Foto: Arquivo pessoal

Heliton quando ainda morava em Jordão, no interior do Acre — Foto: Arquivo pessoal

Inspiração para jovens

Como ainda não terminou o curso, Heliton só deve pegar a carteira da OAB no ano que vem, mas, enquanto isso, ele segue se dedicando e correndo atrás do que sempre sonhou. Para ele, o que vale é o clichê de que a educação salva vidas e muda rumos.

E, ao se tornar advogado, ele não pretende esquecer suas raízes e nem seu povo. Pelo contrário, ele promete trabalhar pela manutenção dos direitos dos povos tradicionais e honrar a memória de seus ancestrais.

“Assim que formar, vou pegar minha carteira e buscar o que vim fazer: ser advogado, exercer a defesa do meu povo, ser um representante do meu povo. O que espero com isso é que cada vez mais os indígenas se sintam inspirados e mais jovens consigam o que eu consegui. Quero que me olhem e vejam que um parente que chegou na capital semianalfabeto, que falava mal, escrevia mal, alcançou o objetivo”, finaliza.

 

Amazônia Que Eu Quero

O projeto Amazônia Que Eu Quero está na sua segunda temporada, que tem como tema “Educar para desenvolver e proteger”. Após a primeira temporada, ‘Caminhos para a democracia”,- o tema escolhido para 2023 remete aos impactos do déficit de educação no Norte do Brasil e tem como objetivo chamar a atenção do poder público através de propostas para incentivar a implementação de projetos e lei que acessibilizem não só a educação, mas a conectividade e o turismo na região.

O projeto tem como premissa a discussão de assuntos fundamentais para a realidade amazônica e que têm sido deixados em segundo plano por décadas, ao mesmo tempo que propõe ampliar a capacidade de análise da população da região norte ao levantar informações da gestão pública e apontar caminhos a partir da discussão entre especialistas e a sociedade civil, despertando o senso crítico e o voto consciente dos Amazônidas.

A partir dos fóruns, câmaras de debates entre especialistas foram criadas com objetivo de criar propostas para a resolução dos problemas apresentados para cada estado da região norte. Ao fim da temporada, 50 propostas foram criadas e compuseram um caderno que será entregue a deputados, senadores e governadores dos estados da região além do presidente da república em Brasília.

Continue lendo

FUTEBOL

De Pelé a Neymar: Os maiores jogadores do futebol brasileiro

PUBLICADO

em

O Brasil não é considerado o “país do futebol” à toa. O esporte é uma verdadeira paixão entre os brasileiros, que muitas vezes começam a consumir e praticar o exercício desde pequenos. Ele está presente na cultura, nas televisões, no dialeto do povo, e, mais recentemente, se tornou o esporte mais presente nas casas de apostas online. O futebol brasileiro ganhou grande notoriedade no mundo pelo estilo de jogo rítmico, fluido e improvisado, caracterizado por movimentos rápidos, fintas e mudanças de direção de grandes jogadores ao longo de décadas.

Lendas pioneiras

Antes de Pelé, outros jogadores chamaram a atenção com seus talentos. Leônidas da Silva, por exemplo, ficou marcado na história como o primeiro jogador a marcar um gol de bicicleta, jogada que então virou a sua assinatura.



Zizinho, eleito o melhor jogador da Copa do Mundo de 1950, ganhou seu apelido de “Mestre” por sua atuação implacável e é um dos maiores artilheiros da Copa América, ao lado do argentino Norberto Mendez, com 17 gols. 

Garrincha fez história no futebol com suas pernas tortas, seus dribles rápidos e desconcertantes. Em 1958 conquistou a Copa do Mundo e se tornou o primeiro jogador a ganhar a Bola de Ouro como melhor ponta direita do mundo, além da Chuteira de Ouro como artilheiro com 14 gols. 

Pelé, o rei

Edson Arantes do Nascimento, universalmente conhecido como Pelé, morreu recentemente, no dia 29 de dezembro de 2022, mas deixou um legado surpreendente no mundo do futebol. Tornou-se um ícone mundial, teve diversos filmes a seu respeito e é até hoje considerado o rei do futebol. 

Em 1956, Pelé foi levado para treinar no Santos, onde atuou por quase duas décadas e ganhou mais de quarenta títulos. 

Aos 17 anos tornou-se o jogador mais novo a vencer uma Copa do Mundo na Suécia. O atleta foi campeão pela competição três vezes e tornou-se um dos maiores artilheiros com 12 gols, além de protagonizar alguns dos lances mais bonitos da história.

Seleção da Copa de 1970

A Copa do Mundo de 1970, sediada no México, foi histórica para o Brasil. A seleção conquistou a Taça Jules Rimet, troféu que seria destinado à primeira seleção que vencesse o torneio três vezes. A taça ficaria para sempre na posse do país vencedor, porém, a mesma foi roubada da sede da CBF em 1983.

O treinador Mário Zagallo teve uma estratégia ousada na época, trazendo para o time cinco camisas 10, ou seja, cinco craques de liderança: Gerson, Rivelino, Tostão, Jairzinho e Pelé. O resultado não poderia ser melhor, trazendo não só o título, mas também uma seleção inesquecível, contando com craques como Carlos Alberto, Brito e Everaldo.

Zico e Sócrates nos anos 80

Zico foi o maior artilheiro do Flamengo com 509 gols em 730 jogos. Conquistou diversos títulos pela equipe e ganhou notoriedade pelas suas cobranças de faltas e arremates precisos, sendo também um grande driblador.

Já Sócrates era excelente em armar jogadas e dar passes de calcanhar. Em 1978 foi jogar no Corinthians, onde se tornou um ídolo.

Sócrates e Zico jogaram lado a lado no Flamengo e conquistaram a vitória do time no Campeonato Carioca em 1986. Também jogaram pela seleção brasileira e se consagraram craques do futebol nacional. 

Ronaldo Fenômeno e Ronaldinho Gaúcho nos anos 90 e 2000

Ronaldo Fenômeno era reconhecido por sua técnica, habilidade com as duas pernas e arrancadas rápidas. Foi eleito melhor jogador do mundo três vezes e passou por times como Barcelona, Internazionale, Real Madrid e Milan. 

Seu xará Ronaldo de Assis Moreira, mais conhecido como Ronaldinho Gaúcho, ficou mundialmente famoso pelos seus dribles mágicos que acabaram por lhe dar o apelido de “bruxo” e encantaram os amantes de futebol. Passou por times como Paris Saint-Germain e Barcelona e conquistou o título de melhor jogador do mundo por dois anos consecutivos.

Os dois conquistaram a Copa do Mundo de 2002 lado a lado, onde Fenômeno foi responsável pelos dois gols que levaram o Brasil à vitória do pentacampeonato.

Neymar

Com muita habilidade, técnica, dribles e golaços, o atual camisa 10 da seleção vem escrevendo seu nome na história do futebol. 

Começou a jogar no Santos aos 17 anos e em 2013 chegou a Europa, iniciando a carreira internacional no Barcelona, onde conquistou dez títulos, entre eles uma Champions League. Atualmente joga no Paris Saint-Germain e já ganhou títulos importantes junto a equipe francesa.

Pela seleção brasileira conquistou diversos campeonatos, incluindo o até então inédito ouro nas Olimpíadas em 2016.

Recentemente Todd Boehly, dono do Chelsea, viajou até Paris para tentar negociar a contratação de Neymar na equipe inglesa

Conclusão

Foram tantos os talentos do futebol nacional ao longo dos anos que é difícil listá-los todos com os detalhes que merecem em apenas um artigo. Além dos craques já mencionados, outros nomes fizeram sucesso no esporte como Romário, Nilton Santos, Didi e muitos outros.

Apesar de não ser o precursor no esporte, o Brasil ficou conhecido como o país do futebol principalmente graças aos seus inigualáveis jogadores. Nomes como esses continuam influenciando novas gerações de jogadores até os dias de hoje e é de se esperar que mais estrelas surjam no caminho.

Continue lendo

História

HISTÓRIA: COMPANHIA REGIONAL DO TARAUACÁ E EUGENIO AUGUSTO TERRAL, SEU 1º COMANDANTE

PUBLICADO

em

As fotografias, abaixo, fazem parte do álbum-dossiê apresentado, em 1917, pelo capitão do Exército Eugenio Augusto Terral, comandante da Companhia Regional do Tarauacá, ao Ministro da Justiça Carlos Maximiliano. Eugenio Terral chegou a Tarauacá no dia 11 de junho de 1916, para fundar a Companhia Regional do Tarauacá, à época, composta por 1 capitão, 1 alferes, 2 sargentos e 60 praças, conforme registrou o jornal Município (18/6/1916). 

Devido discordâncias com o prefeito José Thomaz da Cunha Vasconcelos, no caso Amin Kontar, Terral entregou o cargo no início de 1918. Em 1920, foi nomeado novamente comandante da Companhia, permanecendo no cargo até início de 1921. Ele era filho de um francês de nome Erasmo Jacques Augusto Terral, que havia se estabelecido no estado do Paraná.



Nas imagens, vê-se roçados, pois Terral fez seus soldados também dedicarem-se à agricultura, para a produção de alimentos para usufruto da própria Companhia.

As fotografias foram retiradas do Sistema de Informações do Arquivo Nacional (https://sian.an.gov.br/).

Por Alma Acreana (ISAAC MELO)

Continue lendo

MAIS LIDAS