Laryssa Borges
Sem alarde, a Corregedoria do Tribunal de Contas da União (TCU) abriu um procedimento para apurar se o ministro Augusto Nardes pode ser punido por desvios funcionais por ter enviado, no final do ano de 2022, um áudio suspeito em que insinua que um “movimento muito forte nas casernas” poderia alterar os rumos do país. A informação foi confirmada a VEJA pelo presidente eleito da Corte de Contas Vital do Rêgo.
Com o avanço das investigações da Polícia Federal sobre as articulações do ex-presidente Jair Bolsonaro para tentar dar um golpe de Estado e reverter a vitória eleitoral de Lula, descobriu-se que o áudio, revelado na época pela Folha de S. Paulo, coincide com o momento em que o plano intitulado Punhal Verde e Amarelo já havia sido rascunhado pelo general Mario Fernandes, hoje preso por ordem do ministro Alexandre de Moraes. O plano tinha como meta assassinar Lula, o vice Geraldo Alckmin e o próprio Moraes.
A contemporaneidade do áudio de Nardes, tornado público em 20 de novembro de 2022, com as articulações de setores militares pró-golpe chama a atenção. Dias antes, em 12 de novembro, a Polícia Federal diz que em uma reunião na casa do general Walter Braga Netto, então candidato a vice de Bolsonaro, teria sido aprovado o Punhal Verde e Amarelo, sendo que naquele mesmo dia foi enviado ao então ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, o documento “Copa 22”, com previsões de orçamento e logística para o monitoramento de Alexandre de Moraes. Braga Netto está preso por obstrução de justiça e, entre outras acusações, sob a alegação de ter fornecido dinheiro para o planejamento criminoso em sacolas de vinho.
No áudio, Augusto Nardes relata: “Felizmente acordamos. (…) Está acontecendo um movimento muito forte nas casernas. Eu acho que é questão de horas, dias, no máximo uma semana ou duas, ou talvez menos que isso, que vai acontecer um desenlace bastante forte na nação”. Pelo plano golpista, a ruptura institucional ocorreria em 15 de dezembro de 2022. Na época da mensagem, o ministro alegou, em nota, que “repudia peremptoriamente manifestações de natureza antidemocrática e golpistas e reitera sua defesa da legalidade e das instituições republicanas”.
Augusto Nardes não é citado nas investigações da Polícia Federal, mas, segundo o TCU, caso avancem apurações que o levem para o centro da trama golpista, ele deverá ter o caso analisado pela Corregedoria da Corte de Contas. VEJA questionou Vital do Rêgo sobre o que pode acontecer com o ministro, à luz do que descobriu a Polícia Federal. “Eu não acredito [que Nardes tenha flertado com ideias golpistas]. O episódio é está sob apuração do TCU naquilo que lhe compete. Nosso ministério é dentro da atividade funcional. Dentro da nossa atividade funcional, da nossa competência, (…) é um processo que está na Corregedoria. Eventualmente algum processo que corre na Justiça, se ele for condenado, pode ter repercussão funcional aqui. Se nada acontecer com ele, provavelmente não acontece [nada no TCU também]”.