Autor da maior doação feita à campanha de Pablo Marçal (PRTB) à Prefeitura de São Paulo nestas eleições, o advogado Marcelo Tostes diz não guardar nenhum arrependimento pelos R$ 310 mil que investiu na empreitada.
“Não me arrependo porque eu não tinha expectativa nenhuma de ganhar cargo ou benefício em troca. Meus apoios são por ideologia, por querer mais conservadores na política”, afirma ele, destacando que o valor de R$ 300 mil “não é nada de absurdo”.
Tostes diz ter visto na candidatura de Marçal a possibilidade de uma nova liderança para a direita, “mas com cabeça de empresário”, bem como a chance de “começar a mudar o Brasil pela maior capital da América Latina”.
Na avaliação do advogado, Marçal seria um líder mais bem preparado do que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), descrito por ele como alguém com “cabeça de funcionário público”.
“Tarcísio foi o melhor aluno de sua turma e foi um excelente técnico no Ministério da Infraestrutura, mas não tem uma visão de empresário, do meu ponto de vista. É diferente do Nikolas [Ferreira, deputado federal], por exemplo, que nunca foi empresário, mas tem uma visão muito mais empreendedora”, diz.
“Mesmo não tendo experiência política e sendo um cara mais novo, Marçal é mais preparado que o Bolsonaro, que está na política há 40 anos. Bolsonaro foi um cara extremamente importante por mostrar que não existia uma direita de verdade, que PSDB e PT são praticamente a mesma coisa. Mas continuo entendendo que a gente precisa de um empresário de verdade [na Presidência]”, segue.
Segundo ele, um empresário no Planalto teria habilidade para “não tratar o governo como um caixa sem fundo e sem dono, mas, sim, como uma empresa que precisa dar lucro”.
Apesar da avaliação que faz sobre lideranças no campo da direita, Tostes afirma que não sabe qual será o papel do agora ex-candidato nas eleições presidenciais de 2026. Diz, no entanto, que estará ao seu lado caso o influenciador siga defendendo pautas conservadoras.
“[A eleição de] 2026 é outra história, Marçal ainda não definiu nada. Mas me agrada a ideia de ele ser candidato a presidente. Ele vai ter meu apoio para onde for, desde que não apareça com nada de diferente [do que defende hoje]”, diz o advogado.
Além de Marçal, Tostes apoiou financeiramente quatro candidatos a Câmaras Municipais mineiras: Pablo Almeida (PL), o mais votado para vereador em Belo Horizonte (MG), Michelly Siqueira (Avante), também de BH, Márcio Juninho (Cidadania), de Itabirito, e Vanja (União), de Viçosa.
Os quatro, eleitos no dia 6 de outubro, receberam do advogado doações únicas que variaram de R$ 2.500 a R$ 10 mil.
Tostes afirma que conheceu Marçal quando colocou para alugar uma mansão sua localizada no Jardim Europa, bairro nobre de São Paulo. O valor mensal da moradia pago pelo autodenominado pelo ex-coach, segundo o proprietário, gira em torno de R$ 200 mil.
“Ele sempre foi super certo comigo, nunca descumpriu nada. Andaram falando que eu sou laranja dele, mas é mais fácil ele ser meu laranja do que eu dele”, ironiza. “Eu não tiro nem um real por fora.”
Antes das eleições, o advogado tinha planejado passar uma temporada de três meses na Europa ao lado de uma filha. A proximidade crescente com Marçal, no entanto, fez com que ele mudasse os seus planos.
“Me envolvi tanto na campanha que deixei de ir. Mas para mim não foi ‘ah, deixei de ir para a Europa’. Foi um grande prazer ter conhecido uma pessoa com uma visão totalmente diferente de tudo o que já vi na política brasileira”, afirma.
“Ele não tem nada desse negócio que a gente vê na rua. É um cara que realmente cuida da família. Não conheço ninguém que sabe mais partes da Bíblia de cor que ele. E, ao mesmo tempo, o cara me canta um rap no Roda Viva [da TV Cultura]. Ele realmente tem uma inteligência fora da curva”, completa.
Tostes ainda diz admirar o fato de que, ao longo da campanha, não viu Marçal prometer cargo político a ninguém de seu entorno, nem mesmo ao coordenador de seu plano de governo, Filipe Sabará, um dos principais integrantes da campanha. “Todo dia ele [Marçal] repetia: ‘Eu não garanti nada para ninguém’.”
O prefeito de São Paulo e candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB), rejeitou o apoio do influenciador após se classificar para o segundo turno das eleições. Dois dias depois, Marçal disse acreditar que o deputado Guilherme Boulos (PSOL) vencerá o pleito com a ajuda de cerca de metade de seus eleitores.
Tostes, porém, não leva a declaração a sério. “Eu acredito que, entre Boulos e Tiririca, o eleitor de Marçal vota no Tiririca”, ironiza.
O advogado afirma não saber qual será o voto do ex-coach no segundo turno, mas palpita que ele deve acabar votando em Nunes contra Boulos. “Ele não votaria nulo.”
Sobre as desavenças entre Marçal e o pastor Silas Malafaia, o aliado do ex-candidato do PRTB afirma que o líder religioso se sentiu ameaçado pela influência do ex-coach entre evangélicos. Os dois trocaram diversos ataques na reta final da campanha.
“O que a gente percebeu é que inúmeras igrejas apoiadas pelo Malafaia apoiaram o Pablo. Ele [Malafaia] não tem o apoio político que ele acha que tem. É um cara que vai estar sempre falando, buscando visibilidade.”
com BIANKA VIEIRA, KARINA MATIAS e MANOELLA SMITH