A economia brasileira pode até ter crescimento pouquinho maior e passageiro, de curto prazo, caso Donald Trump vença e implemente o grosso do seu plano econômico. É o que se depreende de estudo publicado em setembro pelo Peterson Institute for International Economics, de Warwick McKibbin e colegas.
Os Estados Unidos seriam o país mais prejudicado, além de China, México e Canadá, consideradas as economias do G20, blocos regionais e o grupo do “resto do mundo”, no que diz respeito ao PIB (Produto Interno Bruto). Beneficiados maiores: Turquia e Rússia.
O trabalho leva em conta apenas três aspectos do plano confusamente declarado de Trump
- Deportação de milhões de trabalhadores imigrantes em situação ilegal
- Alta de dez pontos percentuais do imposto sobre importação (“tarifas”) sobre produtos de todos os parceiros comerciais; de 60 pontos, no caso da China
- Diminuição da independência do Fed, o Banco Central americano
Como se nota, não trata do efeito de um enorme aumento de déficit e dívida do governo americano, que seria o resultado provável da política fiscal trumpiana.
Além de PIB, estimam-se consequências para consumo, investimento, juros e câmbio, por meio de um grande modelo macroeconômico, com suas insuficiências habituais de teoria e dados, entre outras. Há, como inevitável, pressupostos esquemáticos e limitações como a quase impossibilidade de prever reações políticas domésticas e internas.
Isto posto, o estudo é interessante, útil e tem um link para dados e resultados. De resto, as estimativas são compatíveis com as de trabalhos similares, de outros centros de pesquisa e de bancões globais.
A primeira dúvida óbvia é saber se Trump ladra mais do que vai morder, caso vença (por inépcia ou outro motivo, ficou longe de fazer o que prometia, em economia). A segunda é o controle do Congresso. A terceira é a reação política, no resto do Partido Republicano, entre outros apoiadores de Trump de outros grupos sociais e econômicos prejudicados.
Uma deportação em massa afetaria diretamente mais a agropecuária (com quase 15% de mão de obra ilegal) e indústria de bens de consumo (quase 6% de ilegais) —para apenas dar um pequeno aperitivo do problema.
Quem se dispôs a estimar o efeito da “trumponomics” nos EUA aponta crescimento menor do PIB, mais inflação e juros, falta de mão de obra, déficit maior e dívida sem controle, fim de programas de transição ecológica e, ao menos, grande incerteza jurídica e política. Trump quer o poder de processar e demitir servidores de carreira recalcitrantes e intervir em agências, até no Fed, por exemplo.
Caso Trump vá às vias de fato, as tarifas de importação iriam ao maior nível desde os anos 1930, quando medida semelhante piorou a Grande Depressão, causou guerra comercial e aprofundou a crise política internacional. O Brasil ou alguém ganharia com isso? Não.
O aumento descontrolado da dívida pública, ainda maior sob Trump 2 (embora crescesse também sob Kamala Harris) é tema maior, que vem desde a crise de 2008 (a parcela da dívida no PIB passou de 35,2% em 2007 para os 97,3% de 2023).
Essa degradação pode mudar a estrutura da finança mundial, contribuir para a desconfiança do dólar, elevar de modo duradouro as taxas de juros no mundo ou causar crises súbitas, dramáticas. É assunto para a próxima coluna.
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