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Venezuela convoca embaixador e chama Amorim de men…

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Marcela Rahal

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A Venezuela convocou nesta quarta-feira, 30, o embaixador em Brasília para retornar ao país. Na linguagem diplomática isso significa um gesto de desagrado. O próximo passo seria retirar a representação do país. A medida é uma retaliação ao veto feito pelo Brasil a entrada da Venezeula no Brics. Além disso, em nota, o governo venezuelano manifestou rejeição às falas do assessor especial da Presidência Celso Amorim tratado como “mensageiro do imperialismo” no comunicado.

Em audiência pública na Comissão de Relações Exteriores da Câmara, nesta terça-feira, Amorim disse que há um mal-estar entre os países causado pelo veto. Mas defendeu a manutenção da interlocução com o país vizinho. A decisão do governo brasileiro em vetar o país vizinho se dá em meio a situação eleitoral do país que reelegeu Nicolás Maduro em uma eleição controversa, sem provas e contestada pela oposição e por vários países. O governo da Venezuela afirmou ainda que tomará as medidas necessárias contra o Brasil.

O ministro da Casa Civil, Rui Costa, afirmou, nesta quarta-feira, que o governo federal fará os “ajustes necessários” para cumprir o arcabouço fiscal. A fala ocorre em meio à intensificação da pressão por corte dos gastos públicos. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pontuou que houve convergência com a Casa Civil para elaboração de medidas para controle de despesas públicas e que ainda será necessário aprovar uma proposta de emenda constitucional. Acompanhe o Giro VEJA. 



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Disputas no PT e em outras siglas de esquerda amea…

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Disputas no PT e em outras siglas de esquerda amea...

José Benedito da Silva

O clima no PT ainda era de certa empolgação com a ida de sua presidente, Gleisi Hoffmann, para a coordenação política do governo quando uma “bomba caseira” espalhou focos de incêndio por todo lado. Lideranças petistas ficaram sabendo que, na quinta 6, um grupo da corrente majoritária Construindo um Novo Brasil (CNB) convidou Lula para um encontro na casa de Gleisi em Brasília, onde destilou críticas a Edinho Silva, ex-prefeito de Araraquara e candidato preferido do presidente para governar a sigla a partir da eleição de julho. Na ocasião, a turma do CNB disse que ele não tinha a maioria e que, se fosse candidato, seria derrotado. Edinho reagiu dizendo que o líder histórico do petismo havia sido “usado”. “Lula vai para uma reunião para que a gente possa construir unidade e ela é vazada para a imprensa como instrumento de luta interna. Nós não podemos aceitar. Eu estou muito indignado”, afirmou.

BOMBEIRO - Humberto Costa: dirigente interino apela à unidade do partido (Andressa Anholete/Ag. Senado)

O episódio expôs ao público externo o que já se sabia nos corredores da legenda: o partido está rachado. Nos dias que se sucederam, a movimentação foi toda no sentido de evitar que essa impressão prosperasse. “Estamos em um momento crítico, onde a consistência e a unidade partidária são mais importantes do que nunca”, escreveu no site oficial da legenda o senador Humberto Costa (PT-PE), presidente interino da sigla até a realização do processo eleitoral. Na terça 11, durante a sua concorrida festa de aniversário de 79 anos em Brasília, o ex-­presidente do PT José Dirceu, que cada vez mais volta a ser uma voz influente na legenda, foi na mesma linha. “A tarefa tão ou mais importante que governar é nossos partidos começarem a buscar unidade entre eles. Precisamos estar todos juntos”, disse.

Que a disputa interna na maior sigla brasileira de esquerda existe, ninguém nega, mas a motivação ainda é um grande tabu. Uma justificativa é ideológica: a suspeita de que Edinho poderia levar o partido mais ao centro, o que sempre provoca algum tipo de desconforto interno. Não são de agora as críticas direcionadas ao ex-prefeito. O discurso da ala de Gleisi é de que Edinho representa valores contrários ao “petismo raiz”, com acenos ao centro e ao mercado financeiro. Um dos suspeitos de ter “vazado” o que houve na reunião é o vice-presidente da sigla, Washington Quaquá, prefeito de Maricá (RJ), que se opõe abertamente ao ex-prefeito de Araraquara, que ele considera “um perfil de voo baixo”, que não conseguiu fazer um sucessor na cidade em 2024 e que é “mais um funcionário da Paulista do que um militante do partido”. Até mesmo o fato de ele ter ido recentemente a uma reunião organizada por Marta Suplicy na qual estava o ex-ministro Antonio Palocci, que caiu em desgraça na sigla, é apontado por ele como um ponto negativo para Edinho. “Pregar a conciliação é uma coisa, não ter norte na política é outra. O PT ensinou ao país, durante o período em que Dirceu estava na articulação, que é um partido de esquerda, mas que sabe governar com o centro. Não abre mão dos ideários centrais, mas modera posições. Se o Edinho for candidato, eu sou também”, disse Quaquá.

SORRISO AMARELO - Edinho na posse de Gleisi: tentativa de aliviar saia justa
SORRISO AMARELO - Edinho na posse de Gleisi: tentativa de aliviar saia justa (Reprodução/Instagram)
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O perfil “ideológico” de Edinho não é a única justificativa. Mais ainda à boca pequena, há um bom número de petistas que não vê no racha nenhuma grande motivação política, mas apenas briga por espaços de poder e, principalmente, dinheiro. Um dos pontos centrais da disputa é quem vai assumir a tesouraria do partido, que só em 2024 recebeu 629 milhões de reais do Fundo Eleitoral, o segundo maior entre todas as legendas, atrás do PL. Edinho já anunciou publicamente que pretende trocar a tesoureira da sigla, Gleide Andrade, aliada de Gleisi e que foi uma das participantes mais vocais contra Edinho na reunião com Lula. Pouco conhecida fora da legenda, mas influente na burocracia petista, Gleide quer ser candidata a deputada federal por Minas Gerais em 2026. Nenhum cacique admite a tensão em torno desse ponto, até porque não fica bem dizer que se briga por dinheiro. “Essa história de que a Gleide está querendo continuar no cargo, que não aceita sair, isso é totalmente equivocado. O que a corrente definir, ela vai aceitar”, diz Humberto Costa.

O mesmo presidente interino admitiu, no entanto, que “o fogo está muito alto” no PT. “Houve uma ebulição muito grande, um tanto desnecessária, mas já foram feitos alguns movimentos no sentido de tentar abaixar essa temperatura”, disse a VEJA. O dirigente nega que tenha havido um movimento contra Edinho, embora reconheça que foram apontadas ressalvas a ele no encontro com Lula. “Foram feitas considerações sobre a candidatura do Edinho, mas em nenhum momento houve veto ou tentativa de rifar a candidatura dele”, diz Costa. Um dia após criticar duramente os adversários, durante encontro com petistas da região de Ribeirão Preto (SP), Edinho foi a Brasília para a posse de Gleisi como ministra da Secretaria de Relações Institucionais. Fez foto com a rival, sorriram e marcaram uma conversa para aparar as arestas. “Eu quero ser o candidato da presidenta Gleisi. Estive com ela nas duas vezes em que foi candidata. Mas também vou respeitar se eu não for, porque acho que é assim que tem que ser um partido”, afirmou ele antes de ir a Brasília.

VAI OU NÃO? - Boulos: especulação sobre sua ida para ministério acentuou racha no PSOL sobre apoio ao governo
VAI OU NÃO? - Boulos: especulação sobre sua ida para ministério acentuou racha no PSOL sobre apoio ao governo (Ian Maenfeld/Fotoarena/Agência O Globo/.)
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Se a motivação para o racha não fica tão explícita, também é difícil dizer quem seria o candidato a enfrentar Edinho. Humberto Costa já disse que não topa. O ex-presidente Rui Falcão, que é respeitado por Lula e no partido, é uma possibilidade, mas não admite publicamente ir para a disputa. O nome de Jilmar Tatto, deputado e secretário de Comunicação da legenda, também é citado, assim como o de seu colega de Câmara, José Guimarães, hoje líder do governo Lula na Casa. O único nome que parece que irá para a disputa é o de Romênio Pereira, fundador do PT — ele tem atuação destacada na área internacional da legenda, mas pertence ao Movimento PT, com inclinação mais à esquerda e de pouca representatividade interna.

Uma das preocupações mais urgentes dos dirigentes petistas é tentar passar a imagem de que o partido chegará unido a 2026. Na festa de seu aniversário, José Dirceu disse mais de uma vez que era necessário ampliar a aliança em torno de Lula com todas as forças democráticas do país, inclusive aquelas que estão à direita do espectro político, e alertou para o risco de derrota para o bolsonarismo. A grande questão, portanto, é como defender uma grande frente para 2026 se o próprio PT mostrar que está desunido. Humberto Costa destaca ainda a necessidade de o petismo escolher em julho também o norte do partido. “Agora, é fazer a discussão não somente sobre a candidatura a presidente nacional, mas também sobre programa, projeto, estratégia nossa, para a eleição do ano que vem”, defende.

CACIQUE A MENOS - Marina e Randolfe: senador saiu da Rede fazendo críticas
CACIQUE A MENOS - Marina e Randolfe: senador saiu da Rede fazendo críticas (Geraldo Magela/Ag. Senado)
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Quando Lula conquistou o direito ao seu terceiro mandato, a esquerda acreditou que poderia viver um período de glória. Mas isso não ocorreu. A crise não é exclusiva do PT. O PSOL, que pela primeira vez não teve candidato a presidente para apoiar Lula em 2022, está rachado desde então sobre o quanto deve ser governo. Em 2023, aprovou resolução que proíbe aceitar cargos sob Lula, mas abriu exceção para Sonia Guajajara, por conta do ineditismo do Ministério dos Povos Indígenas. Agora, o clima interno voltou a ferver com a especulação de que o deputado Guilherme Boulos pode virar ministro da Secretaria-Geral da Presidência no lugar de Márcio Macêdo. Uma ala expressiva de líderes, como os deputados Glauber Braga (RJ), Sâmia Bomfim (SP) e Fernanda Melchionna (RS), é contra. A relação complicada do PSOL com o governo também se manifesta na Câmara, onde o partido já se posicionou contra propostas da reforma tributária, do arcabouço fiscal e do corte de gastos. A Rede Sustentabilidade, outra legenda com assento no governo, vai renovar a direção em abril dividida entre o grupo da ministra Marina Silva (Meio Ambiente), pró-governo, e o da ex-­senadora Heloísa Helena, contra. Outro cacique da sigla, o senador Randolfe Rodrigues, deixou a Rede por não concordar com a posição de Marina e do Ibama em relação à exploração de petróleo na Amazônia.

arte esquerda

O barulho cada vez maior no PT, no entanto, preocupa muito mais do que essas rinhas em partidos menores. Se Lula quiser disputar a reeleição em 2026, a legenda deverá estar unida em torno de seu nome e de seu projeto, até como forma de dar alguma segurança aos aliados que estejam interessados em entrar na barca lulista. Por isso, do mesmo modo que o incêndio se espalhou rapidamente, cresceu nos últimos dias a movimentação de bombeiros. Lula sempre gostou de centralizar poder, tanto no governo quanto na legenda. Terá agora os desafios de pacificar o PT, montar o palanque para a campanha de reeleição e recuperar a tempo a popularidade perdida. Não é pouco trabalho.

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Com reportagem de Ricardo Ferraz

Publicado em VEJA de 14 de março de 2025, edição nº 2935



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O contraponto que fez o chanceler do Suriname ser…

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O contraponto que fez o chanceler do Suriname ser...

Marcela Rahal

Durante a gestão do secretário-geral da Organização dos Estados Americanos, Luis Almagro, a OEA acabou perdendo relevância no cenário internacional na busca por soluções de conflitos regionais. Muito se deve, segundo a secretária-geral do Itamaraty, Maria Laura da Rocha, por “seletividade política” e “lógica da exclusão” na condução da instituição.

A fala feita na última segunda-feira, 10, após a eleição unânime do chanceler do Suriname, Albert Ramdin, como novo secretário-geral, corrobora com visões de outros integrantes da diplomacia brasileira. Segundo um diplomata, a votação por aclamação foi resultado de um diálogo que buscou o multilateralismo, diferentemente de Almagro que tornou públicas as suas convicções pessoais em diversos conflitos, em detrimento da Organização. “Ele fez campanha para ser secretário-geral de todos, enquanto o outro [Almagro] parecia querer ser SG do presidente americano Donald Trump”, sintetizou.

Além disso, o candidato do Suriname tinha um outro ponto importante que foi reconhecido e apoiado pelo Brasil: o Caribe nunca teve um representante no comando da Organização desde a criação, em 1948.

Ramdin assume no dia 25 de maio com o importante desafio de fazer a OEA voltar a ter mais protagonismo na ajuda de conflitos regionais, em meio à política agressiva, expansionista e protecionista do presidente americano Donald Trump.



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O que realmente importa | VEJA

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O que realmente importa | VEJA

Arthur Pirino

“A desigualdade mata”, leio em um desses artigos de “combate”, que fazem a festa do ativismo político, baseado em um “relatório” sobre a desigualdade global. Dados impressionistas sobre disparidades econômicas, imagens dos bilionários da lista da Forbes e a sugestão de que é “deles” a culpa pelas nossas desgraças. Tudo se passa como se houvesse um estoque fixo de riqueza no planeta. Algo como bolinhas de gude em um pote. Se alguma criança pega bolinhas demais, sobram menos para os amiguinhos. A retórica é perfeitamente falsa. Sergey Brin, do Google, ficou rico não porque capturou algum dinheiro dos demais, agarrado ao Estado, mas porque as pessoas, por seu próprio juízo, melhoram a vida usando seus buscadores de informação. Vale o mesmo para os compradores de livros na Amazon (eu, por exemplo), os usuários do Whats­App, de Zuckerberg, os agricultores que usam a Starlink, de Elon Musk. Do outro lado do mundo, 200 000 pessoas são internadas, todos os anos, no Brasil, por falta de saneamento básico. E isso não porque o saneamento funciona bem em Maringá ou Uberlândia. Ou porque Bill Gates tem uma mansão com 24 banheiros. O sofrimento não deriva da diferença entre quem vive sob más condições e quem tem um bom serviço, mas dos erros de políticas públicas. Do atraso do modelo estatal e da falta de investimento ao longo dos anos. É disso que seria vital tratar, se houvesse uma preocupação real com a vida dessas pessoas.

Ainda agora li uma teoria estranhíssima sobre o tema. O “limitarismo”, da filósofa holandesa Ingrid Robeyns. A teoria diz que é preciso pôr um teto na riqueza que cada um pode ter. Nossa cantora Anitta já havia sugerido algo assim. E arriscado até um valor: 1 bilhão de dólares. À época, me perguntei o que a pessoa deveria fazer quando sua grana chegasse a esse patamar. Doar o dinheiro e ir morar na Praia da Pipa? Continuar trabalhando por esporte? Por que os incentivos de mercado deveriam valer até o ponto “X”, para logo depois serem jogados pela janela? Seus argumentos me soaram frágeis. Um deles diz que “ninguém precisa de tanto dinheiro assim”. Sob certo aspecto, é verdade. Musk costuma dormir num colchão em suas empresas. Alguns vivem melhor, é verdade. O ponto é que grandes empreendedores usam seu capital para investir, criar negócios, fazer filantropia (sugiro pesquisar The Giving Pledge). Não porque “precisam”, em algum sentido popularesco. Outro argumento diz que muitos ricos são perigosos porque podem usar o dinheiro para lobby político. É verdade. Mas isso depende de muito dinheiro? Os maiores lobbies no Congresso vêm das altas carreiras do setor público, contra o teto salarial; dos militares, contra reformar sua previdência; da Zona Franca de Manaus, para manter os incentivos; dos sindicatos e agregados da educação estatal, mantendo o monopólio. É sobre isso que deveríamos perguntar: a riqueza foi ganha em um ambiente aberto, no mercado, ou via pressão, no mundo político?

Para ter uma boa pista sobre como a economia está longe de ser um jogo de soma zero, vale observar o que se passou com os dois maiores casos de redução da pobreza nos últimos quarenta anos: China e Índia. A China reduziu a pobreza extrema virtualmente a zero, depois que se livrou do maoismo e fez sua guinada para o mercado. A Índia foi de metade da população na extrema pobreza, no início dos anos 90, para menos de 1%, por agora. E aqui vem o detalhe: foram os dois países com maior crescimento de bilionários nesse mesmo período. Enquanto a miséria despencava, os bilionários chineses foram de nenhum a 408; os indianos, de 3 para 209, no ano passado. Não passa de um mito a ideia de que exista alguma contradição entre a geração de riqueza, de um lado, e a redução da pobreza, de outro. Ao contrário: são dois lados do mesmíssimo fenômeno de abertura e dinamização da economia.

“Geração de riqueza e redução da pobreza andam juntas”

O filósofo austríaco Helmut Schoeck escreveu um livro provocativo, ainda nos anos 60 (e hoje um tanto esquecido), tentando entender (entre muitas coisas) de onde vem o “ódio aos mais ricos”. O título da obra: A Inveja: uma Teoria da Sociedade. Ele vê a inveja tanto como uma força positiva como negativa em nossa vida. O lado positivo surge quando ela é “domesticada”, no mercado. Do sujeito que diz: “Vou mostrar a eles do que sou capaz”, e age dentro da regra, trabalhando duro. Quando mal direcionada, é força destruidora. Se torna Salieri, o bom músico, ainda que não genial, e sua relação tóxica com Mozart. Ou quem sabe um bocado de gente gastando energia em odiar empreendedores globais, em vez de se preocupar com o que realmente pode fazer a diferença na vida dos mais pobres.

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A melhor resposta a esse dilema foi dada por um tranquilo professor de Harvard, John Rawls. Sua tese: em vez de combater a desigualdade, por si só, por que não fazer com que ela funcione em benefício dos que estão na pior? Ele nos pede para imaginar a seguinte situação: estamos reunidos para escolher as regras de justiça na sociedade. Temos muitas opções. Renda mínima? Mais ou menos desigualdade? Limitarismo? Livre mercado? Detalhe: ninguém sabe o lugar que vai ocupar nesta mesma sociedade. O que cada um escolheria: a sociedade “A”, mais igualitária, mas onde os mais pobres, vamos supor, ganham em média 1 000 reais? Ou a sociedade “B”, mais desigual (vamos imaginar: com Musk e Bezos na vizinhança), mas onde os mais pobres têm uma condição duas vezes melhor? Ou quem sabe: viver na China mais pobre e igual, por volta de 1980? Ou na China fortemente desigual, mas virtualmente sem pobreza, em 2025? Resumo da ópera: apenas a inveja, ou ao menos seu lado sombrio, identificado por Schoeck, faria com que as pessoas escolhessem a sociedade “A”. Uma escolha coletivamente irracional. O ponto não é que não seja natural ambicionar a posição dos outros. O ponto é que usar esse sentimento como parâmetro para as escolhas sociais fará com que todos se tornem perdedores. Algo como: “Eu aceito perder, desde que os outros percam mais do que eu”. O que nunca fez nem fará o menor sentido.

O melhor é mudar o foco. Em vez de gastarmos tempo e energia esbravejando com os resultados de Larry Page, no Google, ou de Larry Ellison, na Oracle, deveríamos nos preocupar com o que realmente importa. Se o ponto é universalizar o saneamento, por exemplo, por que não dar segurança para atrair investimento e fazer uma boa modelagem, com metas e bons contratos? Coisas que já se faz em muitos lugares, que avançaram com uma boa política, como o marco do saneamento. E que rigorosamente nada têm a ver com o valor das ações da Tesla ou da Amazon. É previsível que coisas como segurança jurídica, incentivos e investimento não sejam propriamente excitantes. São temas “a favor”, e não “contra”. Não polarizam, não geram likes e são impróprios para a guerra política, como é o tema da “desigualdade”. E quem sabe exatamente aí resida o problema sobre o qual valeria pensar.

Fernando Schüler é cientista político e professor do Insper

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Publicado em VEJA de 14 de março de 2025, edição nº 2935



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