Críticos da polarização mundial argumentam que na verdade o mundo está é mais politizado.
Se for verdade, trata-se de politização por radicalização sem sentido.
Transformar a escolha de Rodri como demonstração de racismo é exemplar.
Se Vinicius Junior é o melhor atacante do mundo e se Rodri é o melhor meio-campista do mundo, como deve votar aquele que prefere o arco à flecha?
Doutor Sócrates gostava mais de Paulo Henrique Ganso do que de Neymar Júnior assim que ambos despontaram no Santos. Preferia Silas a Müller também, quando surgiram nos chamados Menudos do São Paulo.
Há quem prefira Magic Paula à Rainha Hortência e Marcel a Oscar, apenas como exemplos em outro esporte, o basquete, mas com o mesmo conceito.
Já se disse sobre os limites da escolha do melhor individualmente em esportes coletivos, mas o ser humano adora comparações e nada mudará o hábito de escolher os melhores e os piores.
O Rei Pelé está acima de todos, mas vá dizer isso na Argentina.
Mané Garrincha, no auge, superou Diego Maradona e Lionel Messi, mas só no Brasil se pode dizer sem ser tratado como herege, embora vá ser como patrioteiro.
O cidadão Vinicius Junior é muito mais útil para a sociedade em sua corajosa luta contra o preconceito racial do que Rodri, que é chegado à extrema direita espanhola.
A escolha do Bola de Ouro, porém, é esportiva, não política.
É claro que esporte e política se misturam. E então cabe dizer que também a escolha foi política?
Em tese, sim. Mas com cem votantes pelo mundo afora? E com eleitores já dando as caras indignados por serem acusados de racismo ao não escolherem Vini como vencedor?
Inevitável aqui usar a primeira pessoa: eu teria votado em Rodri e acionarei na Justiça alguém que cometer a infâmia de acusar como racista a minha preferência.
Assim como considero Roberto Rivellino o melhor jogador da história do Corinthians e gostaria de considerar Sócrates como tal, a escolha aqui é estritamente futebolística.
Como entre brancos, esgota-se na questão do gosto de cada um. Paula x Hortência e Marcel x Oscar também.
Mas nos dias de hoje a imprescindível luta antirracista exagera ao ver na escolha do espanhol o preconceito contra o brasileiro.
Neymar no Barcelona foi melhor do que é Vini no Real Madrid?
Sim, foi, e tudo bem, os dois são negros.
Tudo bem preferir Stephen Curry a LeBron James?
Tudo, porque também ambos são negros.
Mas se eu preferir, como prefiro, Tostāo a Jairzinho, será pelo racismo estrutural?
Acreditem a rara leitora e o raro leitor que houve rompimentos em grupos progressistas no WhatsApp por causa da Bola de Ouro. Houve até quem escrevesse não discutir com brancos sobre a questão.
Ora, minimizar a dor de quem sofre racismo, ou imaginar ser capaz de se colocar no lugar e ter a mesma autoridade para tratar do tema, equivale a falar da dor do parto sem nunca tê-la sentido.
Transformar a eleição do melhor jogador da temporada em batalha racial não ajuda na luta contra o preconceito e a prova disso está em como os racistas estão comemorando a vitória de Rodri.
Há racistas entre os 99 eleitores estrangeiros? Certamente.
Como haveria entre cem apenas brasileiros.
Torci por Vini e não votaria nele. Dá para entender?
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